By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: PARANA PORTAL – Imagem: Pedro Ladeira
Com o objetivo de financiar o Renda Cidadã, o governo estuda
extinguir o desconto de 20% concedido automaticamente a contribuintes
que optam pela declaração simplificada do Imposto de Renda da pessoa
física. A medida pode atingir mais de 17 milhões de pessoas.
Em substituição, segundo fontes que participam da elaboração da
medida, seria mantido o direito às deduções médicas e educacionais,
benefícios que estavam na mira da equipe econômica desde o ano passado.
Criado há 45 anos, o formulário simplificado da declaração do Imposto de
Renda deixaria de existir.
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O objetivo é usar os recursos economizados com o fim do desconto
padrão de 20% para financiar a ampliação do Bolsa Família, criando o
novo programa social do governo, com o nome de Renda Cidadã. Ainda assim
seria necessário abrir espaço no teto de gastos, regra que limita as
despesas públicas à variação da inflação.
Quem opta pelo modelo simplificado tem uma dedução padrão de 20% do
valor dos rendimentos tributáveis, abatimento que substitui todas as
outras deduções. O limite atual desse desconto é de R$ 16.754,34 por
contribuinte.
A outra opção existente hoje, e que seria mantida, é a declaração
completa, indicada para quem teve custos que podem ser deduzidos acima
dos 20%. Ela permite que a base tributável seja reduzida se o
contribuinte apresentar despesas médicas, educacionais, previdenciárias e
com dependentes.
Inicialmente, a ideia do ministro Paulo Guedes (Economia) era acabar
com as deduções médicas e de educação. O argumento era que esses
descontos representam elevados custos à União e vão diretamente para o
bolso da classe média, sem benefício aos mais pobres. A conta desses
dois descontos é de aproximadamente R$ 20 bilhões em um ano.
O plano mudou, e o Ministério da Economia quer reforçar o discurso de
que não pretende prejudicar a classe média, fortemente atingida pela
pandemia do novo coronavírus.
De acordo um técnico do ministério, com a manutenção das deduções
existentes hoje no modelo completo, o contribuinte continuará com o
direito de abater aqueles gastos que efetivamente ocorreram.
A pasta argumenta que o modelo simplificado somente fazia sentido
quando o mundo não era digitalizado, e os contribuintes tinham um
trabalho enorme para guardar, reunir e recuperar a papelada que seria
apresentada para viabilizar as deduções. O time de Guedes ainda trabalha
nas contas da economia que seria gerada com a medida.
Na declaração referente ao ano de 2019, 17,4 milhões de pessoas
optaram pelo formulário simplificado, enquanto 12,9 milhões usaram o
modelo completo.
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Para os cadastrados no sistema simplificado, a redução global na base
de cálculo foi de R$ 136,5 bilhões. Sobre esse valor, portanto, o
imposto não incidiu. Como o desconto é padrão e automático, em muitos
casos o contribuinte nem possui, de fato, despesas a serem deduzidas da
base de cálculo do imposto.
Técnicos explicam que esse montante de desconto não será eliminado em
sua totalidade com a medida porque muitas pessoas que optaram pelo
modelo simplificado poderiam passar a declarar e deduzir pela modalidade
completa.
A nova proposta foi formulada para ser apresentada ao presidente Jair
Bolsonaro como uma das soluções para o impasse que envolve o novo
programa social do governo, que a equipe de Guedes insiste em batizar de
Renda Brasil.
Segundo técnicos do Ministério da Economia, somente com essa medida, o
benefício mensal médio do Bolsa Família poderia ser ampliado de R$ 190
para valores entre R$ 230 e R$ 240.
Membros da área econômica afirmam que, diante da urgência de se criar
o novo programa social, a proposta para extinguir a declaração
simplificada tem de ser apresentada no curto prazo. Isso seria feito
antes mesmo do envio de um pacote mais amplo da reforma tributária, que
incluiria a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda.
A equipe econômica, no entanto, mantém a defesa de que outros
programas sociais existentes hoje sejam condensados para formar o Renda
Cidadã.
Guedes tem afirmado que o governo conta com um cardápio de 27 programas que poderiam ser fundidos.
Como Bolsonaro vetou a extinção de parte dessas ações, como o abono
salarial, a equipe econômica trabalha na reestruturação de parte dos
programas, em vez de extingui-los.
O jornal Folha de S.Paulo mostrou na última semana que uma das ideias
é limitar faixa de renda dos beneficiários do abono, uma espécie de 14º
pago a trabalhadores com renda de até dois salários mínimos. A mudança
liberaria R$ 8 bilhões do Orçamento.
Em conversas com aliados, Guedes afirmou no fim de semana que o Renda
Brasil deveria ser formado pela fusão desses programas e “turbinado”
pela extinção do desconto padrão do Imposto de Renda.
Por se tratar de uma renúncia de receita, o fim desse benefício
ampliaria a arrecadação do governo, mas não abriria espaço no teto de
gastos. Portanto, o problema para por de pé o programa seria resolvido
parcialmente. Falta decidir onde cortar despesas.
Na proposta do Ministério da Economia, seria feita uma triangulação: o
governo usaria a verba do desconto padrão para bancar o programa e, ao
mesmo tempo, cortaria outras despesas para abrir espaço no teto.
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Guedes determinou que sua equipe faça um pente-fino no Orçamento para encontrar verbas que possam ser cortadas.
Uma das ideias é a de limitar gastos com precatórios, dívidas do
governo reconhecidas pela Justiça. Essa proposta chegou a ser
apresentada como fonte direta de financiamento do programa social, o que
gerou forte reação negativa do mercado e entre parlamentares e
especialistas.
O ministro da Economia tem se defendido com o argumento de que a
ideia não estava diretamente ligada ao programa social e que a limitação
de pagamentos atingirá apenas grandes débitos, respeitando a lei.
Outra opção defendida por Guedes para abrir espaço no teto de gastos é
a retirada de amarras do Orçamento, no que classifica como
desvinculação, desindexação e desobrigação dos recursos públicos.
A medida, no entanto, sofre com a resistência de Bolsonaro. Isso
porque uma das ações, por exemplo, acabaria com a correção do salário
mínimo pela inflação e também poderia congelar o valor de
aposentadorias.
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