By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
O Ministério Público Federal (MPF) reafirmou, na quinta-feira (11), que
os recibos de aluguéis apresentados pela defesa do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva são falsos. A declaração consta nas alegações
finais de um processo que apura a autenticidade dos documentos, que foram anexados pelos advogados do petista, acusado de receber propina da Odebrecht.
Os recibos são assinados pelo empresário Glaucos da Costamarques, dono
de um apartamento vizinho ao que o ex-presidente mora, em São Bernardo
do Campo, na Grande São Paulo. Além deles, os advogados de Lula também
entregaram à Justiça a cópia do contrato de aluguel, firmado entre o
empresário e a ex-primeira-dama Marisa Letícia. Dois deles apresentam datas que não existem no calendário.
De acordo com a denúncia do MPF, Costamarques comprou o imóvel com
dinheiro da Odebrecht. A quantia teria sido repassada ao empresário para
disfarçar o real proprietário do imóvel que, segundo os procuradores, é
o ex-presidente Lula.
A defesa de Lula, no entanto, rebate a tese e diz que o imóvel era
alugado pela família do ex-presidente há vários anos, desde quando
pertencia a outras pessoas. O apartamento é usado, entre outras coisas,
para abrigar os seguranças que fazem a escolta pessoal de Lula.
Pagamentos após 2015
O contrato de aluguel entre Costamarques e a ex-primeira-dama foi
assinado no ano de 2011. No entanto, o empresário afirmou várias vezes à
Justiça que só começou a receber o dinheiro do imóvel da família do
ex-presidente após o mês de novembro de 2015.
O empresário contou que, naquele mês, estava internado no Hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo, passando por um tratamento cardíaco, quando
recebeu uma visita do advogado de Lula, Roberto Teixeira.
Nessa visita, o advogado teria lhe pedido para assinar uma série de
recibos referentes aos anos em que os aluguéis ainda não tinham sido
pagos. Em seguida, ele receberia os valores atrasados e passaria a
receber o dinheiro mensalmente.
Dias após a alegada visita do advogado, o contador João Muniz Leite,
que prestava serviços a Lula e a Glaucos foi ao hospital, levando vários
recibos, que foram assinados no mesmo dia.
A visita do contador foi narrada por ele próprio em depoimento à
Justiça e corroborada por documentos enviados pelo hospital. No entanto,
conforme dados do Sírio-Libanês pelo hospital ao juiz Sérgio Moro, não
há qualquer registro da entrada de Roberto Teixeira no hospital, no
período mencionado por Costamarques.
Já o MPF diz que há outros elementos que comprovariam esse contato de
Teixeira com Costamarques, como uma série de ligações telefônicas feitas
pelo advogado ao empresário, no período de internação. Apesar da
avaliação do MPF, a defesa de Costamarques ainda insiste na versão das
visitas ao hospital.
No documento apresentado à Justiça, na quinta-feira, o MPF insiste que
os recibos foram produzidos apenas para dar um lastro de legalidade ao
contrato de aluguel, o qual, na avaliação dos procuradores, é fictício.
"Ademais, em vista do farto acerto probatório que atesta a ausência de
relação locatícia real, deve ser dito o óbvio, em resposta à tentativa
insistente e precária da defesa de provar a existência de pagamentos
única e exclusivamente invocando a força probatória atribuída pela lei
civil a recibos de pagamento: documentos ideologicamente falsos não
fazem prova de pagamento ou quitação. Ao contrário, a falsidade do
recibo concorre francamente para confirmar os matizes criminosos dos
atos que tentam, em vão, lastrear", diz o MPF no documento.
Durante o andamento dessa análise dos recibos, a defesa de Lula
apresentou à Justiça um relatório feito por um perito particular nos
recibos. Segundo o documento, todos as as assinaturas de Costamarques são verdadeiras e os recibos não foram assinados no mesmo dia, diferente do que afirma o MPF.
Próximos passos
Agora, o juiz Sérgio Moro deverá receber as alegações finais tanto da
defesa de Lula, quanto de Costamarques, que foram citados no incidente
de falsidade. Em seguida, o juiz deve decidir se considera os recibos
apresentados por Lula como ideologicamente falsos, como quer o MPF ou se
vai apontá-los como verdadeiros, tal como pediram os advogados do
petista.
Independente da decisão, o resultado desse processo será anexado à ação
penal que trata do caso e poderá ser usado tanto nas alegações finais
do MPF e das defesas dos réus, quanto na sentença, que será proferida
pelo juiz Sérgio Moro.
Outro lado
Em nota, a defesa do ex-presidente Lula voltou a dizer que o petista é
vítima de lawfare, ou seja, do uso da máquina jurídica como forma de
intimidação e perseguição. "Ao invés de reconhecerem a improcedência da
acusação, os procuradores passaram a colocar indevidamente sob suspeita a
autenticidade dos recibos", diz trecho da nota.
Os advogados de Lula lembram que o MPF desistiu de pedir uma perícia nas assinaturas de Glaucos nos recibos.
"Depois, diante da prova de que os recibos haviam sido assinados pelo
proprietário do imóvel, os procuradores desistiram de pedir uma perícia
em relação aos documentos, passando a sustentar que eles seriam
“ideologicamente falsos”, pois, segundo a versão apresentada, os
aluguéis não teriam sido efetivamente pagos. A acusação é inverídica e
descabida", afirmam.
"O Ministério Público Federal quer atribuir valor probatório à
declarações de Costamarques no que se refere aos aluguéis, mas ao mesmo
tempo despreza sua afirmação de que é o proprietário do imóvel e não
'laranja' de Lula", segue a defesa do petista.
Para os advogados, "ao agir dessa forma, o MPF revela que não tem
critério na escolha das provas. Reconhece como idôneo somente aquilo que
confronta a defesa de Lula. É a mesma lógica utilizada para recusar o
depoimento do ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Durán", afirma.
Já a defesa de Glaucos da Costamarques ratificou os depoimentos
prestados pelo cliente e disse que todas as questões em aberto serão
melhor expostas na apresentação das razões finais do processso.
A Odebrecht reiterou que vem colaborando com as investigações.
Os advogados que representam Roberto Teixeira e João Muniz Leite não foram encontrados.
Nada a ver com o triplex
Atualmente, Lula responde a três denúncias que foram formuladas pela
força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. A primeira, que já foi julgada
por Sérgio Moro, está em fase de recurso no Tribunal Regional Federal da
4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre. Nela, o ex-presidente foi condenado a nove anos e meio de prisão.
Naquela denúncia, Lula foi acusado de receber um apartamento triplex em
Guarujá, no litoral paulista. O imóvel seria um pagamento de propina
feito pela construtora OAS, em troca de benefícios que a empresa obteve
junto à Petrobras.
O julgamento desse caso no TRF-4 está marcado para o dia 24 de janeiro deste ano.
O recurso de Lula nesse caso poderá resultar tanto em absolvição do
ex-presidente, como até mesmo em um eventual aumento de pena, dependendo
da análise dos desembargadores.
Já o segundo processo contra Lula é esse em que os recibos são
contestados pelo MPF. A denúncia afirma que o petista recebeu propina da
Odebrecht com o apartamento alugado e também com um terreno para a
construção de uma nova sede do Instituto Lula.
A obra, no entanto, nunca saiu do papel e o terreno sequer foi
transferido para a instituição. Assim como no caso dos dois
apartamentos, a defesa de Lula nega qualquer irregularidade.
O terceiro processo ainda está em fase inicial. Nele, o ex-presidente é
acusado de receber propina tanto da Odebrecht, quanto da OAS, por meio
da reforma de um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo. Os depoimentos das testemunhas de acusação devem começar só em fevereiro deste ano e não há data para que o caso seja julgado no Paraná.
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