By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: R7 – Imagem: Divulgação
Veja a cena em que o menino Paulo Rangel, cego, conhece Mazzaropi.
Ele não é um Neymar em termos de repercussão mundial. Sua fama é mais singela. E consistente. Pura, atravessa a região serrana próxima do sertão, entre as cidades de São Miguel, onde mora e trabalha, e Pau dos Ferros, onde nasceu, no oeste do Rio Grande do Norte, quase divisa com o Ceará e com a Paraíba.
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Lá, entre açudes, serras, praças, feiras e ruas com casas térreas, ele reina como o famoso palhaço Mazzaropi.Recentemente, Mazzaropi ficou conhecido nas redes sociais do Brasil ao se encontrar com o menino Paulo Rangel, de 7 anos, que é cego.
Sabendo que não poderia ser visto pelo garoto, Mazzaropi pediu que a criança o tocasse, para "enxergá-lo com as mãos." Assim, tateando, a criança poderia imaginar as cores e a fantasia de um palhaço. O encontro ocorreu em uma festa em Pau dos Ferros, conforme conta.
"Vieram me dizer que um menino tinha o sonho de me conhecer. Quando soube que ele era cego, algo me apertou sem me abraçar. Fui ao seu encontro. Foi espontâneo. Ele começou a bater palmas ao perceber que me aproximava. Então peguei a mãozinha dele, passei de leve na minha maquiagem, depois no nariz. E ele foi imaginando como eu era", conta.
Já dizia Euclides da Cunha que o sertanejo é, antes de tudo, um forte. Muitos deles, porém, fazem da alegria a base desta força. Por isso, o menino também quis ser palhaço naquele momento.
"Depois, ele quis saber como se faz um palhaço. E eu, que tenho um pouco de vergonha da minha calvície, nem pensei duas vezes. Tirei a peruca e coloquei nele. Falei: 'Agora você é o palhaço e eu sou seu fã.' Não esperava tanta repercussão deste ato, foi algo espontâneo", diz o palhaço.
Início de tudo
Desde a adolescência, entre outras atribuições, como a de locutor de rádio e cantor de forró, Ivan encara uma rotina de shows, apresentações em festas e outros eventos. Tornou-se o palhaço Mazzaropi no Arraiá do Mazzaropi, uma quadrilha especial em homenagem ao famoso comediante, em 2003.
Foi tão bem que ganhou um programa de rádio, que comanda até hoje e que o tornou conhecido na região.
Oitavo filho de uma família com nove irmãos, ele conta que cresceu sem a presença da mãe, Maria do Socorro. Ela saiu de casa quando ele tinha 1 ano e 8 meses. Já na juventude, Ivan voltou a se relacionar com a mãe, após contatos pouco frequentes na infância.
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"Foi uma vida sofrida. Meu pai, que é cego, teve de cuidar de todos nós
com um salário mínimo. E, com quatro anos, eu ainda tive de passar por
uma cirurgia. Tinha dia em que não havia o que comer. Garapa para nós
era água com açúcar. Enganava a fome à noite, para podermos dormir."O encontro com o menino significou também um encontro com o passado de Ivan. Além do pai, Antônio Pereira, que é cego, conhecido como "Ceguinho de Pau dos Ferros", um irmão de Ivan, Ivanildo Martins, é surdo.
"Ter convivido com familiares com essas carências me fez ter mais atenção com esse tema. Não há muito trabalho de inclusão na região."
Ivan comanda o programa Forró do Mazzaropi, na rádio São Miguel FM. Mas ele diz não ser raro ter de pagar para trabalhar, já que vive praticamente do que consegue como patrocínio. Pai de José (14 anos), João (9 anos) e Maria (7 anos) e casado com Ana Cristina, ele ainda sonha em fazer faculdade de Direito.
"Eu e meus irmãos crescemos nos ajudando. Digo que minhas irmãs mais velhas fizeram o papel de mãe. A Vanilda, por exemplo, trabalhou para me dar cadernos e roupas. Graças a isso estudei, terminando o Ensino Médio. Não completei as faculdades de Arquitetura e Urbanismo e Letras, mas ainda quero terminar um curso superior, me formando em Direito."
Alegria do pai
Ele continua tendo no pai, de 69 anos, sua inspiração. O "Ceguinho de Pau dos Ferros" ainda mostra a mesma vibração com a vida, que o levou a manter a família, trabalhando como tocador de fole de oito baixos (gaita) nas feiras.
Ivan, também admirador do palhaço Tiririca, sempre acompanhava o pai nas apresentações e conheceu nesta época seu dom.
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"Meu pai, mesmo cego, buscava alegrar, tocando para trazer alimento.
Sempre manteve a alegria, mesmo na dificuldade, é a minha inspiração
maior. Minha família sempre foi animada. E eu, desde criança gostava de
brincadeiras. Um dia, segui um palhaço de um circo e fiz imitações.
Passei a atuar em grupo de jovens, no início com o nome de Palhaço
Pimentel."O fato de trabalhar no rádio, onde entrevista inclusive políticos locais, o ajuda a ser mais conhecido e, consequentemente, convidado para atuar em mais eventos nas redondezas. É desta maneira que ele foi crescendo: com solidariedade na falta de recursos.
Seu primeiro traje, afinal, foi comprado com a ajuda de amigos, para que ele pudesse animar uma festa, no ano 2000. E, desde então, ele vive de um jeito que em muitos aspectos não deixa de ser circense: cheio de malabarismos.
"Sou um caboclo que persiste. Na minha família, com meus irmãos Ivaneide, Vanuzia, Vanete, Vanilda, Ivanildo e Ivaneir, um cuidou do outro. Há ainda minha irmã por parte de mãe, Maria José. Nunca usamos nenhum tipo de droga e nem tivemos problemas de criminalidade. Pelo contrário, delegacia, nem como testemunha", brinca.
Ele nunca deixou de morar na região onde nasceu.
"Formei minha própria família. Na rádio, o que ganho, muitas vezes, não é suficiente. Mas é preciso continuar acreditando e trabalhando. O nordestino já nasce com sangue de guerreiro."
E Ivan segue em frente com uma convicção permanente. Apoiado em Mazzaropi, ele tem a certeza de que ser guerreiro tem graça.
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