By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Ralf Kunze (Pixabay)
O Ministério da Justiça (MJ) deve decidir, até o fim de junho, se vai
propor a redução de impostos sobre cigarros fabricados no Brasil. Em
março, uma portaria assinada pelo ministro Sérgio Moro instituiu um grupo de trabalho para avaliar se mudanças nos impostos ajudarão a "diminuir o consumo de cigarros estrangeiros de baixa qualidade".
A instauração do grupo foi criticada por especialistas em saúde e por
entidades do setor, inclusive ligadas ao próprio Ministério da Saúde (veja mais abaixo).
Profissionais da área afirmam que a medida não seria suficiente para
reprimir o mercado ilícito de cigarros, contribuiria para o aumento do
número de fumantes e acarretaria custos.
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O que se sabe sobre a iniciativa do MJ:
- Ministério informou em nota que estuda "formas de diminuir o consumo de cigarros contrabandeados, sem aumentar o consumo no Brasil".
- Governo afirma que os ministérios da Economia e da Saúde foram chamados a participar das discussões.
- Pasta cita como uma das bases da discussão no Grupo de Trabalho um estudo de economistas que questiona a "eficiência da estratégia de aumentar tributo" na redução do tabagismo.
- Oficializado em 23 de março, grupo tem 90 dias para a concluir os trabalhos.
- Em abril, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), ligado ao Ministério da Saúde, recomendou o fim do grupo de trabalho.
As conquistas do combate ao tabaco:
- A queda no tabagismo no Brasil é expressiva: o país já bateu a meta global, que é reduzir o percentual de fumantes na população para 15%.
- Em 2017, o total de fumantes na população brasileira era de 10,1% (2017), segundo o Ministério da Saúde. Em 1989, 34,8% da população brasileira fumava, segundo a OMS.
- Uma estimativa publicada em estudo na revista "PLOS Medicine", em 2012, aponta que cerca de 420 mil mortes foram evitadas no Brasil por políticas públicas implementadas entre 1989 e 2010.
- OMS estima que um em cada 10 cigarros consumidos globalmente sejam comprados no comércio ilegal.
- O Instituto Nacional do Câncer (INCA) diz que aumento de preços na ordem 10% seria capaz de reduzir o consumo em cerca de 8% em países como o Brasil
Base para o Grupo de Trabalho
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Após mais de um mês de sua oficialização, o Grupo de Trabalho realizou uma "reunião preliminar", conforme informado ao G1
pelo ministério. A pasta não informou a lista dos participantes, mas
disse que representantes dos ministérios da Saúde e da Economia foram
convidados.
Questionado pelo G1
sobre se existiam estudos que serviram como base para o debate sobre a
redução de impostos, o Ministério da Justiça citou um estudo de três
economistas apresentado em 2017. No texto “Uma alternativa de
combate ao contrabando de cigarro a partir da estimativa da Curva de
Laffer e da discussão sobre a política de preço mínimo”, os
economistas Mario Antonio Margarido, Matheus Lazzari Nicola e Pery
Francisco Assis Shikida concluem que a "eliminação da estratégia de
preços mínimos (...) afetaria drasticamente a rentabilidade da indústria
ilegal de cigarros".
O estudo avalia que, em um dos cenários de mudança de política de
preços por eles simulada, o aumento do faturamento da indústria nacional
seria de R$ 7,526 bilhões e de R$ 2,547 bilhões na arrecadação por meio
do IPI.
Os pesquisadores acreditam que a mudança na política de preços levaria
"fumantes de cigarros ilegais para o consumo dos cigarros legais." Além
disso, os economistas citam que os recursos arrecadados poderiam ser
usados em campanhas educativas e que a medida "reduziria gastos em
saúde", já que os cigarros ilegais apresentam "baixa qualidade".
Posicionamento do ministro
Em nota enviada para a Globo News, o ministro Sergio Moro ressaltou que
a redução é uma possibilidade e que nada está definido. Segundo Moro,
não é uma afirmação verdadeira dizer que o Ministério da Justiça quer
reduzir imposto de cigarro.
Moro ressaltou que a portaria deixa claro que é preciso avaliar a
redução de impostos aumentaria o consumo global. Ainda de acordo com o
ministro, a estimativa é de que mais de 40% do mercado seja dominado por
cigarros paraguaios, que são ainda piores à saúde do que os
brasileiros.
Possibilidade criticada
“Não faz sentido (diminuir os impostos”,
alerta Ciro Kirchenchtejn, membro da Comissão Científica de Tabagismo
da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). “Tem de
educar a população, promover medidas de prevenção ao crime, combater e
prender essas pessoas.”
Para ele, uma das medidas mais efetivas para reduzir o consumo do
cigarro está justamente na taxação do produto -- com o tabaco mais caro,
o acesso a ele fica mais restrito.
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Uma pesquisa de 2017 apontou que os
fumantes são 20% mais propensos a parar de fumar se o preço do produto
aumentar US$ 1. O estudo foi publicado no periódico científico
'Epidemiology'.
“Se o cigarro custa R$ 10 e o de contrabando custa R$ 3, o fumante não
vai deixar de comprar o ilegal se o preço cair um ou dois reais”,
pondera Kirchenchtejn. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que
um em cada dez cigarros (25%) consumidos globalmente são comprados no
comércio ilegal.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), um aumento de preços na
ordem 10% seria capaz de reduzir o consumo de produtos derivados do
tabaco em cerca de 8% em países como o Brasil.
Em abril, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) se posicionou contra a
possível iniciativa de reduzir os impostos do cigarro. O órgão publicou
uma recomendação ao Ministério da Justiça e Segurança Pública para
extinguir o grupo de estudo.
"É uma decisão temerária e extremamente problemática para a saúde
pública, visto que aumenta o consumo de cigarros (...) e impacta direto
no SUS, demonstrando-se ser uma alternativa controvertida, desnecessária
e polêmica que atende única e exclusivamente os interesses do lobby da
indústria do tabaco", diz o texto do CNS.
Confira AQUI a matéria completa.
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