By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: RPC – Imagem: Theo Marques (Estadão)
O ex-deputado estadual do Paraná Luiz Fernando Ribas Carli Filho foi condenado por duplo homicídio com dolo eventual a nove anos e quatro meses de prisão, pelas mortes de Gilmar Rafael Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida.
O júri popular que o condenou ocorreu entre a terça-feira (27) e esta
quarta-feira (28), na 2ª Vara Privativa do Tribunal do Júri, em
Curitiba. Os jurados consideraram que ele assumiu o risco de matar ao
dirigir em alta velocidade e alcoolizado.
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Apesar da condenação, Carli não vai para a prisão imediatamente. Ele
vai recorrer em liberdade (a defesa já confirmou que entrará com
recurso) porque, neste caso, como a condenação do júri foi confirmada
individualmente por um juiz, cabe reanálise em um órgão colegiado, ou
seja, por um grupo de magistrados.
O Conselho de Sentença do Tribunal do Júri foi formado por sete pessoas
da sociedade civil, escolhidas por sorteio em um grupo de 25,
previamente convocadas pela Justiça. O placar de votos não é divulgado
pela Justiça.
Carli deixou o tribunal calado, sob gritos de "assassino" . Na terça, o primeiro dia de julgamento, ele falou no plenário: pediu perdão às mães e assumiu ter errado, apesar de ressaltar que não teve a intenção de matar.
O promotor Marcelo Balzer comemorou o que ele chamou de "marco
divisório na justiça". "É um marco divisório na justiça desse país. É
uma conclusão democrática e um basta na violência no trânsito. Buscamos
aqui demonstrar que esse hábito de beber e dirigir não pode ser uma
banalidade", comentou o promotor Marcelo Balzer.
O advogado de defesa, Roberto Brzezinski Neto, disse vai analisar o
mérito e tomar as providências cabíveis. “Em relação a pena, a defesa
acredita que há possibilidade do tribunal rever. E também em relação ao
mérito, diante de algumas peculiaridades do caso concreto, nós
analisaremos e tomaremos as providências", afirmou.
O fato
De acordo com denúncia do Ministério Público do Paraná (MP-PR), o Passat de Carli voou pela avenida Monsenhor Ivo Zanlorenzi, no bairro Mossunguê, em Curitiba, e bateu no Honda Fit em que os dois jovens estavam, matando ambos na hora, em 7 de maio de 2009.
De acordo com denúncia do Ministério Público do Paraná (MP-PR), o Passat de Carli voou pela avenida Monsenhor Ivo Zanlorenzi, no bairro Mossunguê, em Curitiba, e bateu no Honda Fit em que os dois jovens estavam, matando ambos na hora, em 7 de maio de 2009.
O então parlamentar dirigia em velocidade entre 161 km/h e 173 km/h,
conforme apontaram laudos periciais feitos posteriormente, com a
carteira de habilitação cassada — 130 pontos e 30 multas, sendo 23 por
excesso de velocidade —, e alcoolizado (ele próprio confessou ter bebido
e dirigido). Ele teve ferimentos graves na cabeça e ficou internado por
quase um mês.
Durante esses nove anos, a defesa de Carli apresentou mais de 30
recursos no Tribunal de Justiça do Paraná, no Superior Tribunal de
Justiça e no Supremo Tribunal Federal, mas todos foram negados.
Acusação x defesa
Acusação e defesa debateram e apresentaram suas teses neste segundo dia de julgamento.
O primeiro a falar com o promotor Marcelo Balzer, que afirmou que Carli
Filho assumiu o dolo eventual, pois dirigiu embriagado, em alta
velocidade, falando no celular e com a carteira de motorista cassada.
Além disso, segundo o promotor, o réu não deu ouvidos às advertências
de pessoas que estavam com ele para não dirigir naquelas condições.
Para o promotor, a indiferença do ex-deputado diante da situação indica
o dolo eventual. "Ele [Carli Filho] era o carrasco da corda da
guilhotina", afirmou o promotor.
Depois do promotor, foi a vez de Elias Mattar Assad falar. Ele é
advogado das famílias das vítimas e assistente de acusação. Segundo ele,
a defesa sempre tentou culpar os mortos.
"Aquela rua era dele", falou o advogado sobre Carli Filho dentro do "possante" na noite do acidente.
Assim como o promotor, Assad afirmou que o ex-deputado assumiu o risco de dolo eventual.
O advogado ressaltou o fato de Carli Filho ser infrator de trânsito,
com diversas multas e estar à época do acidente com a carteira de
motorista cassada. Os 130 pontos da carteira de motorista mostram que
Carli Filho nunca aceitou o não das placas de trânsito e da lei, segundo
Assad.
O advogado ainda disse que, quem criou a situação de perigo, foi o réu.
"Se arrepender não quer dizer deixar de assumir o risco", avaliou.
Elias Mattar Assad chegou a dizer que há sangue das vítimas no Plenário do Tribunal do Júri.
A defesa procurou apresentar apontamentos que desqualificassem o dolo
eventual do processo, a fim de que o caso seja tratado como imprudência.
Em nenhum momento, foi pedida absolvição do réu.
"Ele [Carli] tem que ser condenado, mas não por homicídio doloso",
disse o advogado Alessandro Silvério. "Eu errei e peço para pagar pelo
meu erro, é isso que a defesa está pedindo. Muito mais que martírio, a
cruz de Cristo quer dizer piedade", afirmou.
Os advogados de defesa tentaram mostrar aos jurados que o carro de
deputado não decolou, como sustentou a acusação com base em laudos de
perícia que foi contestada pela defesa.
Além disso, um dos argumentos da defesa de Carli Filho é o de que como o
carro das vítimas não parou, mas apenas reduziu a velocidade no
cruzamento com semáforo intermitente, os jovens concorreram para o
acidente.
Após a arguição de 1h30 tanto para acusação quanto para defesa, ocorreu
um intervalo para o almoço. Na sequência, foram mais 1h para cada parte
de réplica e tréplica quando os ânimos ficaram mais exaltados.
Carli Filho saiu algumas vezes do Plenário, visto que não era obrigado a
ficar. Ele chorou após abraçar familiares depois da primeira fala da
acusação. Em outro momento, abaixou a cabeça quando o advogado falou das
cicatrizes no rosto do ex-deputado.
Ouça aqui áudios do juri.
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