sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Presidente da Funai de Bolsonaro é investigado porque teria dado soco no rosto do próprio pai


By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: BBC BRASIL Imagem: Divulgação

Dias atrás, reportagem da BBC News Brasil mostrou que o novo presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Augusto Xavier da Silva, foi rejeitado na avaliação psicológica de um dos concursos que prestou para a Polícia Federal. Seus examinadores consideraram que a personalidade de Marcelo não era adequada ao cargo - policiais não podem ser pessoas excessivamente agressivas ou impulsivas, segundo um profissional que organiza estas avaliações.
Agora, mais informações sobre o passado do presidente da Funai escolhido por Jair Bolsonaro surgiram. Em janeiro deste ano, o atual presidente da Funai teria dado um soco no rosto do próprio pai, de 71 anos, segundo ele próprio registrou em boletim de ocorrência. O fato está sendo investigado pela Polícia Civil de Mato Grosso.
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O pai do presidente da Funai registrou a suposta agressão na delegacia Novo São Joaquim (MT), e disse à BBC News Brasil que quer que seu filho seja investigado pelo que ele relata ter ocorrido.
Marcelo Augusto Xavier da Silva, 42 anos, é delegado da Polícia Federal. Ele entrou para a PF em 2008, depois de prestar dois concursos públicos. No primeiro, foi rejeitado na avaliação psicológica - mas passou no segundo. Quando era delegado, teve sua atuação contestada em duas investigações internas da corporação, e também foi afastado de uma operação de expulsão de invasores de uma terra indígena, por suspeitas de estar colaborando com os intrusos.
Ele tomou posse como presidente da Funai no fim de julho.
As investigações internas se devem ao fato de Marcelo ter instaurado um inquérito para investigar um desafeto - ex-marido de sua mulher à época - e por ter agredido verbalmente um procurador da República.
Depois de revelar estes fatos, a reportagem da BBC News Brasil foi procurada por pessoas que conheceram Marcelo e que repassaram as informações sobre a investigação.
Em janeiro deste ano, Marcelo Augusto Xavier chegou a ser nomeado para trabalhar como assessor do pecuarista e secretário de assuntos fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia. Mas, como não foi cedido a tempo pela Polícia Federal, teve a sua nomeação anulada em abril, segundo contou o próprio Nabhan à BBC News Brasil.
No governo de Michel Temer (MDB), Marcelo foi assessor do ex-ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) para assuntos ligados à questão agrária. Antes disso, foi ouvidor da Funai durante alguns meses, também na gestão Temer.
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Antes ainda, trabalhou como assessor da comissão parlamentar de inquérito (CPI) da Funai e do Incra na Câmara, a convite de deputados da bancada do agronegócio. O relatório final da CPI pediu o indiciamento de antropólogos, indígenas, servidores públicos da Funai e de integrantes de ONGs.
Para as ONGs indigenistas, a ida de Marcelo para a presidência da Fundação é parte da estratégia do governo para tentar impedir novas demarcações de terras e desarticular a proteção aos direitos dos índios - o que o governo nega.
Em nota oficial da Funai, Marcelo Xavier disse que sua gestão terá por objetivo melhorar as "condições de vida" dos indígenas e "dar autonomia aos seus povos".
"O modelo até então desempenhado (na Funai) não vinha sendo efetivo. Logo, serão bem-vindas sugestões que possam contribuir com as comunidades, e o quadro de servidores do órgão é imprescindível para isso. Seguindo a legalidade, precisamos focar em garantias de dignidade aos povos indígenas e na melhor aplicação dos recursos públicos", disse na nota oficial da fundação.
Marcelo Augusto Xavier da Silva é técnico em Agropecuária e bacharel em Direito por uma universidade privada de São Paulo. Também concluiu uma pós-graduação em ciências criminais na Universidade Anhanguera Uniderp, de Mato Grosso do Sul.
'Enfia a fazenda no c*'
No dia 4 de janeiro deste ano, Marcelo teria brigado com o próprio pai - de 71 anos de idade - e a mulher dele, de 60.
A discussão aconteceu durante um encontro na casa de um amigo deles no distrito de Cachoeira da Fumaça, parte do município de Novo São Joaquim (MT), a 220 km da capital Cuiabá, segundo o relato do pai.
"Sem motivo aparente seu filho / suspeito, Marcelo Augusto Xavier da Silva, começou uma discussão com o mesmo (o pai) e proferiu ameaças e xingamentos do tipo 'Cuidado quando o senhor vier para a fazenda, enfia a fazenda no c*, põe seu dinheiro no c*'", descreve o boletim de ocorrência registrado pelo pai de Marcelo, Milton Xavier da Silva, três dias depois da suposta agressão.
"Em seguida, o suspeito (Marcelo) desferiu um soco contra a vítima (Milton) vindo a pegar de raspão no seu rosto. O fato foi presenciado por várias pessoas que serão indicadas em declaração. A esposa da vítima a senhora, Solange Cristina, presenciou todo o ocorrido e também foi ameaçada e xingada", continua a descrição do B.O.
A fazenda do pai de Marcelo se chama São Pedro, e se dedica à criação de gado e ao cultivo de soja e milho. Fica a poucos quilômetros do local confusão, às margens de uma estrada de terra, a MT-415.
A acusação foi registrado pela Polícia Civil de Mato Grosso como lesão corporal e ameaça. As informações do boletim de ocorrência foram confirmadas à BBC News Brasil pela assessoria de comunicação da Polícia Civil de Mato Grosso e pelo pai de Marcelo, em conversa por telefone.
À reportagem, o pai Milton Xavier confirmou o relato do B.O, mas disse que não daria mais informações. "Eu não vou dar detalhes. É uma coisa muito íntima". "Aconteceu (a agressão), você pode, na delegacia, pegar a cópia do B.O", disse ele. "Eu quero que continue andando (a investigação)". Milton disse que, até agora, não teve notícias de que a Polícia Civil de Mato Grosso tenha ouvido outras pessoas para apurar o ocorrido.
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Por meio da assessoria de imprensa da Funai, Marcelo Augusto Xavier disse que não comentaria nem este caso, e que a investigação teria sido arquivada pela Justiça "por falta de provas".
Mas não é o que diz a Polícia Civil de Mato Grosso.
Em nota à BBC News Brasil, a Polícia Civil matogrossense disse que o fato está sendo apurado na delegacia de Novo São Joaquim. Neste momento, "o procedimento aguarda oitivas de testemunhas, via carta precatória, que moram em São Paulo", diz o texto.
A carta precatória é um instrumento usado pela Justiça ou por investigadores quando é preciso ouvir pessoas ou coletar evidências em outro Estado.
Mudanças na Funai
As declarações de Bolsonaro contra a demarcação de terras indígenas começaram bem antes da campanha eleitoral de 2018 - e continuaram depois que ele assumiu a Presidência da República.
Apesar disso, a Constituição de 1988 garante aos índios o direito de manter sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições - e também os direitos sobre as terras em que sempre viveram. É papel da União demarcar essas terras e protegê-las, segundo a Constituição (Art. 231).
Dias atrás, o presidente da República disse que indígenas da etnia Waiãpi (ou Wajãpi), do Amapá, estavam sendo usados de "massa de manobra", e questionou o possível assassinato de um líder indígena. Os Waiãpis relataram a invasão de seu território por garimpeiros ilegais, no fim de julho. MATÉRIA COMPLETA.


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