By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: E-FARSAS – Imagem: Divulgação
Conforme podemos ver acima, existe uma imagem e sua descrição sugere identificar se uma pessoa possui ou não algum problema de visão. Eis o suposto diagnóstico:
- 3246 = Astigmatismo e Miopia
- 3240 = Somente Astigmatismo
- 1246 = Somente Miopia
- 1240 = Olhos saudáveis
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Entretanto, será que esse teste é mesmo confiável? Será que isso
dispensa uma consulta com um oftalmologista? Descubra agora, aqui, no
E-Farsas!Verdadeiro ou Falso?
Falso! O “teste” não passa de uma ilusão de ótica! Em primeiro lugar, é possível notar que há algo muito errado com esse teste a partir dos comentários. Alguns usuários, sem nenhum problema de visão, viram os números 3246, independentemente da distância que estavam da tela. Segundo o teste, esses números representariam uma pessoa com miopia e astigmatismo. Já outras pessoas viram os números 1240, que indicaria “olhos saudáveis”, mas elas possuíam apenas astigmatismo. Somente por isso, é possível dizer que esse “teste de visão” é totalmente impreciso.
Em segundo lugar, ao fazer uma rápida busca por imagens semelhantes na internet, encontramos imagens com “aspectos” levemente diferentes. Isso poderia fazer, inclusive, vocês enxergarem sequências numéricas diferentes, apesar de ser essencialmente a mesma imagem.
Todos conseguem enxergar os mesmos números em todas as imagens? Particularmente, sem muito esforço consigo ver os números 1246, 1240 e 3246 dependendo da imagem. E se isso acontece ou não com você, sabe o que isso significa? Nada. A questão não está exatamente nos olhos, mas em nossos cérebros! Vamos começar a explicar isso direitinho para vocês, a partir de agora!
De Onde Esse “Teste” Surgiu?
Essa é uma boa pergunta! Embora tenhamos encontrado essa imagem em uma publicação de um site armênio no dia 1º de maio de 2019 (colocamos apenas uma captura de tela por considerarmos o site inseguro de ser acessado), tudo indica que a recente viralização aconteceu a partir das redes sociais e grupos do WhatsApp, na Indonésia. Uma das usuárias mais citadas foi a @inganggita, no Twitter, que publicou esse “teste” no dia 4 de maio.
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Não demorou muito tempo para que o “teste” se espalhasse ao redor do mundo, a exemplo da Argentina, México e da Itália. Independentemente do país, diversos sites publicaram opiniões de oftalmologistas sobre esse caso. O Infobae,
por exemplo, consultou o Dr. Nicolás Fernández Meijide, chefe de
Transplante de Córnea e Cirurgia Refrativa do Hospital Italiano de
Buenos Aires, na Argentina. Segundo ele, não é possível categorizar a função visual de uma pessoa por uma simples imagem ou exercício da visão. Nicolás afirma que a percepção visual é algo subjetivo, e o teste não é nem um pouco convencional.Aqui no Brasil, o G1 consultou dois oftalmologistas do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). O Dr. Wallace Chamon e o Dr. Luiz Formentin também alegaram, que o “teste” não era reconhecido pela comunidade médica e não tinha nenhum fundamento científico. Um deles, inclusive, chegou a dizer, que o teste “usava a diferença de velocidade da luz nas diferentes cores” (acredito que ele tenha se referido a comprimento de onda/espectro visível de luz, e não exatamente a velocidade da luz), mas que não tinha sua validade reconhecida.
A Explicação Para Tantas Interpretações Diferentes e o Número Original da Imagem!
Na verdade, conforme dissemos anteriormente, se trata de uma ilusão de ótica! A imagem está simplesmente embaçada! É justamente isso que a Dra. Elena Rodrigo Diaz de Cerio, pesquisadora associada na Divisão de Farmácia e Optometria da Faculdade de Biologia, Medicina e Saúde da Universidade de Manchester, na Inglaterra, disse para o site de verificação de fatos “Maldita Ciência“.
Segundo a pesquisadora, se esse “teste” fosse realmente válido, todas as pessoas que possuem ou não alguma problema deveriam ver a mesma coisa (cada grupo deveria ver a mesma coisa). Porém, não é isso que acontece. O motivo de toda essa confusão? Ao estarmos diante de uma imagem embaçada é justamente o que aconteceria se tivéssemos os problemas supostamente identificáveis em sua descrição.
Tanto a miopia quanto o astigmatismo fazem com que as pessoas enxerguem os objetos de forma desfocada ou distorcida. Na miopia isso acontece de maneira uniforme. Já no astigmatismo isso ocorre, digamos, mais predominantemente numa determinação direção. Uma pessoa podem enxergar linhas ou objetos mais desfocados na horizontal do que na vertical, vice-versa ou em qualquer outra direção.
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Por Qual Motivo Algumas Pessoas com o Mesmo Problema ou Sem Nenhum Problema Veem uma Sequência Numérica e Outras Não?Nosso cérebro nos ajuda a lidar com situações pouco claras de maneira eficaz. Quando vemos algo embaçado, tentamos descobrir, mesmo sem nos darmos conta, o que estamos vendo. De acordo com Elena, uma pessoa poderia confundir um “4” com um “A” ou um “O” com um “Q”, mas raramente confundiria um “8” com um M”, por exemplo. Se fosse um “B” com um “6”, provavelmente poderia haver alguma confusão.
Repararam num detalhe interessante? Todas as sequências possuem os números “2” e “4” em comum, exatamente no meio delas. E isso não é aleatório! Nessa ilusão de ótica, os números “2” e “4” estão mais definidos que os demais. Portanto, é mais difícil confundi-los com os restantes. Essa é a razão pela qual a absoluta maioria das pessoas consegue ver perfeitamente o “2” e o “4”.
No entanto, a primeira posição possui uma definição menor, de modo que não fica tão evidente se é um “3” ou um “1”. Exatamente o mesmo acontece com o último número, especialmente com a parte superior, de modo que não sabemos se aquilo que vemos é um “6” ou “0″. Segundo Elena, os pontos que delimitam o perfil desses números têm uma menor diferença de contraste em relação ao fundo da imagem. Assim sendo, é plenamente possível, que as pessoas que tenham ou não um problema de visão, enxerguem a mesma sequência numérica!
Outros Pontos a Serem Destacados
Jorge Ares, professor de Óptica e Optometria na Universidade de Saragoça, na Espanha, forneceu outro motivo para demonstrar que essa imagem não serve para diagnosticar ou verificar qualquer problema de visão. Segundo Jorge, há várias inconsistências nesse “teste”. Em primeiro lugar, está a metodologia utilizada. O aspecto de um objeto observado depende (além da ametropia ou grau do observador) da natureza do estímulo e a distância em que ele é observado.
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Uma vez que não é sugerido o tamanho
com que temos ver ou a distância que temos que ficar da imagem, abre-se
margem para diversas interpretações.Reparem no comparativo que fizemos abaixo, e notem se há alguma diferença (lembrando que é exatamente a mesma imagem, porém em tamanhos diferentes):
Jorge Ares ainda deu um exemplo bem interessante. Se essa imagem for destinada a ser vista a partir de um celular (cerca de 5 a 30 centímetros), ela seria inválida, uma vez que não se consegue medir problemas de visão esférica, assim como a miopia ou hipermetropia, já que esses problemas devem ser aferidos de uma distância maior.
A Sequência Numérica Escondida por Trás da Imagem!
Um usuário chamado Renato Domingos alegou ter descoberto os números originais por trás da imagem. Seriam os números 3246!
Em uma publicação realizada no dia 14 de maio, no Facebook, ele disse ter aplicado um filtro no Photoshop e divulgou os resultados:
E agora, ficou mais perceptível para vocês? Caso não tenha ficado mais perceptível, não se preocupem, é realmente uma ilusão de ótica e pode variar conforme o cérebro de cada um interpreta o que está vendo!
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ConclusãoO “teste de visão” é falso! Trata-se apenas de uma ilusão de ótica! Ver uma ou mais sequências numéricas não significa que você tenha ou não um problema de visão. Essa é uma questão de como o nosso cérebro acaba interpretando imagens com pouca definição, porque ele acaba tentando adivinhar aquilo que estamos vendo. Diga-se de passagem, isso também não significa que uma pessoa seja mais ou menos inteligente do que outra.
Por fim, caso você perceba algo de errado com sua visão ou se preocupou de alguma forma após fazer esse teste, consulte um oftalmologista de sua preferência. Não acredite em testes virais de internet. Procure sempre um ou mais profissionais especializados, que possuam equipamentos específicos, certificados e com metodologia científica para fazer tais testes.
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