quarta-feira, 6 de outubro de 2021

'Osso é vendido e não dado': alta no preço da carne bovina reduz consumo em Florianópolis

By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 Imagem: Caroline Borges/G1
Além de pesar no orçamento, o aumento recorrente do preço da carne bovina alterou o hábito de consumo dos moradores de Florianópolis e trouxe insegurança para pequenos comerciantes. Segundo Ari dos Santos, que há 20 anos possuiu um mercado e açougue na capital, a procura pelo item diminuiu 50% nos últimos meses.
Helo Santos, de 60 anos, é uma das consumidoras que parou de comprar o item durante a pandemia e agora o substitui por ovos, peixe e legumes ou verduras. Em 2020, o consumo de carne bovina entre brasileiros caiu para o nível mais baixo em 25 anos. 
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"Não como mais carne de gado, não. Não tem como, está tudo muito caro", comenta.  
Em 2020, cada brasileiro consumiu 26,4 quilos da proteína ao ano, o que significa uma queda de quase 14% em relação a 2019. Este foi o menor nível desde 1996, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Não há dados estaduais.
"Desde a pandemia, caiu muito o movimento. As pessoas não estão mais comprando a carne aqui", conta Ari dos Santos, que agora busca alternativas para aumentar a arrecadação em seu mercado.
Segundo ele, a procura por ossos de boi começou a aumentar há cerca de um ano e uma placa com o preço do produto foi colocada no local. "Sempre vendi, mas aumentou", diz. "Quando vem uma pessoa necessitada, eu ainda faço a doação", explica.  
Aumento
O valor da cesta básica na Capital também aumentou na pandemia. Em agosto deste ano, o custo chegou a R$ 659 conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Na lista, a carne é o produto mais caro, com aumento de 30,5% nos últimos 12 meses.
O item representou 43% do total da cesta básica, que é elaborada com seis quilos de carne de primeira linha, média prevista para suprir as necessidades calóricas de um adulto, segundo o órgão. No ano, todos os produtos tiveram aumento
Hercílio Fernandes Neto, coordenador do Índice de Custo de Vida (ICV) da Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc), explica que o aumento, em especial da carne, ocorre, entre outros fatores, por conta do aumento no preço dos insumos de produção pecuária e desvalorização do real.
Além disso, com o aumento das exportações pelos produtores brasileiros, ficou menor a oferta de grãos no mercado interno, o que elevou o custo de produção pecuária. 
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"O preço dos insumos para a criação do gado, do suíno, também aumentou. Mercadorias aumentaram o valor de exportação. Também, a soja subiu muito no mercado internacional. Isso fez com que suba no externo e no interno", diz Fernandes Neto.
Maria Alves, que trabalha em Florianópolis, sente o aumento da cesta básica diariamente. A vendedora de meias explica que a carne, por exemplo, é exceção nas refeições há bastante tempo. Apenas em datas especiais, como natal, festas, ou marmitas que compra com valor mais acessível, ela está presente.
De acordo com a pesquisa do Dieese, com o preço da cesta básica atual na cidade, o salário mínimo ideal deveria ser de R$5.583,90, ou 5,08 vezes o mínimo vigente atualmente, que é de R$1.100. 
"Sempre foi caro para mim, eu só como [carne] na marmita às vezes, em casa não, é muito caro", diz.  

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