quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Com escassez de profissionais, técnicos ganham até R$ 12 mil



By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Portal Terra Imagem: Divulgação

Por que só pobre faz isso?" A pergunta foi feita via Twitter pelo usuário volta@loenisonfire, segundos após a BBC Brasil convidar seus leitores a colocarem suas dúvidas sobre o ensino técnico e profissionalizante e a carreira de quem segue essa área no Brasil.
O tema entrou na agenda eleitoral em função de uma das vitrines de campanha da presidente Dilma Rousseff ser o Programa Nacional de Ensino Técnico e Emprego, ou Pronatec, que patrocina cursos profissionalizantes em entidades públicas e privadas. Tanto a candidata pelo PSB, Marina Silva quanto Aécio Neves, do PSDB, prometem expandir o programa, mas defendem ajustes e mais controle sobre seus resultados.
Um dos objetivos da iniciativa é suprir a falta de profissionais com qualificações específicas no mercado brasileiro - apontada como um gargalo importante da nossa economia.
Hoje, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), só 6% dos jovens fazem curso técnico no Brasil, enquanto a média da OCDE é de 35%.
Entidades ligadas a indústria e ao sistema S (Senai, Senac, etc) garantem que tal escassez faz do mercado de trabalho para os técnicos um verdadeiro poço de oportunidades.
"Já temos técnicos ganhando até R$ 12 mil no auge da carreira - mais do que recebe muita gente com curso superior", disse à BBC Brasil Rafael Lucchesi, diretor do Senai. "Com dez anos de trabalho, há setores em que se ganha R$ 8 ou R$ 9 mil em média e não raro temos áreas técnicas com remuneração de R$ 5 ou $ 6 mil."
Na página da BBC no Facebook, leitores contam histórias mais diversificadas sobre a trajetória dos que optam por esse ramo de carreira. Wellington Antonio, por exemplo, é um dos céticos.
"Eu quero saber onde uma pessoa com nível técnico ganha R$ 12 mil, só se for R$ 12 mil por ano. As empresas nem querem saber de técnicos, exigem graduados e de determinadas instituições ainda por cima e não pagam mais que 2 salários mínimos. A pesao formada em curso técnico é marginalizada", escreve ele.
Daniel Alves acredita ter feito a escolha certa ao optar por um curso técnico: "Sou técnico e ganho mais que muito e engenheiro". "Parei minha faculdade e não me arrependi. Escolhendo a área certa tudo corre bem e consguimos uma vida confortável".
Já Samara Silva conta que, onde ela mora, em Minas, há muitos técnicos desempregados.
"Com a facilidade que existe aqui de se fazer um curso técnico, a maioria dos jovens possui curso técnico e quase todos continuam desempregados".
Curso técnico ou faculdade?
Mas afinal, como questionou o leitor "aparecido" no Twitter, "o que é mais proveitoso, fazer um curso técnico (muita prática) ou uma faculdade (muita teoria)?"
Para Márcia Almstrom, diretora de Recursos Humanos da Consultoria ManPowerGroup, a resposta depende do curso em questão.
É claro que um curso superior em uma faculdade reconhecida e em uma área como medicina ou engenharia continua a ser garantia de um salário gordo no fim do mês.
Segundo Almstrom, porém, a crença de que um diploma universitário era necessário para abrir as portas para os profissionais no Brasil motivou a proliferação de cursos de graduação que nem sempre têm qualidade ou oferecem qualificações requeridas pelas empresas.
"Muita gente passou a achar que valia mais a pena fazer qualquer faculdade do que um curso técnico - e isso não é verdade", diz Almstrom.
"A regra geral é que mais vale um bom curso técnico, com as qualificações que as empresas precisam, do que um curso superior de pouca qualidade, em áreas de humanas que pouco atendem necessidades do mercado."
É claro que um curso superior em uma faculdade reconhecida e em uma área como medicina ou engenharia continua a ser garantia de um salário gordo no fim do mês.
Segundo Almstrom, porém, a crença de que um diploma universitário era necessário para abrir as portas para os profissionais no Brasil motivou a proliferação de cursos de graduação que nem sempre têm qualidade ou oferecem qualificações requeridas pelas empresas.
"Muita gente passou a achar que valia mais a pena fazer qualquer faculdade do que um curso técnico - e isso não é verdade", diz Almstrom.
"A regra geral é que mais vale um bom curso técnico, com as qualificações que as empresas precisam, do que um curso superior de pouca qualidade, em áreas de humanas que pouco atendem necessidades do mercado."
Os especialistas enfatizam que esse ramo de carreira não é uma panaceia. Para começar, como destaca o professor Gabriel Grabowski, que estuda a evolução do ensino técnico no Brasil na universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, as oportunidades variam de acordo com os setores e regiões do País.
Há áreas "mais quentes" e, evidentemente, perfis de profissionais que tendem a crescer mais na carreira. "É preciso identificar os setores 'em alta'. Um técnico da indústria calçadista vai ganhar menos hoje que um técnico em mineração", diz Grabowski.
Segundo dados da CNI, a média salarial de um "técnico químico", por exemplo, é de R$ 2.746, valor que pode chegar a R$ 4.240 após dez anos de carreira. Já um "supervisor de produção em indústrias químicas, petroquímicas e afins" ganha, em média, R$ 4.433 - e R$ 6.553 após dez anos de carreira.
Entre as ocupações técnicas industriais pelas quais haveria mais demanda estariam a de técnico em topografia, agrimensura e hidrografia (média salarial de R$ 2.135), técnico em construção civil (R$ 3.461) e técnico em segurança do trabalho (R$ 2.834).
Já os mais bem pagos seriam os técnicos em mineração (R$ 5.731 em média e R$ 9.674 após 10 anos de carreira), técnicos petroquímicos (R$ 6.311 e R$ 8.306) e operadores de instalações de geração e distribuição de energia elétrica, hidráulica, térmica ou nuclear (R$ 5.038 e R$ 8.294)
Almstrom diz que entre os setores em alta e que oferecem boas perspectivas no médio e longo prazo estão os ligados a Saúde e Meio Ambiente.
Ela enfatiza, porém, que mesmo entre os técnicos há um grande fator de diferenciação profissional ligado às habilidades de gestão e relacionamento interpessoal de cada um.
"Seria interessante para o profissional técnico que quer subir na carreira fazer um curso que desenvolva sua capacidade de liderança, de ser um organizador e facilitador em meio a conflitos. São essas habilidades que fazem com que um jovem contratado para ser um Help Desk, acabe supervisionando sua equipe."

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