By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: PORTAL BEM PARANA – Imagem: Ernani Ogata
Desde o início dos golpes contra a democracia brasileira, em 2015, grupos de torcidas de Athletico Paranaense, Coritiba e Paraná Clube começaram a esboçar uma reação. As primeiras reações foram tímidas, com faixas nos estádios e postagens nas redes sociais.
No último domingo (dia 26), porém, um ato em Curitiba marcou a união de torcedores dos três clubes. A manifestação chamada de ‘Torcidas Antifascistas Unidas! Fora Bolsonaro!’ ocorreu na Praça Santos Andrade e foi convocada pelo movimento Somos Democracia.
Os grupos Gralha Marx, Atleticanhotos, Movimento Organizado Coxacomunas e CAP Antifascista participaram da manifestação e discursaram contra Bolsonaro.
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Danilo Pássaro, coordenador do movimento Somos Democracia e membro da
torcida Gaviões da Fiel, esteve em Curitiba na manifestação de domingo.
“Esse ato é muito simbólico pelo que Curitiba representou no movimento
reacionário”, disse. “É importante se manter nas ruas, para lutar pela
democracia, contra o fascismo, contra o racismo, pela verdade, pela
justiça, pelos direitos e pela dignidade do povo brasileiro”, declarou.Alguns dos integrantes dos grupos de torcedores de Athletico, Coritiba e Paraná Clube preferiram não se identificar, por questões de segurança.
O grupo Gralha Marx concedeu uma entrevista para o Bem Paraná explicando sua origem e suas atividades nas arquibancadas e nas ruas.
Bem Paraná — Qual a origem do Gralha Marx?
Gralha Marx — A Gralha Marx surgiu em 2013, sendo o primeiro grupo de orientação à esquerda de arquibancada do estado. Entretanto, devemos ressaltar influências de coletivos como o Galo Marx do Atlético-MG e a Resistência Coral do Ferroviário-CE, a qual a caminhada destes respeitamos e muito. Essa origem ocorreu nas arquibancadas da Vila Capanema, quando percebemos a importância de se organizar coletivamente.
BP — Quais os princípios defendidos pelo grupo e quais seus objetivos?
GM — Defendemos a acessibilidade plural e igualitária! Seja no futebol, na sociedade e na política como um todo. Buscamos dentro do futebol; ingressos acessíveis, sócio torcedor inclusivo, a importância do direito ao voto. Idealizamos uma relação dinâmica e transparente entre torcedor e o clube, que essa relação seja ate atendida pelos anseios populares e não pela elitização do futebol/clube.
BP — Quantos integrantes vocês têm? E qual o perfil deles?
GM — Atualmente, há em torno de 40 pessoas envolvidas nas discussões em grupo e ocupando os jogos do Paraná Clube. Somos um grupo construído por homens/mulheres, constituído por estudantes e trabalhadores de vários setores, como: servidores públicos, professores, advogados, políticos, autônomos, assalariados, etc...
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BP — Os integrantes frequentam os jogos da Vila Capanema?GM — Mais do que uma página nas redes sociais, somos frequentadores assíduos da Vila Capanema e temos como nosso objetivo principal hoje, a popularização do acesso do povo ao nosso estádio, a aproximação do clube a sua origem trabalhadora e popular. Vale destacar de que não somos uma torcida organizada, mas sim um coletivo. Além de atuação nas arquibancadas da Vila do Povo e apoio ao Paraná Clube, também nos fazemos presente nas ruas, em atos e manifestações progressistas, endossando as fileiras e somando. Pois acreditamos que não é possível dissociar o futebol, da política.
BP — Vocês preferem o anonimato. Por que não divulgar nomes?
GM — No pré-surgimento da GMFR (Gralha Marx Futebol e Revolução) e até no início, temas como o fascismo se limitavam a pequenos grupos, diferentemente do nosso panorama atual, onde atitudes e ideias com pitadas de insanidade desenfreada tomaram conta do país. Até por isso, temos a preferência de permanecermos anônimos, visando nossa própria segurança. Além disso, a ideia não é inflar o ego de ninguém, mas sim propagar nossos ideais para os paranistas, ainda mais agora neste cenário turbulento. Turbulência esta, causada por diversos fatores, dos quais podemos destacar a ascensão do Bolsonaro. Nos posicionando altamente de forma opositora às ideias e sandices retrógradas do atual governo e pela nossa orientação à esquerda, automaticamente nos posicionamos como antifascistas.
BP — Qual a relação de vocês com os movimentos antifascismo do Coritiba e do Athletico?
GM — De 2018 pra cá houve muita aproximação de torcedores que se alinham com nossos ideais. Sabemos que existem coletivos seguindo uma linha parecida à nossa nos times rivais, inclusive é sabido por nós que têm certo respeito pela GMFR. Todavia, não temos muita aproximação com estes outros coletivos. Conhecemos alguns de seus membros atuantes, mas nada até hoje que simbolize uma união ‘formal’ ou algo que o valha.
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BP — Quais planos para 2020 e para o futuro?GM — União é palavra que mais representa esse ano difícil. Mas do que nunca, precisamos unir as frentes que se opõe a esse governo genocida e proteger as comunidades, trabalhadores e toda a população. Depois que essa pandemia passar, queremos voltar aos estádios com a sensação de que é um espaço popular e seguro para todos(as).
BP — O que vocês dizem quando alguém fala: "Não se deve misturar futebol com política"?
GM — O futebol é cultura de massa. É um fenômeno que desde sua origem esteve ligada às diferentes classes. Seja no surgimento dos clubes de origem trabalhadora (como os antepassados do Paraná Clube) ou no movimento de profissionalização do esporte. Mostrando que é algo macro e que ultrapassava as quatro linhas do campo. O futebol parou a guerra de Biafra, na Nigéria, para ver Pelé jogar; na trégua de natal da primeira guerra, soldados de trincheiras opostas confraternizaram jogando futebol; um jogo de futebol foi o estopim para a dissolução da antiga Iugoslávia. Dizer que futebol e política não se misturam é desconhecimento da história do esporte. Não é só um jogo!
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