By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Rafael Luz (STF)
O ministro Rogério Schietti, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), afirmou em uma decisão desta quarta-feira (20) que o país está "desgovernado" na área da saúde.
Schietti fez a avaliação ao analisar um pedido contra a adoção do bloqueio total, conhecido como "lockdown", em Pernambuco.
A pandemia do coronavírus foi declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em março. No período, dois ministros da Saúde deixaram o cargo: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.
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Atualmente, a pasta é gerida de forma interina pelo secretário-executivo, Eduardo Pazuello.
Enquanto Mandetta e Teich recomendavam o isolamento social como forma de evitar a disseminação do coronavírus, assim como orientam a OMS e os especialistas na área, Bolsonaro defende a reabertura do comércio, das escolas e a "volta à normalidade".
"Nesse ínterim, continua o país (des)governado na área de saúde – já se
vão 6 dias sem um titular da pasta – mercê das iniciativas nem sempre
coordenadas dos governos regionais e municipais, carentes de uma voz
nacional que exerça o papel que se espera de um líder democraticamente
eleito e, portanto, responsável pelo bem-estar e saúde de toda a
população, inclusive da que não o apoiou ou apoia", escreveu Rogério
Schietti na decisão.
"Em nenhum país, pelo que se sabe, ministros responsáveis pela pasta da
Saúde são demitidos por não se ajustarem à opinião pessoal do
governante máximo da nação e por não aceitarem, portanto, ser dirigidos
por crenças e palpites que confrontam o que a generalidade dos demais
países vem fazendo na tentativa de conter o avanço dessa avassaladora
pandemia", acrescentou o ministro, em outro trecho.
Comportamento 'irresponsável'
Em outro trecho da decisão, o ministro disse que, tirando Brasil e
Estados Unidos, talvez em nenhum outro país "o líder nacional se
coloque, ostensiva e irresponsavelmente, em linha de oposição às
orientações científicas de seus próprios órgãos sanitários e da
Organização Mundial de Saúde".
Para Schietti, a situação ainda vai se agravar em alguns centros
urbanos, cujas redes hospitalares não são capazes de atender à demanda
crescente por novos leitos e unidades de tratamento intensivo.
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"E boa parte dessa realidade se pode creditar ao comportamento de quem,
em um momento como este, deveria deixar de lado suas opiniões pessoais,
seus antagonismos políticos, suas questões familiares e suas desavenças
ideológicas, em prol da construção de uma unidade nacional", afirmou.
O magistrado afirmou ainda que há sentimento de "insegurança",
"desesperança" e "medo" na sociedade, o que pode criar "ambiência
caótica, propícia a propostas não apenas populistas, mas de retrocesso
institucional, como tem sido a tônica nos últimos tempos".
"O recado transmitido é, todavia, de confronto, de desprezo à ciência e
às instituições e pessoas que se dedicam à pesquisa, de silêncio ou até
de pilhéria diante de tragédias diárias. É a reprodução de uma espécie
de necropolítica, de uma violência sistêmica, que se associa à já
vergonhosa violência física, direta (que nos situa em patamares
ignominiosos no cenário mundial) e à violência ideológica, mais
silenciosa, porém igualmente perversa, e que se expressa nas
manifestações de racismo, de misoginia, de discriminação sexual e
intolerâncias a grupos minoritários", escreveu Schietti.
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