By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Hanrrikson de Andrade (Uol) – Imagem: Uol
A apreensão de três toneladas de maconha em Acari, favela da zona norte do Rio de Janeiro, notabilizou o faro do cão Jack, um dos labradores mais talentosos do BAC (Batalhão de Ações com Cães), em dezembro de 2013.
Desde então, o animal vinha sendo preparado para substituir Boss --apontado como o melhor cão farejador da história recente da unidade e que foi aposentado-- na posição de destaque do canil. A trajetória de sucesso, no entanto, foi interrompida há 12 dias.
Jack desapareceu em circunstâncias ainda não esclarecidas no decorrer de uma operação em Angra dos Reis, no sul do Estado, no dia 15 de agosto. O sumiço de um cão é fato inédito na história do BAC, fundado em 1973.
A principal hipótese é que ele tenha sido capturado e morto por traficantes da comunidade onde era feita a incursão da PM. Nos corredores do batalhão, o clima de consternação é visível.
"Aqui todo mundo tem essa característica de ser apaixonado pelo animal. Para nós, é uma perda muito grande. É um companheiro que se perde", disse o veterinário-chefe da unidade, capitão Luís Renato Veríssimo.
"As comunidades onde esses cães atuam são espaços estreitos como becos, vielas, várias portas, enfim, cada cenário é um cenário. O canil foi fundado em 1973 e nunca tivemos uma perda de animal. Já tivemos centenas de operações [e isso nunca aconteceu]. Foi a primeira perda que nós tivemos", completou.
De acordo com o oficial de operações do batalhão, tenente Bernard Carnevale, "tudo aconteceu muito rápido" na ocasião do sumiço. Houve, segundo ele, uma "perda de contato visual" enquanto Jack transitava por becos e vielas buscando esconderijos de armas e drogas.
Carnevale afirmou que tal situação é comum em incursões do BAC --os cães podem avançar até 40 metros em relação ao posicionamento do tutor, pois são treinados para trabalharem soltos. Porém, o próprio treinamento faz com que eles "sempre voltem".
"Quando o cão percebe que está muito distante da patrulha, ele mesmo volta. Não tem como ele querer se distanciar e não voltar para a patrulha, pois há um trabalho específico para isso. A intenção é que ele encontre [armas e drogas] junto com a patrulha. Em um ambiente de favela, o espaço é muito estreito e é comum perder o contato visual. Eles sempre voltam quando isso acontece. Infelizmente, não foi o que aconteceu com o Jack", afirmou.
O fato de o cão não se distanciar por conta própria dá margem a duas hipóteses: o animal pode ter sido vítima de traficantes ou pode ter caído em alguma armadilha. "Como era um ambiente hostil, ele pode ter sido pego por traficantes e levado a uma outra comunidade ou abatido ali mesmo. Não escutamos tiros, mas pode ter sido um estrangulamento, facada ou algo parecido", disse Carnevale.
"Outra hipótese é ele ter caído em uma armadilha. Tinha um ambiente de mata na comunidade, ele poder ter seguido por uma ribanceira, descido para a estrada e, nesse momento, alguém pode ter pego e colocado no carro", completou.
Assim como todos os cães do BAC, Jack possui um chip de identificação e, se for encontrado, pode ser facilmente reconhecido. Apesar do clima de pessimismo, os policiais do batalhão afirmam que ainda há esperança de encontrá-lo vivo e fazem um apelo aos moradores de Angra. As buscas continuam.
"Existe uma comoção muito grande principalmente pelo fato de a gente não saber o que aconteceu. Sempre deixa margem para a possibilidade de ele estar vivo. Pior do que um óbito certo é um corpo desaparecido. A dúvida é um sentimento pior", comentou o capitão Veríssimo.
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