By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: PARANÁ PORTAL – Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom (Agência Brasil)
O deputado federal paranaense
licenciado Osmar Serraglio (PMDB-PR), atual ministro da Justiça do governo do
presidente Michel Temer (PMDB), é citado em grampos da investigação da Operação
Carne Fraca, deflagrada nesta sexta (17) pela Polícia Federal (PF). A operação
investiga o pagamento de propina a fiscais agropecuários e a venda ilegal
de carnes por frigoríficos.
O grampo flagrou a ligação
telefônica entre o ministro paranaense e o fiscal Daniel Gonçalves Filho, que
foi superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e
2016. Serraglio assumiu no início do mês o Ministério da Justiça, que
comanda a Polícia Federal.
Segundo a PF, Gonçalves Filho era
“o líder da organização criminosa” que atuava no órgão, permitindo o
recebimento de propina em troca de vistas grossas na fiscalização de
frigoríficos.
Em fevereiro do ano passado,
Serraglio, então deputado federal pelo Paraná, ligou para o fiscal para obter
informações sobre o Frigorífico Larissa, de Iporã (PR), de propriedade de Paulo
Rogério Sposito.
O ministro se refere ao fiscal como
“grande chefe”. A assessoria de Serraglio informou que o
ministro está em viagem, a caminho de Curitiba, e que deve enviar nota
oficial.
Diálogo entre Serráglio e
Daniel Filho:
Osmar Serráglio: grande chefe tudo bom?
Daniel Filho: tudo bom
Osmar: viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá sabendo?
Daniel: não
Osmar: o cara lá, que..o cara que tá fiscalizando lá…apavorou o Paulo lá, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico…botõ a boca…deixou o Paulo apavorado, mas pra fechar tem o rito, num tem? Sei lá. Como que funciona um negócio desse?
Daniel: deixa eu ver o que acontecendo…tomar pé da situação lá tá…falo com o senhor
Osmar Serráglio: grande chefe tudo bom?
Daniel Filho: tudo bom
Osmar: viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá sabendo?
Daniel: não
Osmar: o cara lá, que..o cara que tá fiscalizando lá…apavorou o Paulo lá, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico…botõ a boca…deixou o Paulo apavorado, mas pra fechar tem o rito, num tem? Sei lá. Como que funciona um negócio desse?
Daniel: deixa eu ver o que acontecendo…tomar pé da situação lá tá…falo com o senhor
Logo após encerrar a ligação,
Daniel ligou para Maria do Rocio (chefe do Sistema Brasileiro de Inspeção
de Produtos de Origem Animal – Sipoa), contando que o fiscal de Iporã queria
fechar o “Frigorífico Larissa” daquela localidade. Ele pede a ela que
averigue o que está acontecendo e lhe ponha a par. ela então obedece à ordem e
em seguida o informa de que não tem nada de errado lá, está tudo normal, informação
esta depois repassada a Osmar Serrpáglio.
Paulo Rogério Sposito, dono do
Frigorífico Larissa, e que foi candidato a deputado federal por São Paulo como
o nome de urna “Paulinho Larissa”, pelo PPS, é um dos investigados na
operação, sob suspeita de pagar propina a fiscais para evitar autuações. Ele é
alvo de um mandado de prisão preventiva nesta sexta (17).
De acordo com o juiz, no depacho,
toda a preocupação demonstrada por Daniel e Maria do Rocio, em
garantir o livre funcionamento do Frigorífico Larissa é oriunda da “total
ausência de qualidade dos alimentos preparados pela empresa, como se vê dos
diálogos, pelos quais resta claro que a empresa emite notas fiscais falsas
(faturar um produto congelado como se fosse in natura, a fim de pagar menos impostos),
permite procedimentos fora das normas técnicas agropecuárias (transporte de
produtos fora da temperatura adequada, troca de etiqueta de produtos) e a
colocação no mercado de produtos vencidos, sob a proteção e chancela de seu
amigo Daniel”.
Foro privilegiado
Por ora, o juiz Marcos Josegrei da
Silva, porém, assim como o Ministério Público Federal, entenderam que não havia
indícios suficientes que apontem o cometimento de crime por Osmar Serráglio.
“Não se extraem elementos
suficientes no sentido de que o parlamentar (Deputado Federal) que é
interlocutor em um dos diálogos, que detém foro por prerrogativa de função,
esteja envolvido nos ilícitos objeto de investigação no inquérito policial
relacionado a este feito”, afirma o juiz.
Para o magistrado, é “natural” que
os servidores do Ministério da Agricultura “busquem auxílio ou intervenção de
deputados de seu Estado a fim de viabilizar o atendimento de interesses do
órgão”, desde que dentro da legalidade. “Essa circunstância, por si, não é
indicativa de prática alguma de crime”.
“Até que se tenham, pelo menos,
indícios mínimos da participação efetiva de pessoa detentora de mandato
eletivo, com foro privilegiado, nos delitos de corrupção, falsidades, lavagem
de dinheiro, dentre outros apurados na presente investigação, entendo que não
há motivo para deslocamento de competência a instância superior”, escreveu o
juiz.
“Conforme já exposto nas decisões
anteriores deste Juízo é muito comum que figuras políticas surjam nos contextos
dos diálogos interceptados, sendo natural que os detentores de cargos de chefia
nas Superintendências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,
assim como de outros Ministérios, busquem auxílio ou intervenção de deputados
de seu Estado a fim de viabilizar o atendimento de interesses do órgão, ou
mesmo de suas questões corporativas/funcionais. Essa circunstância, por si, não
é indicativa de prática alguma de crime. Assim já constou na decisão do evento
165, na qual justifiquei a desvinculação das menções a políticos aos fatos ora
investigados, não tendo a simples citação de nomes de pessoas detentoras de
foro privilegiado o condão de, imediata e instantaneamente, deslocar-se a
competência para o Supremo Tribunal Federal”, diz o despacho na íntegra.
O fato de não haver crime na
conduta de Serraglio também foi ressaltado durante a coletiva de imprensa, pelo
superintendente regional Maurício Moscardi Grillo. “Naquele fato em si não
tinha crime. Na época, ele entrou em contato sim para interferir por um
frigorífico, mas não temos como tirar dessa única ligação uma conduta, além
disso ele tem foro privilegiado”.
Segundo a PF, de qualquer
forma, o caso foi adicionado aos autos e encaminhado ao MP e à Justiça para
avaliação. MATÉRIAS RELACIONADAS:
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