domingo, 30 de outubro de 2016

Paciente sai de hospital psiquiátrico e vai para casa após 55 anos internado



By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 Imagem: Emilio Botta (G1)

O olhar sereno de um idoso não condiz com a postura do paciente que passou 55 anos longe da família enquanto estava internado em um dos complexos psiquiátricos mais conhecidos do Brasil, o Juquery, em Franco da Rocha (SP). José Santiago é de Sorocaba e tem 89 anos, metade deles passados dividindo o quarto com 40 pessoas.

Ele não sabia, mas na sua cidade natal, localizada a cerca de 115 quilômetros do hospital, os seus familiares guardavam as lembranças de um jovem alegre, no entanto, tinham marcado também o triste momento de sua partida.
Nesta terça-feira (25), a distância deixou de existir, já que Santiago se mudou para uma Residência Terapêutica (RT) em Sorocaba, onde viverá com mais nove pacientes.
Diagnosticado com esquizofrenia aos 34 anos, Santiago foi levado para Juquery dentro de um veículo da polícia em 1961, o que era comum na época. “Eu tinha 10 anos de idade e lembro do carro parando em frente a minha casa. Os policiais pegaram o meu tio e fui com o meu pai até São Paulo para acompanhar. Naquela época não tinha o que fazer”, conta o sobrinho Antônio Lopes Machado Filho, de 66 anos.
O aposentando lembra ainda que a família ficou 30 anos sem notícias do idoso, mesmo depois de ter ido ao complexo para visitá-lo. Após o reencontro, ainda no hospital, as visitas passaram a ser frequentes, inclusive com direito a passeios. Na residência em Sorocaba, ele receberá assistência 24 horas com a presença de cuidadores, enfermeiros e psicóloga. 
Expectativa
Minutos antes da chegada do novo morador da casa, o clima era de ansiedade. Assim que desceu do carro, o paciente abraçou os sobrinhos e subiu sozinho a rampa da nova moradia. Apesar de não se lembrar do próprio nome e falar bem pouco, Santiago queria conhecer a casa e foi até o quarto que vai dividir com mais dois pacientes.
No cômodo, falou o nome da cidade que passou tanto tempo sem ver e do bairro George Oeterrer, de Iperó (SP). Questionado sobre a lembrança, disse que morou no distrito, fato desconhecido pelos familiares. O outro sobrinho de seu Santiago, Adenil Lopes Machado, irmão de Antônio, disse que tinha três anos quando o tio foi levado. “Chegamos a achar que ele estava morto,” afirma.
Antônio conta que era o mais próximo do tio, de quem herdou a aparência física e a fala serena. “Ele era tranquilo, alegre, mas começou a se xingar e achar que todo mundo da rua era ruim.” Foi durante uma das visitas em Juquery que o aposentando conseguiu resgatar pelo menos uma memória de Santiago. “Chamei ele de tio Nêne, apelido dele na época. Ele olhou para mim. É afinidade de família, não tem como explicar”, diz emocionado.
Vida nova
As algumas mudas de roupas do hospital, medicamentos e prontuário são tudo o que Santiago juntou em 55 anos e trouxe de Juquery para Sorocaba. Para reforçar a mudança de rotina, vai ganhar novas vestimentas. Os cinco familiares que o receberam na RT afirmam que as visitas serão frequentes.
Prestes a completar 90 anos, no próximo dia 21 de janeiro, Santiago vai receber o abraço da família e conhecer as novas gerações, que não puderam conviver com ele ainda jovem, quando trabalhava de pedreiro e levava doces aos sorinhos. Quando ainda sonhava com um futuro diferente.
Reforma psiquiátrica
Por determinação de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público (MP) e Ministério da Saúde, até o fim de 2016 a Prefeitura de Sorocaba deve fechar o único hospital psiquiátrico ainda em funcionamento, o Vera Cruz. Atualmente, o hospital abriga 357 pacientes e, desde janeiro deste ano, 95 pessoas tiveram alta. Enquanto algumas voltaram ao convívio da família, outras mudaram para RTs, assim como o Santiago.
A cidade foi escolhida para ser referência no processo de desinstitucionalização dos pacientes por ser considerada um polo de hospitais psiquiátricos do país. Em 2012, junto com Salto de Pirapora e Piedade, eram 1.843 pacientes. Desde o início da transição, 142 pessoas saíram para morar em uma das  26 RTs instaladas em Sorocaba, onde recebem cuidados diários de uma equipe multidisciplinar.
Segundo a supervisora da Secretaria de Saúde da cidade, Talita Cristina de Moraes, cada casa pode abriga até 10 pacientes. “Todos passam por um processo de adaptação e também frequentam o CAPS. Esta casa é muito especial porque todos ajudam nas atividades domésticas”, diz referindo à nova moradia de Santiago. Talita ressalta que o idoso, finalmente, terá uma vida sem regras rígidas, horário para acordar e tomar café, por exemplo. "Vai ter autonomia para fazer as próprias escolhas", finaliza.

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