By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Paulo Henrique Sava (Rádio Najuá) – Imagem: Divulgação
A tradição do culto a São João Maria foi tema de uma palestra
realizada nesta quinta-feira, 07, no auditório do PDE da UNICENTRO. O
ministrante da palestra foi o Professor Dr. Paulo Pinheiro Machado, da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que falou sobre a
tradição do monge na região sul do Brasil e sobre os últimos estudos
existentes a respeito dele.
O território de
atuação e memória de São João Maria no Brasil concentra-se
principalmente nas regiões sudeste, centro-oeste e sul do país. Segundo
Machado, estudos recentes levam a um levantamento de várias
concentrações camponesas que aconteceram num período de 100 anos, mas
todas elas acabaram sendo dissolvidas com a ação da polícia e do
Exército em diferentes momentos.
João Maria passou por diversas províncias até chegar a Santa Maria
da Boca do Monte, cidade da região central do Rio Grande do Sul, onde
sinalizou algumas fontes de água e, em torno dele, criou-se uma
concentração.
Machado explicou sobre o
Canudinho de Lages; o Movimento dos Monges do Pinheirinho, em Encantado,
no Rio Grande do Sul, e principalmente sobre o movimento mais sangrento
de todos, que foi a Guerra do Contestado. Todos com o mesmo padrão de
formação de redutos com videntes, monges, quadros santos e uma série de
características que vinham de outras concentrações remanescentes.
Em
entrevista à Najuá, o professor explicou que a tradição do culto a São
João Maria é muito antiga. “Ela tem origem nas peregrinações do primeiro
João Maria, que era um religioso que não foi ordenado padre, mas
estudou no seminário, o italiano Giovanni Maria D’agostini, que andou
pelo Rio de Janeiro, São Paulo, desceu a estrada das tropas pelo Paraná,
foi até o Rio Grande do Sul, esteve também na Argentina e no Paraguai”,
explicou.
Segundo Machado, João Maria foi criando assim uma admiração por
parte da população cabocla por causa de seus conselhos, pela sua visão
de mundo e pela sua relação com a natureza. “Entre elas, aquilo que ele
divulgava, o respeito às fontes de água, que as pessoas deviam respeitar
as vertentes, evitar as queimadas, evitar os maus tratos aos animais.
João Maria tinha uma visão de que ‘planta é quase bicho, e bicho é quase
gente e que a vida é uma só, e que quem não sabe ler a natureza, é um
analfabeto de Deus’”, ponderou.
Para o
professor, esta visão de João Maria impunha limites à própria exploração
da natureza. “Ele dizia que ‘não se deve tirar o mel todo sem deixar
alguns favos para as abelhas’, ou seja, a noção é de que aquilo que a
gente tira da natureza tem que deixar uma parte para que ela se
recomponha”, frisou Machado.
Olho d'água de São João Maria
O
professor comenta que, por conta de sua vivência, São João Maria é
cultuado em diversas comunidades caboclas, indígenas, de imigrantes e de
várias origens étnicas e têm seus costumes ligados à tradição do monge.
As regiões norte do Rio Grande do Sul, Oeste, Meio-oeste e Planalto de
Santa Catarina, Sul e Sudoeste do Paraná são regiões de uma forte
presença da tradição do culto aos olhos d’água de São João Maria.
“Eles atribuem à passagem do monge a transformação destes locais em
territórios sagrados. Não somente estas águas são chamadas de santas,
mas nos locais por onde o monge passou foram colocadas cruzes”, frisou. O
professor conta que as cruzes colocadas em Santa Catarina são feitas de
cedro falquejado, ou seja, madeira de cedro que era enterrada e que
depois brotava. “Ela, brotando, formava uma nova árvore onde era uma
cruz, e isso tinha um sentido de renovação muito forte de vida ligada a
essa tradição de João Maria”, ressaltou.
Guerra do Contestado
Machado
comenta que João Maria não teve participação direta na Guerra do
Contestado (1912-1916), cedendo seu lugar para um curandeiro chamado
José Maria. “Quando esse curandeiro morreu no primeiro combate do Irani,
em outubro de 1912, a memória dele foi cada vez mais associada ao
primeiro monge, ao João Maria. Então, mesmo a população separando esses
dois indivíduos, acabou que a trajetória de José Maria foi cada vez mais
santificada e aproximada de João Maria, mas foram dois indivíduos
diferentes”, ressaltou.
Relatos
Algumas
pessoas comentam que conversaram com o próprio monge João Maria, e
afirmam também terem sido batizadas por ele. O professor afirmou que
conhece algumas destas pessoas. “O João Maria não é um único indivíduo, é
uma legenda. Existem hoje vários indivíduos que circulam pelo sul do
Brasil e que acabam assumindo essa identidade de João Maria”.
Machado
afirmou que esta proliferação de João Maria é um fenômeno religioso
muito complexo. “Não se trata de pessoas que estejam agindo de má fé,
são pessoas que se irmanam a uma tradição, que defendem determinados
princípios, não tiram vantagens pessoais em cima disso, porque João
Maria nunca vendeu seus serviços, mas são partes de uma tradição muito
grande e muito extensa geograficamente”, finalizou.
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