sábado, 14 de dezembro de 2024

BR-277: Bloqueio da Serra da Esperança causou R$ 1 milhão de prejuízo por dia à economia do Paraná, e escancarou problema histórico

By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1/PR Imagem: RPC
A Serra da Esperança, trecho entre os kms 302 e 311 da BR-277 que fica em Guarapuava, na região central do Paraná, ficou totalmente bloqueada entre a noite de sábado (7) e o início da noite de quinta-feira (12) devido a uma série de deslizamentos de terra que atingiram a rodovia durante as fortes chuvas dos últimos dias. 
Nos dias de bloqueio, a única rota alternativa disponível nas proximidades foi a PR-364; porém, por ela não contar com capacidade para receber alto fluxo de caminhões, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PR) orientou condutores de veículos pesados a não a utilizarem.  
Com isso, filas de caminhões se formaram à espera da liberação da serra - e cada dia de bloqueio gerou, em média, cerca de R$ 1 milhão de prejuízo, de acordo com estimativas da Federação das Indústrias (Fiep) e da Federação das Empresas de Transporte de Cargas (Fetranspar) do Paraná. O fato também escancarou os problemas históricos de logística e estrutura que permeiam a região da serra. 
Desde 2023, pelo menos seis grandes deslizamentos foram registrados na Serra da Esperança, Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). 
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Três deles causaram bloqueios na rodovia, que funciona como uma ligação rodoviária não só da região de Guarapuava, mas também entre o oeste e o leste do estado e entre cidades do Mato Grosso do Sul ao litoral paranaense - onde fica o porto que, segundo dados oficiais, é o segundo maior do Brasil.
"Diferentemente da região norte do Paraná, que ainda tem uma opção de transporte ferroviário que faz com que cerca de 80% de suas cargas sejam transportadas pelo modal rodoviário e 20% pelo ferroviário, o oeste, centro e leste do Paraná são totalmente dependentes da rodovia. 98% de suas cargas saem pelo modal rodoviário e apenas 2% sai pelo modal ferroviário. Ou seja, qualquer impacto na rodovia é impacto muito grande para o setor produtivo", afirma João Arthur Mohr, superintendente da Fiep.
Para explicar o contexto histórico e logístico da Serra da Esperança, as possíveis soluções para a região e o que está sendo programado para a estrutura do local, o g1 conversou com entidades e especialistas.  
A Serra da Esperança foi construída na década de 1970. Desde então, foram feitas melhorias na estrutura, mas nenhuma mudança de traçado ou rota alternativa que contemple o alto fluxo da região.
A observação é de Maurício Camargo Filho, professor da Unicentro que é doutor em Geografia e integrante dos Conselhos Municipal do Meio Ambiente de Guarapuava e da Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Esperança.
Ele ressalta que, de lá pra cá, aumentou o fluxo e o tamanho de veículos que circulam no trecho. Estimativa da Fiep aponta que cerca de dois mil caminhões passam diariamente pela BR-277.
Isso porque o trecho da Serra da Esperança liga a metade oeste do Paraná e o Mato Grosso do Sul ao litoral paranaense. Lá fica o porto de Paranaguá que, conforme dados próprios, é o segundo maior porto público do Brasil, o que mais exporta frango e importa fertilizantes, e o segundo que mais exporta soja, açúcar e outros itens. 
Viaduto, túneis e sistema de dissipação de água estão entre soluções sugeridas por especialistas
Segundo a PRF, desde sábado (7) foram registrados sete pontos de deslizamentos na Serra da Esperança. 
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O primeiro foi no km 309, que ocupou as três faixas de rolamento e motivou a interdição total em ambos os sentidos. Com a continuidade das chuvas, novos pontos de deslizamento foram registrados nos kms 305, 306, 307, 308, 310, e 315.
O professor Maurício Camargo Filho explica que, de forma geral, quatro elementos possuem influência na causa de deslizamentos, além da força da gravidade:

  • tipo das rochas - e a estrada da serra foi construída em arenitos, que são suscetíveis à erosão;
  • declividade - que só pode ser amenizada em serras com altos investimentos em estruturas como terraços, por exemplo, que em contrapartida geram altos impactos ambientais;
  • cobertura de solo erosivas- que na Serra da esperança está em uma rochas suscetíveis à erosão e com declividade elevada;
  • "veículo" do deslizamento - nesse caso, a água proveniente das chuvas.

"Quando nós saturamos o solo com esses níveis pluviométricos elevados que tivemos nos últimos dias e também no passado, a água preenche os poros e funciona como se fosse uma graxa, permitindo o deslizamento com maior facilidade, porque ela retira a parte do atrito e aí você tem o escorregamento. Então a água é o elemento chave, porque ela é o veículo que vai fazer com que todos os outros elementos trabalhem em conjunto e a gravidade puxe tudo pra baixo", detalha.
Soluções naturais
Para o especialista, a solução a médio prazo é reduzir o impacto da água na encosta. Ele conta que estudos feitos pela Unicentro verificaram que a Serra da Esperança possui um sistema de dissipação de água que funcionou por décadas, mas foi corroído pelo tempo.
"São drenos, valas que foram construídas bordejando as áreas de maior declividade e lançando a água da chuva para a periferia da serra", explica, afirmando que a reconstrução do sistema pode ser benéfica para o escoamento no local.
Ele também ressalta que manter a mata no local é importante porque as árvores, apesar de terem um peso considerável, possuem raízes que atuam como forma de estabilidade da vegetação nas rochas.
Soluções estruturais
João Arthur Mohr, superintendente da Fiep, sugere implantar estruturas preventivas no local. Uma delas é a colocação de telas metálicas chumbadas na rocha, como foi feito na BR-376, entre Curitiba e Joinville, e na BR-277, entre Curitiba e Paranaguá, também depois de deslizamentos. 
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Ele também cita a necessidade do monitoramento constante das encostas, sistemas de drenagem de água e construção de muros de arrimo - mas cita que essas não são medidas a longo prazo.
Alternativas
Para ele, o que pode resolver é criar rotas alternativas com estruturas alternativas, como viadutos e túneis, por exemplo.
"A solução de longo prazo envolve novos traçados nas serras, utilizando túneis e viadutos com raios de curva mais suaves, que evitam que as serras tenham índice alto de acidentes como um todo, em função delas serem muito inclinadas e terem curvas muito fechadas. Muitas vezes os caminhões acabam perdendo o freio, seja por sistema de manutenção, seja por desatenção de motoristas, e causam grandes graves acidentes como um todo", cita.
Ele ressalta que o país construiu as serras com as tecnologias disponíveis na época - contornando e fazendo zigue-zague em montanhas -, mas que avanços na construção permitem a modernização das estruturas.
"Quando você faz túnel, mesmo que haja um regime de chuvas muito grande e deslizamento na montanha, obviamente o túnel fica completamente intacto, porque ele está dentro da montanha com uma camada revestida de concreto"   
Como exemplos de sucesso, cita a Rodovia dos Imigrantes, que liga São Paulo a Santos, a Rodovia dos Tamoios, que liga São Paulo ao litoral norte de São Paulo, e a Serra do Cafezal na Régis Bittencourt, que liga São Paulo a Curitiba. Nesse caso, a pista antiga que contornava as montanhas é usada apenas para subida e foi construída uma nova pista de descida específica com túneis e viadutos, afirma.
O professor Maurício Camargo Filho concorda e afirma que, nos anos 2000, a construção de um viaduto já foi discutida, mas o projeto nunca foi colocado em prática.
"Pelo Conselho da APA da Serra da Esperança, nós pedimos que fosse feita uma duplicação e através de um viaduto. Isso tinha duas vantagens: reduzir a formação de 'comboio' nesse trecho e com impacto ambiental bem menor, porque você só vai até o ponto, levanta a pilastra e faz o lançamento da pista", avalia.
Especialista alerta para problema erosivo que - ainda - não é visível
O doutor em Geografia alerta que, apesar do histórico de deslizamentos, o maior problema estrutural da Serra da Esperança é outro - que ainda não aparece a olho nu.
"O maior problema da BR-277 nesse trecho não é o que nós enxergamos acima, é o que está embaixo da pista de rolamento. 
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Saindo de Guarapuava pra Ponta Grossa, antes da cabeceira do primeiro viaduto, a base está com processo erosivo muito forte, chegando muito próximo da pista de rolamento. Ali, sim, é o maior problema que nós temos, mas nós não enxergamos porque está ocorrendo abaixo da pista de rolamento", avisa.
Historicamente, o trecho da Serra da Esperança era gerido por uma concessionária. O contrato acabou em 2021 e, desde então, a estrada voltou à responsabilidade do Governo Federal.
Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), durante a lacuna entre os dois contratos de concessão estão previstas apenas obras emergenciais, como, por exemplo, as que estão sendo realizadas atualmente para liberar o tráfego e serviços de manutenção rotineira.
Para o novo contrato, que deve entrar em vigor, estão previstas algumas obras no local.
O trecho da Serra da Esperança está incluído no lote 6 das novas concessões rodoviárias do Paraná. O leilão está agendado para o dia 19 de dezembro na B3, a Bolsa de Valores do Brasil.
Ao g1, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) afirmou que nem na concessão e nem fora dela está prevista implementação de rota alternativa para a Serra da Esperança.
Segundo a ANTT, o edital da concessão prevê as seguintes obras para o trecho da Serra da Esperança:

  • duplicação do trecho;
  • implantação de dois dispositivos tipo diamante - viadutos em que há uma saída e um acesso para a rodovia principal em ambos os sentidos pela pista da direita, no km 306 e no km 309;
  • construção de uma ponte sobre o Rio Xaxim (km 307) no sentido crescente;
  • instalação de iluminação entre os quilômetros 308 e 316.
"Vale lembrar que, além disso, como um todo, o projeto do Lote 6, que compreende 662,12 km de extensão no estado do Paraná, prevê obras significativas de ampliação de capacidade, incluindo duplicações, implantação de faixas adicionais, contornos e vias marginais", complementa o órgão.  

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