quinta-feira, 19 de maio de 2022

Padre Júlio chora ao atender morador de rua com hipotermia em SP: 'Se aqui dentro está ruim, imagina lá fora'

By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 Imagem: Divulgação
Coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, o padre Júlio Lancellotti se emocionou na manhã desta quarta-feira (18) em um abrigo municipal da capital paulista. Isto porque, André Luis, um morador de rua, apresentava sinais de hipotermia.
O atendimento foi feito no Núcleo de Convivência São Martinho, abrigo na Zona Leste da capital conveniado com a Prefeitura de São Paulo e administrado pelo Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto. 
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No mesmo local, na manhã desta quarta, um outro morador de rua morreu depois de passar a madrugada na rua esperando a abertura do estabelecimento. Isaias de Faria, de 66 anos, chegou passando mal ao núcleo de convivência e morreu após sofrer uma convulsão enquanto aguardava para tomar o café da manhã.
“Cansa de falar, cansa... porque se aqui tá assim, você imagina por aí, por aí tudo como é que tá?”, disse o padre emocionado  
Antes de ser levado ao hospital, André Luis disse que sempre morou na rua, onde passou a última madrugada.
“Ele dormiu na rua. Deve ter ingerido álcool, que é o quadro de sempre. Ingere álcool, aquece, o álcool é volátil, metaboliza e começa a congelar. Ele tá com todo quadro de enrijecimento, com todo esse aquecimento vai voltando a pressão, mas é o quadro típico da hipotermia”, comentou. 
Tiago Pereira, amigo de Isaias, que morreu durante a manhã, chorou ao contar o drama de tentar encontrar um abrigo para passar a noite.  
"Para conseguir vaga em albergue, precisa ligar no 156 e geralmente a gente não tem telefone. A espera é de 3 horas. Enquanto isso, a gente fica no frio. A rua é difícil", contou Tiago.
O rapaz trabalha com reciclagem e conta que passou a noite ao lado de Isaías de Faria, de 66 anos. Eles tinham apenas duas cobertas e relata que nenhuma equipe da assistência social esteve no local.  
"Só ouvimos o vento frio no ouvido", contou Tiago.
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Solidariedade nos dias frios
Segundo o padre Júlio, o exercício da caridade nunca foi tão importante na cidade de São Paulo neste inverno porque o frio encontrou mais gente em situação vulnerável do que em períodos anteriores já que a crise econômica e a pandemia levaram muitas famílias para as ruas.
O último Censo da população de rua feito pela Prefeitura de São Paulo apontou que a cidade atingiu a marca de quase 32 mil pessoas vivendo nas ruas. Uma população formada por homens, mulheres e crianças, onde não há vagas suficientes nos albergues públicos. 
Morte pela manhã
Isaias de Faria morreu após sofrer uma convulsão enquanto aguardava para tomar o café dentro do núcleo de convivência São Martinho.
Ele tinha dormido na rua, próximo ao centro de convivência. O local não abriga a população sem teto, mas oferece diariamente alimentação.
Sensação de -4° e Metrô congelado
Nesta quarta (18), a cidade registrou a madrugada mais fria do ano, com 6,6ºC marcados na estação do Mirante de Santana, do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), entre as 6h e as 7h da manhã.
Até então, o dia mais frio do ano havia sido registrado no dia 16 de abril, com os termômetros marcando 13,1ºC.
Com as rajadas de vento, a sensação de frio é ainda maior. Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), da Prefeitura de São Paulo, a sensação de frio foi negativa em algumas regiões da capital, chegando a ser de - 4º C, por exemplo, na Zona Sul. 

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