By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: JORNAL EXTRA – Imagem: Divulgação
Na carta, os padres destacam a “incapacidade” e a “incompetência” do Governo Federal na coordenação de ações contra a pandemia e também critica a postura anticientífica dos integrantes do governo Bolsonaro.
No documento, os bispos afirmam que o país passa por um dos períodos mais difíceis de sua história causado por uma crise de saúde, um “colapso econômico” e uma “tensão sobre os fundamentos da República” que, segundo a carta, é provocada em grande medida pelo presidente Jair Bolsonaro e por outros setores da sociedade.
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“O sistema do atual
governo não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a
defesa intransigente dos interesses de uma ‘economia que mata’, centrada
no mercado e no lucro a qualquer preço”, afirma o documento.Entre os signatários estão dom Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém, e o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Ulrich. Chamou a atenção a presença, entretanto, de alguns integrantes não necessariamente alinhados à ala mais progressista da CNBB, como dom Alberto, de Belém. O bispo é um dos principais nomes da Renovação Carismática Católica no Brasil, com muitos sacerdotes alinhados ao governo Bolsonaro.
O documento, porém, não foi bem recebido pela ala de padres mais conservadores. Os bispos que assinaram o documento queriam publicá-lo no último dia 22, mas o EXTRA apurou que uma oposição interna levou o grupo a aguardar uma análise do conselho permanente da CNBB.
— O documento não é o posicionamento de progressistas ou conservadores, mas de pastores preocupados — disse um dos signatários, que prefere manter o anonimato.
Divisão na Igreja
A carta indica uma divisão interna cada vez maior dentro da Igreja. No ano passado, o arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor de Oliveira, foi eleito para a Presidência da CNBB em meio a uma disputa interna entre as alas conservadores e progressistas. Walmor é visto como um sacerdote de perfil moderado, capaz de circular entre os dois campos. Mas nos últimos meses, a temperatura interna subiu, junto com o aumento da tensão política em Brasília.
Em fevereiro, a CNBB criticou a tentativa do governo de regulamentar a mineração em terras indígenas. Na ocasião, Dom Walmor afirmou que era preciso respeitar as populações indígenas e “não apenas fazer um projeto de desenvolvimento que atenda a interesses econômicos que são nefastos”.
— Estamos diametralmente opostos àquilo que que se faz por interesse meramente econômico e um desenvolvimentismo e que não atende as necessidades dos mais pobres, mas que os expulsa — disse Dom Walmor.
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Em março, em movimento raro, a
CNBB se uniu a outras entidades da sociedade civil, como a Ordem dos
Advogados do Brasil e da Associação Brasileira de Imprensa, para
criticar as ações do governo contra a pandemia. No documento, as
organizações pediram para que a população permanecesse em casa.Em maio, padres conservadores ligados a emissoras católicas de rádio e televisão participaram de uma videoconferência com o presidente Bolsonaro e pediram investimento do governo federal nas emissoras por meio de propagandas do governo. Em troca, indicaram que poderiam apresentar ações do governo na pandemia do novo coronavírus.
Na ocasião, a CNBB disse ter recebido com estranheza e indignação a notícia sobre oferta de apoio ao governo por emissoras de TV em troca de verbas e solução de problemas afeitos à comunicação. “A Igreja Católica não faz barganhas”, dizia a nota.
“Até a religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar divisões, difundir o ódio, criar tensões entre igrejas e seus líderes. Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e poder no Estado laico. (...) Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor?”, diz a carta assinada pelos bispos.
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