By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
“Estou bolando umas coisas aqui. Conseguir estar lá, acho que não vou conseguir. Mas pelo menos na hora do almoço a gente canta um parabéns juntas por vídeo, alguma coisa assim. Eu quero muito”, diz Marina.
Desde o reencontro, no último dia 28, as duas não ficaram um dia sequer sem se falar. Quando acordam, já ligam por vídeo uma para a outra.
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O
papo dura horas. Depois, a troca de mensagens vai até a noite. Nas redes
sociais, fotos com mensagens de carinho entre elas também são
frequentes.“Era o meu sonho. Eu cresci a minha vida inteira sonhando, imaginando eu brincando com ela. A vida inteira eu tenho esse amor por ela”, afirma Suelene.
A separação
Para começar a montar esse quebra-cabeça é preciso voltar a julho de
1990. Na pacata Goiatins, localizada ao norte de Tocantins, uma jovem
mãe de 15 anos deu à luz a duas crianças. De família humilde e sem
condições de cuidar das filhas, a opção que surgiu foi doá-las.
Marina, que era para se chamar Suely de acordo com um bilhete deixado
pela mãe ao entregar a recém-nascida , foi a primeira a ser adotada. Ela
foi levada para o rancho de um casal, em Formoso do Araguaia (TO), ao
sul do Estado.
Mas a mãe adotiva dela, dias depois, abandonou a menina, o marido e a
cidade. O homem, sozinho, não tinha condições de cuidar da criança.
Foi
quando surgiu o casal Pedro e Sônia Bertone, de Viradouro.
Pedro era dono de uma sorveteria na cidade paulista. Ele e mais três
irmãos decidiram vender o comércio e investir em terras. Quando chegou
com a esposa ao rancho em Formoso do Araguaia, foi morar ao lado da casa
onde Marina estava.
“Meu pai contava que quando ele chegou, eu estava sozinha numa rede e
tinha até uma poça de xixi embaixo, porque o outro homem não me trocava.
Eu ficava sozinha em casa enquanto ele ia para a roça”, explica Marina.
Ao ver a cena, Pedro quis conhecer a história da criança, que tinha 40
dias, e pediu para ficar com ela, já que ele e a esposa não podiam ter
filhos. Deu certo.
Até a morte do patriarca, em dezembro de 2002, a família morou em
Tocantins. Depois, mãe e filha voltaram para Viradouro. No interior
paulista, Marina cresceu, estudou, e formou-se em pedagogia e geografia.
Hoje, dá aulas para alunos do ensino fundamental e médio. Ela sempre
soube de toda sua história.
“Uma das formas que minha mãe sempre me contou que eu era filha adotiva é
assim. Oh, você tem três mães. Tem Nossa Senhora, que meus pais sempre
foram devotos, tem a mãe da barriga que fez você para mim, e tem eu, que
de mim você nasceu do coração. Então, na escola, eu ainda falava para
as outras crianças que elas tinham uma mãe eu tinha três. Eu sempre
cresci muito bem resolvida nessa parte”, brincou.
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Peça por peça
Suelene, no momento da separação, foi embora com uma família de
Goiatins para morar em um sítio a 60 quilômetros da cidade. Ficou lá até
completar 13 anos e mudou-se para Goiânia (GO). A história da adoção e
de que ela tinha uma irmã também nunca foi segredo para ela.
Já mais velha, em 2019, mudou-se para Senador Canedo, cidade a 24
quilômetros da capital goiana, onde mora com o marido, o filho e as duas
filhas, e decidiu fechar o quebra-cabeça de sua vida.
Em 2016, Suelene encontrou-se pessoalmente com a mãe biológica, após ser
procurada por ela. Ganhou uma foto. Era a única imagem dela e da irmã
gêmea juntas.
“Não tinha um dia que não olhava para essa foto. É o sonho de uma vida
inteira. Desde quando eu me entendo por gente, que eu sabia da minha
história, que meus pais adotivos conheciam a minha história, eu sonhava
em conhecer ela”, disse.
Só que para realizar esse sonho, Suelene tinha um longo caminho a
percorrer. Não sabia nada sobre a irmã. Preparou um dossiê sobre o que
tinha de sua história e buscou sites e comunidades na internet que auxiliam na procura por familiares.
Peça final
A administradora de uma das comunidades procurou Suelene e as duas
começaram a intensificar as buscas em maio deste ano. Um jornalista de
Goiatins teve interesse na história e relatou a procura em um jornal
local.
Enquanto isso, em Viradouro, Marina alimentava o desejo de saber mais
da irmã, mas tinha receio do que pudesse encontrar ao aprofundar na
história.
O reencontro
Em menos de 24 horas, o cerco se fechou para Marina. Para Suelene, era o
fim das buscas. No domingo pela manhã, ela recebeu uma ligação de vídeo
desse jornalista e da administradora da página que a auxiliava.
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“Eles ficaram me olhando com um sorriso e falaram que acharam minha
irmã. Nisso eu fiquei muda. Eu já não estava acreditando mais, eu já
tinha feito tanta coisa que eu coloquei na minha cabeça que não ia
acontecer”, afirma Suelene.
A ligação por vídeo reuniu Suelene, Marina e a mãe biológica delas, que hoje mora em Brasília (DF).
“Saiu um oi. Ficou todo mundo chorando. A minha mãe aqui, na hora,
disse ‘você é a cara da sua mãe’. A gente ficou três minutos e ninguém
falava nada. Só se olhando, chorando”, relata Marina.
As irmãs optaram por não fazer o exame de DNA para a comprovação da relação entre as duas.
Por enquanto, devido ao distanciamento social imposto pela pandemia do
novo coronavírus, Suelene e Marina só se encontram por vídeo. As duas
contam as horas para olhar nos olhos uma da outra.
Para quem esperou 29 anos anos, a distância de 554 quilômetros entre as
cidades, que pode ser percorrida em sete horas e meia de carro,
torna-se pequena.
“Por mim eu tinha ido até nessa pandemia, não vou mentir não. Nós já
programamos, meu noivo já estudou todos os caminhos para chegar até lá.
Já está tudo pronto para ir. Nós não fomos mesmo por medo. Eu tenho medo
de uma história feliz virar uma história triste. Mas, por mim, eu ia
passar esse aniversário de 30 anos ao ladinho dela”, relata Marina.
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