By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste domingo (23) a um jornalista que estava com vontade de “encher” a boca dele “na porrada”.
Bolsonaro deu a declaração após ter sido questionado por um repórter do jornal "O Globo" sobre cheques de Fabrício Queiroz para a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Um repórter do G1 perguntou, em seguida, sobre movimentações nas contas da empresa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente.
Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada no início da tarde deste domingo
e, primeiro, se dirigiu a um apartamento na Asa Norte, em Brasília.
Depois, foi à Catedral, onde foi abordado pelos jornalistas.
Ao ser questionado, Bolsonaro disse, primeiro, que não responderia às
perguntas. Depois, ao ser questionado novamente sobre os cheques para
Michelle, Bolsonaro se dirigiu aos jornalistas e disse: "Eu vou encher a
boca desse cara na porrada.”
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Na sequência, o presidente emendou: "Minha vontade é encher tua boca na porrada, tá?"
Nesse instante, Bolsonaro se dirigiu um local na área externa da
Catedral onde ficam vendedores ambulantes. O presidente, então, falou
com os vendedores e tirou fotos. Em seguida, entrou no carro oficial e
se dirigiu ao Palácio da Alvorada.
Os cheques do ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz,
destinados a Michelle Bolsonaro foram revelados pela revista "Crusoé".
Segundo a reportagem, Queiroz repassou R$ 72 mil à atual primeira-dama entre 2011 e 2016. A esposa de Queiroz, Márcia Aguiar, repassou outros R$ 17 mil em 2011.
‘Cala a boca’
Em 5 de maio, o presidente concedeu uma entrevista coletiva na portaria
do Palácio da Alvorada e, ao ser questionado sobre agressões cometidas
por apoiadores do governo em um ato de enfermeiros, respondeu, aos gritos: “Cala a boca, não perguntei nada!”.
Nota do jornal O Globo
O jornal O Globo emitiu nota de repúdio à fala. Leia a íntegra:
"O GLOBO repudia a agressão do presidente Jair Bolsonaro a um repórter
do jornal que apenas exercia sua função, de forma totalmente
profissional, neste domingo.
Em cobertura de compromisso público do presidente, o repórter solicitou
que ele se pronunciasse sobre reportagens da revista Crusoé e do jornal
Folha de S.Paulo que, no início deste mês, informaram que o ex-assessor
de Flávio Bolsonaro Fabrício Queiroz e a mulher dele depositaram
cheques no valor de R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle
Bolsonaro. Anteriormente, o presidente havia prestado uma informação
diferente sobre os valores.
Bolsonaro, então, em manifestação que foi gravada, não respondeu à
pergunta e afirmou a vontade de agredir fisicamente o repórter.
Tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de
qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à
população.
Durante os governos de todos os presidentes, o GLOBO não se furtou a
fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel maior da imprensa,
que é informar os cidadãos. E continuará a fazer as perguntas que
precisarem ser feitas, neste e em todos os governos."
Reação
Entidades e políticos reagiram à fala do presidente Jair Bolsonaro. Veja:
- Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB e Repórteres sem Fronteiras
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"Durante uma visita à Catedral de Brasília no domingo, 23.ago.2020, o
presidente do Brasil disse a um jornalista que gostaria de agredi-lo
fisicamente. Abraji, Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Observatório
da Liberdade de Imprensa da OAB e Repórteres sem Fronteiras se
solidarizam com o repórter e condenam mais um episódio violento
protagonizado por Jair Bolsonaro, cuja reação, ao ouvir uma pergunta
incisiva, foi não apenas incompatível com sua posição no mais alto cargo
da República, mas até mesmo com as regras de convivência em uma
sociedade democrática. Um presidente ameaçar ou agredir fisicamente um
jornalista é próprio de ditaduras, não de democracias.
A ameaça se deu quando um repórter questionou o presidente sobre os
depósitos realizados por Fabrício Queiroz na conta bancária da
primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O mandatário respondeu à pergunta com
a frase: "Minha vontade é encher tua boca com uma porrada, tá". Os
colegas do jornalista perguntaram se a resposta era uma ameaça ao
profissional, ou mesmo à imprensa como um todo, mas o presidente deixou o
local sem responder.
Essa ameaça de agressão física se soma a um histórico de forte
hostilidade de Bolsonaro contra jornalistas e marca um novo patamar de
brutalidade. Desde o início de seu mandato, em jan.2018, Jair Bolsonaro
vem demonstrando carecer de preparo emocional para prestar contas à
sociedade por meio da imprensa, uma responsabilidade de todo mandatário
nas democracias saudáveis. Jornalistas têm sido vítimas de agressões
verbais constantes ao cumprir sua obrigação profissional de questionar o
presidente sobre ações do governo federal e indícios de corrupção ao
longo de sua carreira política.
A questão da segurança do trabalho dos jornalistas que cobrem a
Presidência da República sob Bolsonaro é uma preocupação recorrente. Em
jun.2020, organizações da sociedade civil entraram com uma ação na
justiça do Distrito Federal solicitando ao governo que garanta a
segurança de jornalistas que cobrem a agenda presidencial - sobretudo os
que ficam diante do Palácio do Alvorada e que vinham sendo atacados com
frequência por apoiadores do presidente. As agres.sões levaram diversos
veículos a interromper a cobertura diária na frente do palácio.
O discurso hostil e intimidatório. de Bolsonaro contra a imprensa vem
incentivando sua militância a assediar jornalistas nas redes sociais nos
últimos meses, inclusive com ameaças de morte e agressões aos
profissionais e a seus familiares. Em pelo menos dois casos, um em Minas
Gerais e outro em Brasília, este último no Dia Mundial da Liberdade de
Imprensa (03.mai.2020), apoiadores do presidente agrediram repórteres
que estavam no desempenho de suas funções. A frase "minha vontade é
encher tua boca com uma porrada" pode ser entendida como uma legitimação
do cometimento de crimes como esses.
Tal comportamento inadmissível por parte de um presidente da República
deveria ser condenado por todas as instituições e cidadãos comprometidos
com a estabilidade e o progresso do Brasil. As organizações abaixo
assinadas esperam sobretudo dos líderes dos Poderes Legislativo e
Judiciário uma reação contundente contra mais essa atitude violenta e
irresponsável de Jair Bolsonaro.
- Associação Nacional de Jornais (ANJ)
"É lamentável que mais uma vez o presidente reaja de forma agressiva e
destemperada a uma pergunta de jornalista. Essa atitude em nada
contribui para o ambiente democrático e de liberdade de imprensa
previstos pela Constituição", afirmou o presidente da associação,
Marcelo Rech.
- Associação Brasileira de Imprensa
"Mais uma vez o presidente Jair Bolsonaro choca o país com seu
comportamento grosseiro. Ao ser perguntado por um repórter do jornal “O
Globo” sobre os sucessivos depósitos feitos pelo PM aposentado Fabrício
Queiroz na conta bancária de sua esposa, o presidente respondeu
afirmando que tinha vontade de “encher de porrada a boca” do jornalista,
em declaração gravada.
Tal comportamento mostra não apenas uma inaceitável falta de educação.
É, também, uma tentativa de intimidação da imprensa, buscando impedir
questionamentos incômodos.
A ABI se solidariza com o profissional atingido e reafirma que a
pergunta feita ao presidente era pertinente e de interesse público.
Por fim, lembra, ao primeiro mandatário do país que o cargo que ocupa exige maior decoro.
Tenha compostura, senhor presidente."
- Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
"O presidente vinha muito bem nas últimas semanas. Com sua moderação
estava contribuindo para a pacificação do debate público. Lamentável ver
a volta do perfil autoritário que tanta apreensão causa nos democratas.
Nossa solidariedade ao jornalista ofendido e ao jornal O Globo",
publicou em rede social o presidente da entidade, Felipe Santa Cruz.
- Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do partido no Senado
"Ao ser perguntado sobre os depósitos de Queiroz p/ a primeira-dama,
Bolsonaro ameaçou um jornalista de agressão física. O medo de responder é
tão grande que Bolsonaro quer silenciar quem o fiscaliza de toda
forma... Ele vai dizer o mesmo à justiça?"
- Senador Humberto Costa (PT-PE)
"ABSURDO - Bolsonaro disse há pouco a um repórter que estava com
vontade de “encher a boca” dele de porrada,depois de perguntado sobre os
depósitos de Queiroz na conta da primeira-dama.O presidente estava em
frente à Catedral de Brasília quando fez a ameaça.
A absurda ameaça feita por Jair Bolsonaro a um repórter do Globo que
perguntou sobre os depósitos suspeitos de Queiroz na conta da
primeira-dama mostra o desespero do presidente. Até hoje, ele não deu
qualquer explicação sobre o assunto. Por quê? Cadê a resposta,
falastrão?"
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- Deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder do partido na Câmara
"O que se espera de um presidente é que ele se comporte à altura do
cargo que ocupa. Ameaças à imprensa são ameaças à própria democracia.
Além disso, Bolsonaro tenta esconder o que aos poucos está vindo à tona:
seu envolvimento num esquema criminoso."
- Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), líder do partido na Câmara
"Postura totalmente inapropriada para um presidente da República.
Também revela sua intolerância e desrespeito com a imprensa. As palavras
de Bolsonaro constituem verdadeira ameaça à atividade jornalística.
Lamentável tal atitude.”
- Deputado José Guimarães (PT-CE), líder da Minoria na Câmara
"Veja o vídeo em que Bolsonaro diz querer encher a boca do repórter de
porrada. Quando perguntado sobre Queiroz, Bolsonaro partiu pra agressão
verbal contra o jornalista. Que fique registrado na história como um
tirano trata a imprensa e também o seu medo em falar sobre Queiroz.
Que fique marcada na história a tirania de quem nos governa. Bolsonaro
não mudou. Continua autoritário e vai continuar se irritando quando o
assunto é Queiroz. Ele sabe que sua família deve explicações."
- Senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do partido no Senado
"'A vontade que eu tenho é de encher sua boca de porrada'. É assim que o
Bolsonaro responde a um jornalista por perguntar a ele sobre uma
suspeita de corrupção. Acabou o tempo do Bolsonaro paz e amor!
#forabolsonaro"
- PSDB
"O presidente volta a mostrar apreço por posturas agressivas e
antidemocráticas. Desrespeita a liberdade de imprensa, em atitude que
não condiz com o cargo que ocupa. Agindo assim, não nega apenas uma
resposta ao jornalista; nega também a informação transparente aos
brasileiros."
- MDB
"O MDB defende a liberdade de imprensa e o respeito aos jornalistas
profissionais. O presidente da República precisa se retratar pelo que
disse ao repórter do jornal O Globo neste domingo. #PontoDeEquilíbrio"
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