By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: JORNAL EXTRA – Imagem: Gabriel Paiva (O Globo)
Há uma semana, Dona Nilda, de 93 anos, fazia seu passeio matinal pelas ruas de Botafogo, quando viu um grupo sentado na Praça Compositor Mauro Duarte. Aquela reunião, que ela já tinha visto dias antes, chamou sua atenção. Ao perguntar o que estava acontecendo ali, ela descobriu que eram as aulas do projeto “Adote um aluno”. Saber que havia professores dando aulas gratuitamente perto de sua casa a animou para voltar a estudar e se alfabetizar.
Natural do interior do estado, Nilda Teixeira do Carmo chegou jovem ao Rio e começou a trabalhar de babá, ofício de que tem orgulho e que realizou por toda vida. Tendo cursado apenas o primeiro ano do Ensino Fundamental ela está cheia de vontade para reaprender a ler e a escrever:
— Elas (as professoras) têm muita paciência com as pessoas.
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Agora estou escrevendo
as letras separadas. O meu nome já sei assinar. Fui até comprar meu
próprio caderno, porque gosto de tudo que é meu. — disse Nilda, enquanto
treinava a escrita da letra “e”.No dia em que a reportagem encontrou com Dona Nilda, ela dividia a mesa com Marlon Bryan, de 10 anos, aluno do 4º ano do Fundamental e que vai todos os dias à praça para estudar matemática com os voluntários. A história de Nilda animou o menino, que pretende seguir os passos da “colega de turma”:
— Já aprendo com 10 anos. Mas vou continuar com 40,50, 60… — disse Marlon.
Bem humorada e apaixonada por crianças, para Nilda, dividir a atenção da professora com uma criança é mais um motivo para continuar indo às aulas:
— Eu gosto é de criança. Sempre cuidei de crianças… Estou velha, mas não aturo velho. Pode me dar 10 crianças que eu cuido o dia inteiro. — brincou a idosa.
Heloísa Sefton, professora de alfabetização do projeto que também dá aulas para outras idosas, ficou surpresa com a letra bonita da nova aluna e com a facilidade e pré-disposição dela de aprender:
— Ela disse quer aprender e tem que ser rápido. — brinca a professora.
Sem filhos, ela se mudou recentemente para a casa de uma sobrinha após seu irmão, que estava sob seus cuidados devido a osteoporose, falecer. Ela gosta de se sentir independente. Além de frequentar três vezes na semana as aulas, ela quer começar a fazer ginástica na Praia de Botafogo, já que andar pelas ruas é seu hobbie favorito e pegar o ônibus sozinha parece não ser um problema:
— Eu acordo, tomo café da manhã, limpo o chão e vou para rua. Vou ao médico, faço minhas coisas. Não gosto de ninguém atrás de mim, não tem necessidade. A única coisa que preciso fazer e que me falaram é o cartão com meu endereço para deixar na bolsa.
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Após viralizar, já são 120 alunosHá 6 meses uma foto de Silvério Moron sentado na praça com uma plaquinha escrito “Tiro dúvidas de matemática e física. Grátis” viralizou na internet. Aquele era o embrião do projeto “Adote um aluno”, que hoje conta com 120 alunos, desde alfabetização até de graduandos. Além de buscar mais professores voluntários, atualmente são 7, Silvério também tenta encontrar um solução para acomodar bem seus alunos em dia de chuva:
— A média é de 10 a 15 alunos todos os dias. Quando não chove eu gosto de ficar aqui na praça para as pessoas verem que existe a iniciativa e nos conhecerem. Além de motivar muitos a virem aqui depois, alunos ou voluntários, é uma grande oportunidade para quem não tem muitos recursos. Mas quando chove, por ser em uma praça, não tem jeito.
Quando resolveu ir para a rua sozinho para dar aulas, o engenheiro não esperava que a iniciativa fizesse tanto sucesso. Sua ideia era tentar ficar até dezembro e atingir 100 alunos. Mas, diante do sucesso, já tem outro desejo: de expandir o "Adote um aluno" para outras praças da cidade:
— No fim do ano, vou fazer uma avaliação. Estou muito animado pelo número de professores que está aparecendo. Por que não chegar a outros bairros? O objetivo agora é tentar espalhar pelo Rio inteiro — projeta Silvério.
Os universitários também estão em peso, mas não sendo monitores, e sim monitorados. Com muitos engenheiros dando aulas, não é difícil encontrar alunos dos primeiros anos de faculdade pedindo ajuda para entender melhor as matérias da faculdade. Até mesmo uma espécie de "consultoria" para formandos tem espaço:
— O Antonio Carlos Macedo que nos ajuda aqui, trabalhou por muitos anos na engenharia civil, então ele consegue dar alguma orientação profissional a quem está se formando agora — explica Silvério.
O projeto deu tão certo que a lota a praça e às vezes faltam mesas e bancos para comportar todos os professores e estudantes. A rede acabou ajudando também um refugiado africano:
— A gente acaba se envolvendo, não tem jeito. Um camaronês que estava há pouco tempo no país estava com dificuldades com a língua. Descobrimos que ele também estava sem dinheiro, casa e trabalho. Conseguimos ajudá-lo a tirar documentos e pedir refúgio. Agora ele já até conseguiu trabalho — conta Heloísa, que está no projeto desde março e também dá aulas de inglês.
Quem tiver interesse de se voluntariar ou de se tornar um aluno pode procurar pelo professor Silvério de segunda a sexta, das 11 às 14 h na Praça Compositor Mauro Duarte, em Botafogo, ou entrar em contato pela sua página no Facebook.
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