sábado, 30 de outubro de 2021

Diocese faz críticas e ativistas jogam fezes em prefeitura da Itália que homenageará Bolsonaro

By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: CORREIO BRAZILIENSE Imagem: Divulgação
Ativistas do grupo climático Rise Up 4 Climate Justice picharam e jogaram fezes na prefeitura do pequeno vilarejo italiano de Anguillara Veneta depois que a prefeita da cidade decidiu conceder o título de cidadão honorário ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
"A figura de Bolsonaro representa perfeitamente o modelo capitalista, predatório, destrutivo e colonialista contra o qual lutamos. (...) Sempre apontamos o dedo para os responsáveis ??pela crise climática e contra todas as grandes potências da terra que promovem um modelo de desenvolvimento que ameaça a vida em nosso planeta. Diante disso, Bolsonaro encarna o principal inimigo do clima, da vida e dos territórios", afirmou o grupo em seus perfis em redes sociais, que divulgou um vídeo do momento da depredação.
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A frase "Fora Bolsonaro" também foi pichada no edifício. A BBC News Brasil tentou entrar em contato com a prefeita da cidade, mas não conseguiu contato. A reportagem também não conseguiu contato com membros do grupo RiseUp4ClimateJustice (Levante pela Justiça Climática, em tradução livre).
A homenagem a Bolsonaro tem gerado fortes reações de grupos de esquerda e representantes da Igreja Católica desde que foi anunciada pela prefeita Alessandra Buoso e aprovada pela Câmara Municipal. Buoso integra o partido de direita Liga, o mesmo do senador Matteo Salvini, aliado de Bolsonaro. A sigla defende há décadas o direito de descendentes de italianos à cidadania do país por laços sanguíneos.
Buoso afirmou que a homenagem não tem motivação política e disse a jornalistas não estar informada sobre as acusações contra o presidente na CPI da Covid. "Pensei nas pessoas do meu país que migraram para o Brasil e construíram uma vida até chegar à Presidência, levando o nome de Anguillara Veneta para o mundo", disse a prefeita em entrevista à agência de notícias italiana Ansa.
A concessão do título, que opositores da região tentam revogar, está ligada a um bisavô de Bolsonaro que nasceu no município e à visita do presidente à Itália, em razão da reunião do G20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo) que vai até domingo (31/10).
Há protestos marcados por grupos de esquerda para este sábado (30/10) em Roma e para o dia da cerimônia em Anguillara Veneta, prevista para a segunda-feira (1º/11). O maior grupo antifascista da Itália, Anpi (Associazione Nazionale Partigiani d'Italia), está convocando protestos contra Bolsonaro em Anguillara Veneta.
"Não é preciso analisar muito a fundo para dizer que sua presença nesta cidade é indesejável; basta lembrar a gestão criminosa da pandemia realizada pelas autoridades brasileiras, a qual uma comissão parlamentar de inquérito solicitou que julgamento por crimes contra a humanidade", afirma o grupo Centro Social da Ocupação Pedro, que também organiza o protesto.
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As acusações da CPI da Covid contra o presidente, divulgadas no mesmo dia em que a homenagem a Bolsonaro foi oficializada, repercutiram muito na imprensa italiana, principalmente a acusação de crime contra humanidade. Menções à investigação do Senado brasileiro estão em todas as convocatórias de protestos contra o presidente. Bolsonaro nega qualquer irregularidade em sua gestão e costuma dizer ter feito o melhor possível pelo país durante a pandemia.
A homenagem também irritou representantes da Igreja Católica na região. A Diocese de Pádua divulgou um comunicado em que expõe "constrangimento" com a homenagem e a previsão de visita do presidente à basílica de Santo Antonio, em Pádua, que fica a quase 40km do vilarejo de cerca de 4.000 habitantes.
Segundo a imprensa italiana, Bolsonaro não será recebido oficialmente pelos líderes da igreja, como costuma ocorrer durante visitas de autoridades à região.
"Não é segredo que a concessão da cidadania honorária criou um forte constrangimento, ligado ao respeito pelo principal cargo no querido país brasileiro e as tantas e fortes vozes de sofrimento que sempre nos chegam, e não podemos ignorar, pois são gritadas por amigos, irmãos e irmãs", diz o comunicado oficial da Diocese de Pádua. A BBC News Brasil procurou representantes da instituição, sem sucesso.
Italianos e brasileiros que apoiam o presidente também organizam atos pró-Bolsonaro em Roma e em Anguillara Veneta. Recebido por apoiadores em sua chegada à embaixada brasileira em Roma, onde ficará hospedado durante o G20, Bolsonaro afirmou: "Estou muito feliz e se Deus quiser visitarei meus ancestrais em Pádua".
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Foi em Anguillara Veneta que nasceu um dos bisavôs de Bolsonaro, Vittorio Bolzonaro, que emigrou para o Brasil em abril de 1888, aos dez anos, na companhia do pai, da mãe e de outros dois irmãos.
Angelo, o filho de Vittorio nascido no Brasil anos mais tarde, casou-se com uma brasileira descendente de alemães, e em 1927 o casal teve Percy Geraldo. Vinte e oito anos depois, nascia o terceiro dos seis filhos de Percy, Jair Messias Bolsonaro.
A grafia do sobrenome em italiano, Bolzonaro foi abrasileirada conforme a pronúncia do dialeto do Vêneto, que pronuncia o som do S no lugar do Z.
Os Bolzonaro estão espalhados, em sua maioria, entre Rovigo, cidade de 60 mil habitantes, Anguillara e San Martino di Venezze, distantes da primeira cerca de 15 km. Com o ambiente predominantemente rural - ainda se veem burros nos seus pastos, animal que se tornou raro na Europa nos últimos anos -, os dois municípios têm quase a mesma população (cerca de 4 mil habitantes).

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