By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: JORNAL EXTRA – Imagem: Divulgação
O mineiro Edson Portela Jr. é um gigante. Não apenas no
apelido, mas da vida. Vendedor de picolé há mais de cinco anos, ele
chegou à Região dos Lagos do Rio de Janeiro há dois anos, onde trabalhou
nas cidades de Búzios e de Cabo Frio, até se mudar para Arraial do
Cabo, em outubro de 2020, durante a pandemia da Covid-19. Eletricista de
formação, o homem de 43 anos conseguiu emprego em uma sorveteria de uma
das maiores marcas de sorvetes do Brasil, mas não conseguiu vender os
produtos nas areias das lindas praias de Arraial, por conta de "ponto",
que não atraía muita gente. Sem desistir de fazer o que mais gosta, ele
percebeu rapidamente uma demanda que nunca havia sido atendida: os
turistas que faziam passeios de escunas. Como a
caixa habitual de isopor que utiliza para manter os picolés gelados boia
na água, ele nada quase que diariamente na Praia do Forno, das 10h às
16h, para subir e descer em cada embarcação que ali para com visitantes.
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A praia possui cerca de 500 metros de extensão, com águas claras e não
tão geladas quanto outras da cidade. Ele tem cerca de 10 e 15 minutos
para fazer as vendas, cair na água e tentar fregueses em outro barco.
Conhecido na área, Gigante até consegue algumas caronas
com os botes das escunas para agilizar o seu trabalho e não deixar a
clientela ir embora sem antes comprar um picolé. Ele brinca que muitos
turistas tiram fotos e se impressionam quando o veem nadando puxando o
isopor na água. Assim, acabam comprando o produto para ajudá-lo.
—
Eu vendo de uma forma diferente. Muitos turistas, quando me veem no
mar, riem e até se assustam, por ser incomum. Mas eles olham o meu
esforço, elogiam minha iniciativa e acabam comprando. Para mim, é
gratificante. Estou trabalhando e sendo conhecido, e essa rede de apoio
me faz me manter firme — diz.
Em um dia bom, Edson chega a tirar entre R$ 150 e R$ 200
com a venda dos picolés, enquanto num movimento ruim, o valor cai para
R$ 100. Em tempos de pandemia do coronavírus, não é todos os dias que
ele consegue trabalhar. Ele ainda precisa contar com a sorte da
meteorologia e da permissão da Marinha para que as escunas saiam
normalmente. Mas nem isso abala o fato de o mineiro amar fazer o seu
trabalho, e olha que ele já passou por várias profissões: motorista de
táxi, de caminhão, frentista e até na roça. A carreira de vendedor de
sorvetes começou em 2016, em Guarapari (ES), e ele tem certeza de que
não quer viver fazendo outra coisa.
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— O dinheiro que
recebo não é muito, mas paga meu aluguel, as contas e meu alimento. Mas
tem que trabalhar feliz, de forma leve. Eu gosto do que eu faço, gosto
demais de trabalhar com o público, no mar, na praia... Sei que toda a
situação vai melhorar — diz o mineiro, que tem um sonho para melhorar
seu trabalho:
— Queria muito ter um bote com motor
para ajudar. Eu não me importo de nadar, de usar essa roupa de vendedor
na água. Mas o bote me ajudaria a poder ir mais rápido de uma escuna
para outra, de poder ir para Cabo Frio e outras praias para continuar as
vendas. Poderia até vender mais — afirma.
Apelo nas redes sociais
Uma
das pessoas sensibilizadas pela história e a disposição do vendedor de
picolé foi a jornalista Tatiana Zanatta. Em um passeio de escuna por
Arraial do Cabo, ela procurava por tartarugas marinhas quando se deparou
com o isopor flutuante. Ela registrou imagens de Edson Portela e
divulgou a história dele em uma rede social.
A
inciativa era para ajudá-lo a conseguir um 'transporte", como um
caiaque, um bote ou canoa para que pudesse agilizar o processo das
vendas e de subidas em embarcações. A jovem até marcou a Nestlé, dona da
sorveteria onde Edson trabalha, para que pudesse contribuir de alguma
forma. O apelo foi tão grande que o gerente da empresa no Rio de Janeiro
ligou para o vendedor nesta terça-feira, dia 2, e informou que a
empresa lhe ajudaria com um caiaque.
— Todos do barco
estavam procurando tartarugas naquelas águas cristalinas de Arraial.
Quando viramos para procurá-las no outro lado, nos deparamos com um
isopor flutuante vindo da areia em nossa direção. Atrás dele, estava o
Gigante. A distância é bem razoável e Gigante não é mais um menino.
Chegou no barco todo molhado.
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Eu não consegui engolir que ele trabalhava
todo dia naquelas condições. Conversei com ele, peguei o contato e
resolvi ajudar — contou Tatiana.
O mineiro chegou a ganhar de presente uma roupa de
mergulho emborrachada e pés de pato para encarar a água gelada de
Arraial do Cabo fora do verão, mas ele sente que ela pesa mais. Também
recebeu uma prancha de stand up paddle, mas não consegue aprender a usar
e ficar em pé na água para ajudar nas vendas. Agora com o caiaque, as
coisas já vão melhorar. Quem sabe, um dia, venha o tão sonhado bote de
presente.
— O gerente da Nestlé do Rio viu a postagem
da menina e me ligou para dizer que eles vão me dar um caiaque. Que
bênção! É Deus trabalhando para me ajudar. Eu agradeço muito a ela
(Tatiana), porque foi por causa da publicação dela que isso tudo está
acontecendo na minha vida — agradeceu o vendedor.
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