sábado, 22 de junho de 2019

Sozinho e de Fiat 147, curitibano roda 15 mil km em jornada inesquecível na América do Sul


By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: TRIBUNA DO PARANA Imagem: Divulgação

Se você estivesse com 67 anos, aposentado e fosse dono de um Fiat 147, o que faria da sua vida com o carro? Muitos diriam nada. Já o Alberto Carlos Fröhlich, morador ali do bairro Mercês, em Curitiba, decidiu rodar a América do Sul com o “autito” (carro pequeno, em espanhol, como muitos carinhosamente chamaram na viagem). Além do Brasil, ele passou por outros seis países: Argentina, Bolívia, Peru, Chile, Paraguai e Uruguai. Não faltaram aventuras e perrengues, como dormir com a polícia e correr o risco de congelar à noite no meio do deserto, sozinho, com o carro quebrado no meio do nada.
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A viagem começou em 2 de dezembro de 2017 e terminou em 13 de janeiro de 2018, mas até hoje tem dado o que falar e rendido muitos convites para voltar à estrada, algo que Alberto nunca imaginou (olha lá o Instagram dele, o @147naamericadosul). E a viagem aconteceu completamente diferente do planejado. A ideia era levar de carro seu filho, sua nora peruana e um amigo peruano do casal até Lima, no Peru, para passarem o Natal com os familiares dela.
Mas, chegando em Foz do Iguaçu, onde tinham passado a primeira noite num camping, o filho de Alberto começou a ficar preocupado com documentos pessoais, com o peso do carro (pois o trajeto tinha muitas rampas) e com o atraso; com medo de não chegar em tempo para o Natal. Eram cinco mil quilômetros e que Alberto planejava chegar em 20 dias, a bordo do seu Fiat 147 ano 1980, motor 1.050 cilindradas e 57 cavalos de potência. “Mas eles três começaram a tirar a bagagem do carro, não quiseram nem carona pro aeroporto ou rodoviária”, lamentou Alberto, que chorou sozinho no camping, na segunda noite de estrada.
O que fazer?
“Na verdade, a viagem já não estava sendo muito legal mesmo, porque o peruano que ia na frente, era meio esparramado.
Toda vez que eu precisava engatar a terceira, tinha que empurrar a perna dele”, riu o aposentado, que depois de chorar novamente contando tudo ao dono do camping, foi amparado e aconselhado a ficar ali mais uns dias e conhecer os atrativos turísticos da região da fronteira. Mesmo chateado e querendo voltar a Curitiba, aceitou a ideia. Passados alguns dias de passeios e de comprar “muamba” no Paraguai (até um “gatonet”), Alberto riu do seu portunhol, enquanto tentava se comunicar com outros turistas em San Inácio de Las Missiones e pensou: “Esse negócio tá ficando divertido”.
A mágoa com o filho já tinha passando e ele decidiu seguir o conselho da cunhada, que lhe telefonou, e botar o pé na estrada. E seguiu sem saber o rumo de amanhã, apenas com uma mala de roupas, uma caixinha de ferramentas, um colchonete, duas barracas e algumas peças extras do Fiat 147.
“Infierno”
Na primeira parte da viagem passou um calorão enorme nas cidades de Posadas e Corrientes, na Argentina.
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Quando chegou em Pampa del Infierno, via os ônibus passarem na estrada com a tampa do motor aberta, para ventilar. Ele mesmo precisou andar com o capô do Fiat 147 semi aberto. Estavam 42º C na região e em fevereiro a temperatura chega a 50º.
Bifurcação gastronômica
Na estrada, Alberto se deparou com uma bifurcação. Uma estrada ia para a cidade de Salta e a outra para San Miguel de Tucumán. Ao lado da bifurcação havia um trailer que vendia comida. Hora de almoço, o aposentado decidiu pedir um prato enquanto decidia para onde ir. “Era um trailer no meio do nada. Sabe quando você não espera nada do lugar? Foi a melhor comida da viagem, um caldo de frango com arroz e lentilha”, contou Alberto, que decidiu seguir para Salta.
Celular roubado
Em Salta, Alberto teve o celular furtado. Hospedado num camping longe do centro, pegou um ônibus para visitar a cidade. Depois de andar no mercado público, foi conhecer uma igreja. Na hora de tirar o telefone do bolso para fazer fotos, cadê o celular? Os documentos ficaram. Os bandidos conseguiram tirar só o dinheiro e o aparelho.
Alberto foi à polícia fazer BO. Depois de olhar as câmeras do mercado e encontrar as cenas do furto, Alberto precisava bloquear o aparelho. Os policiais o levaram ao Ministério do Turismo, onde ele conseguiu ligar para a família resolver isto. A polícia ainda o levou a uma loja, para comprar um aparelho novo. “Mas na Argentina as coisas são muito caras. Um do mesmo modelo que o meu era 500 dólares. Acabei não comprando”, diz o aposentado, que ainda ganhou dos policiais uma carona de volta ao camping. Saga do celular
Alberto continuava sem celular e sem destino, andando só com um mapa da América do Sul no carro, para ter noção se estava indo para o norte ou para o sul. Assim chegou na cidade de Yala, na província de Jujuy, na Argentina. A dona do camping onde se hospedou se engraçou com o “autito” (carro pequeno) e a aventura de Alberto e presenteou ele com um jantar em seu restaurante. “Você está lá parado no meio do nada e ganha um jantar regado à vinho argentino”, disse Alberto, agradecido. Mas a saga dele por um celular continuava e ele foi à cidade de Purmamarca, mais ao norte. Foi onde encontrou duas iguarias: o salame de lhama e o queijo de cabra. Como tudo na Argentina era muito caro, foi orientado a ir à Bolívia comprar o celular.
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Medo da aduana
Até cruzar a fronteira com a Bolívia, Alberto tinha cinco horas de viagem e muitas montanhas a cruzar na região dos Andes. E ainda tinha o risco de perder as muambas que comprou no Paraguai, pois já havia sido alertado que a fiscalização na aduana era rigorosa. Alberto pegou o “gatonet” que comprou no Paraguai, enrolou em um monte de papelões e fitas durex. Também pegou as peças extras de Fiat 147 que levou para emergências e escondeu dentro dos forros das portas. Chegando na aduana, o fiscal foi direto na embalagem e perguntou o que ele tinha ali. Alberto respondeu que era um presente. “Estava tão bem enrolado que ele nem pediu para abrir”, diz. O fiscal também bateu em toda a lataria, mas não detectou as peças escondidas na porta.
Celular contrabandeado
Na Bolívia, Alberto chegou numa cidade e rodou as lojas pesquisando preços de um aparelho igual ao que ele tinha. A mais barata foi justo a primeira onde ele parou, e onde ele pediu um desconto à vendedora e ela não deu. O aposentado deu as costas e disse que ia pesquisar em outros lugares. Mas em todos, era sempre mais caro e ninguém dava desconto. “Aí eu pensei: putz, vou ter que voltar lá naquela gorda com cara de tonta. Engoli o orgulho e fui lá”, diz o aposentado aos risos. “Depois que eu paguei, ela me disse que eu não poderia levar a caixa e que os acessórios do aparelho eu tinha que espalhar no carro e na bagagem, porque se a polícia me pegasse, recolhia o aparelho, porque era contrabando”, disse Alberto, que seguiu a orientação da lojista e tirou um monte de fotos, logo que saiu da loja, para caso fosse parado, tinha como provar que o aparelho já vinha com ele de longe.
Agora, o pneu!
O aposentado conta que as estradas na Bolívia são mal conservadas e com muitas rampas, onde o pneu patina. Numa destas subidas, o pneu estourou. Ele colocou o estepe e saiu rodando, mas com medo de perder mais outro pneu ali no meio do nada. A saga agora era por consertar o pneu. Então viajou até São Pedro de Atacama para procurar um borracheiro, pensando se tratar de uma cidade grande. “Aqui no Brasil quase todo mundo já ouviu falar dessa cidade.
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Cheguei lá, era menor que o centro de Almirante Tamandaré e só tinha um borracheiro, que disse que meu pneu não tinha conserto. Eu teria que comprar um novo e ele não tinha aro 13”, apavorou-se Alberto.
Procurando gasolina
As cidades grandes mais próximas, onde Alberto encontraria lojas de pneus, ficavam no Chile. Então ele decidiu cruzar a fronteira. Em condições normais, o 147 fazia 16 ou 17 quilômetros por litro. Mas ali na Cordilheira dos Andes, caía para 8 quilômetros por litro. O único lugar onde havia combustível no caminho era a cidade de Susques, ainda na Argentina. E não era nem um posto de combustíveis, era a casa de um homem que morava lá. E quando Alberto chegou, não havia gasolina, só álcool. Ele teve que esperar algumas horas, pois o combustível estava para chegar. No entanto, aquilo atrasaria sua chegada ao Chile.
Fronteira “quase” fechada
Depois que abasteceu, pegou a estrada e numa cidade do caminho, parou para perguntar se a fronteira estava longe. A dona de uma loja falou que ainda faltava mais uma hora de viagem, porém a polícia fechava a fronteira durante a noite, pois ali era rota de tráfico de drogas e contrabando. Alberto não chegaria em tempo e bateu o desespero. Mas a dona da loja conhecia o pessoal da fronteira, telefonou a eles, explicou a situação de Alberto e pediu que esperassem. “Eu entrei no meu carrinho e chispei fora. Já fazia meia hora que a fronteira deveria estar fechada e eles estavam me aguardando”, comemorou o aposentado.


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