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INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1/PR – Imagem: DivulgaçãoCarolina Espindola, hoje com 50 anos, e José Giuliangeli de Castro, com 53, se viram apenas uma vez na vida. Foi em Londrina, no norte do Paraná. Meses depois, ele perdeu a visão após sofrer um acidente de carro.
A então estudante de psicologia da Universidade Estadual de Londrina
(UEL) tinha 20 anos - o ano era 1993. Nos corredores da faculdade, ela
admirava José - na época com 23 anos, estudante de fisioterapia -
cercado por amigos, como em uma cena de filme.
Um convite para verem uma peça de teatro foi o começo de uma história
de amor, superação e resiliência. Porém, no dia seguinte à primeira
"paquera", Carolina relata que José parou de responder às mensagens SMS.
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"Liguei a televisão e assisti à notícia de que um aluno de fisioterapia
da UEL havia sofrido um acidente e estava em estado grave no hospital.
Pensei: 'É o menino que conheci ontem no teatro."
Ao saber da notícia, Carolina imediatamente correu para o Hospital
Universitário de Londrina, onde ele estava internado. Ao chegar, recebeu
a informação de que José não corria risco de morte, mas poderia perder a
visão por estilhaços que atingiram os olhos dele.
Assim, mesmo tendo visto o jovem apenas uma vez, por três meses, visitou José todos os dias e o ajudou nos cuidados médicos.
José precisou fazer uma cirurgia em São Paulo e a família dele não
tinha condições de acompanhá-lo. Carolina novamente se prontificou a
ajudá-lo.
"Eu conversei com os meus pais se eu poderia acompanhar ele. Eles
deixaram e fui. Ficamos em São Paulo cerca de três meses na casa da avó
dele", contou Carolina.
Hoje José conta que, após o acidente, não acreditava que teria todo o apoio de Carolina.
"Quando aconteceu o acidente, eu jamais imaginava que em meio aquele
furacão eu viesse a ter a oportunidade de conhecer uma pessoa como a
Carolina. Estava preocupado com o meu futuro", relatou.
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"Tive que mudar completamente de vida e reaprender a viver, só que ao
lado de uma pessoa com deficiência visual. Ajudei ele a estudar,
aprender braille, para que terminasse a faculdade”, contou.
Carolina conta que, em 1994, foram ao Instituto dos Cegos onde aprendeu
a como ajudar José a retomar a vida diante dos novos desafios. "Foi
como nascer de novo e aprender do zero", diz ela.
Após alguns anos, a vida entre os dois foi adaptada pelo esforço e
resiliência até a formação acadêmica do casal. Depois, decidiram se
casar na igreja.
"A Carolina veio de fato para me dar o suporte necessário, tanto
naquele momento devido à minha visão e quanto à minha pessoa. Se foi uma
coincidência, foi uma coincidência boa", conta José.
Precocemente, Carolina descobriu um problema hormonal que a impedia de
ter filhos. Porém, a surpresa veio em 1995: ela estava grávida de
gêmeos.
"Não me cuidei certo. Eu acabei gerando os filhos com risco de vida",
disse. Entre idas e vindas para o tratamento da gravidez de risco,
Carolina ficou grávida do terceiro filho. Todos nasceram saudáveis.
A entrada de José para a política mudou os rumos do casal. Ele se candidatou a vereador em Rolândia,
cidade onde nasceu, no norte do Paraná. Na época, Carolina precisava
ajudá-lo indo junto em todos os lugares durante a campanha.
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As ausências de José pela vida dedicada à política e os problemas
hormonais que Carolina vinha tratando a fizeram decidir terminar o
relacionamento e voltar para Campinas.
"Tivemos alguns conflitos neste tempo. Ele viajava muito, para lugares
distantes, e estava me sentindo muito sozinha em casa. Ele começou a ter
uma independência, porque conseguia fazer tudo sozinho", relata
Carolina.
O relacionamento durou 9 anos, mas a amizade verdadeira e o respeito sempre existiram entre os dois.
“Não temos mágoa um com outro, muito pelo contrário, temos uma relação
amigável e sem preconceitos. Foi amor enquanto durou, por 9 anos. Mas
temos cabeça e maturidade para lidar com os problemas. A gente encara
dessa forma”, afirmou Carolina.
Hoje, ambos estão em outros relacionamentos, o que não enfraqueceu a
amizade. A proximidade com os filhos também se tornou uma peça
fundamental para a boa convivência.
"A amizade viva se traduz no que há mais de precioso na minha vida, que
são os meus filhos e minha filha. Esse fato de ter os filhos foi, de
fato, um grande fator de superação. Para mim, os pais da Carolina também
são meus pais. Eu os amo”, relatou José.
A psicóloga Rosana Ravelli Parre afirma que uma das fases mais difíceis
após o término de um relacionamento pode ser encarar a vida com a dor da
separação.
“É difícil deixar de sentir isso, mas precisamos tentar processar as
nossas frustrações, o vazio que fica devido às angústias que vivemos em
outras situações de perdas”, explica.
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De acordo com a psicóloga, muitas vezes o ser humano cria uma
dependência amorosa e acaba acreditando ser impossível viver longe da
pessoa amada.
“Sentimentos difíceis ficam para serem elaborados numa espécie de luto,
porque a separação entre pessoas que se gostavam é uma espécie de luto e
isso é bastante exigente para o nosso psiquismo”, explicou.
Rosana afirma que a maturidade é um ponto importante para aceitar e super a separação.
Histórias como a de José e Carolina mostram que há formas de manter uma
convivência saudável mesmo após o fim do relacionamento.
A trajetória do casal inspirou José a escrever um livro contando a história dele, especialmente a fase ter perdido a visão.
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