By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: RPC – Imagem: Divulgação
Logo no início da fala, a adolescente perguntou de quem é a escola e a quem ela pertence. “Eu acredito que todos aqui já saibam esta resposta. E é com a confiança que vocês conhecem esta resposta é que eu falo para vocês sobre a legitimidade deste movimento. Sobre a legalidade.”
Ela convidou os deputados estaduais a visitar, participar e conhecer de perto as ocupações. O movimento de ocupações começou nas escolas estaduais no dia 3 de outubro. Segundo a última atualização da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes), de sexta-feira (21), o Paraná tem 850 escolas estaduais ocupadas. A Secretaria da Educação fala em 590. De toda forma, o estado tem o maior número de ocupações do país.
“É um insulto a nós que estamos lá, nos dedicando, procurando motivação todos os dias, a sermos chamados de doutrinados. É um insulto aos estudantes, é um insulto aos professores. A nossa dificuldade em conseguir formar um pensamento é muito maior do que a de vocês. Nós temos que ver tudo o que a mídia nos passa, fazer um processo de compreensão, de seleção, para daí conseguir ver do que a gente vai ser a favor e do que a gente vai ser contra”, afirmou Ana Júlia.
Para ela, este não é um processo fácil para estudantes.
“É um processo difícil, não é fácil para estudantes simplesmente decidir pelo que lutar. E mesmo assim a gente ergueu a cabeça e estamos enfrentando isso.”
Ana Júlia enfatizou que os jovens sabem por que estão lutando. “A nossa bandeira é a educação. A nossa única bandeira é a educação”.
Ela mencionou ainda outros temas que são inerentes à educação que também estão na pauta dos estudantes, como a proposta da escola sem partido.
“O 'escola sem partido', nos insulta, nos humilha, nos fala que a gente não tem capacidade de pensar por si próprio. Só que a gente tem, e a gente não vai abaixar a cabeça para isso”, afirmou a jovem, em referência a um movimento que critica a ocupação de colégios.
Morte do adolescente
Ela também falou sobre o adolescente Lucas Mota, que morreu dentro de uma escola ocupada. “Eu estava no velório do Lucas ontem e não me recordo de nenhum destes rostos aqui. Não me recordo de nenhum”, disse a jovem aos deputados.
O adolescente foi morto a facadas. O suspeito é um adolescente de 17 anos que teria confessado o crime, de acordo com a Polícia Civil. Ainda conforme a polícia, os dois se desentenderam após dividir um microponto de LSD.
“Vocês estão aqui representando o Estado, e eu convido vocês a olharem a mão de vocês. A mão de vocês está suja com o sangue do Lucas. Não só do Lucas, mas de todos os adolescentes e estudantes que são vítimas disso”.
Tensão
Se por um lado, ela arrancou aplausos da plateia, a estudante acirrou os ânimos dos deputados e o presidente da Assembleia, deputado Ademar Traiano (PSDB), interrompeu o discurso e ameaçou encerrar a sessão. “Aqui você não pode agredir o parlamentar”, disse o deputado.
“Eu, como presidente exerço a minha autoridade, democraticamente, permiti que vocês viessem aqui e não vou permitir que ninguém será afrontado”, disse o parlamentar.
“Aqui ninguém está com as mãos manchadas de sangue, não”, acrescentou Traiano.
Em seguida, a jovem pediu desculpas. "Eu peço desculpas, mas o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes, nossos estudantes é da sociedade, da família e do estado."
“Nós não somos vagabundos, como dizem aqui. Como a sociedade, lá fora, diz. Nós estamos lá por ideias, nós lutamos por eles, nós acreditamos neles. Eu convido vocês a irem às ocupações, a verem nosso desgaste psicológico, a ver que não é fácil estar lá e que a gente vai continuar lutando”.
Segundo ela, os deputados serão bem recepcionados porque a ideia é apresentar o porquê da ocupação. A jovem afirmou ainda que o movimento estudantil apresentou uma noção de política e cidadania maior do que o tempo em que ficou em sala de aula.
“Uma semana de ocupação nos trouxe mais conhecimento de política e cidadania do que muito outros anos que a gente vai ter dentro de sala de aula”.
Ana Júlia afirmou que apesar ridicularização, da desmoralização, das ofensas e dos problemas, há felicidade nas ocupações. Segundo ela, o entendimento é de que os jovens deixaram de ser meros adolescentes para se tornar cidadãos comprometidos.
Assista aqui.
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