segunda-feira, 24 de junho de 2019

Irati e Teixeira Soares apresentam alto consumo de agrotóxicos, diz MP


By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: RADIO NAJUA Imagem: Paulo H. Sava (Rádio Najuá)

Os municípios de Teixeira Soares e Irati estão entre os 50 que mais consomem agrotóxicos no estado do Paraná. Os dados foram apresentados pelo Ministério Público durante Audiência Pública realizada na última quarta-feira, 19, na Câmara de Irati. O evento faz parte de uma campanha promovida pelo Ministério Público do Paraná, através do Fórum Estadual de Combate aos Agrotóxicos, Associação Paranaense dos Expostos ao Amianto (APREAA) e Observatório do Amianto.
Conforme informações do MP, Teixeira Soares ocupa a 39ª posição e Irati é o 49º colocado entre os 399 municípios do Paraná no ranking de consumo de defensivos agrícolas.
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Dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Aquicultura (Seagro) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que cada habitante consome o equivalente a 14 litros de agrotóxico por ano.
Diversas entidades representativas da agricultura familiar e do agronegócio de toda a região estiveram presentes no evento. O presidente do Sindicato Patronal Rural de Irati, Mezaque Kécot Veres, comentou que o compromisso da entidade e dos produtores não é com o fim do consumo, mas sim com a aplicação correta dos produtos, de acordo com o que estabelece a legislação. Mezaque destacou que o Brasil ocupa as primeiras colocações em exportação de mais de 20 produtos agrícolas e tem um mercado interno muito grande. Isto significa, segundo ele, que os produtores estão cumprindo as regras de aplicação de defensivos estabelecidas por lei.
“Então eu pergunto: qual é o crime dos produtores brasileiros e da região em cumprirem a lei brasileira? Nós estamos seguindo a lei brasileira. Podemos condenar os agricultores de Irati, que cumprem as leis, a um julgamento e condenação moral, porque estão cumprindo as leis do nosso país? De forma alguma”, frisou.
Por outro lado, o professor João Luiz Dremiski, do Instituto Federal do Paraná [IFPR] opina que a situação dos municípios da região é preocupante. “Estes dados, embasados em órgãos oficiais do Estado, estão demonstrando que a quantidade de agrotóxicos é muito grande e isto é uma preocupação para todos, agricultores, consumidores, entidades que monitoram isto, a questão do acesso à água potável também, são dados alarmantes. Eu acho que é muito importante ter uma audiência como esta para esclarecer a população e trazer todos os argumentos, contrários e favoráveis, pois eles são importantes de serem debatidos em um momento como este”, comentou.
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O prefeito Jorge Derbli (PSDB) também demonstrou preocupação com o alto consumo de agrotóxicos na região. Ele ressaltou que a principal causa de câncer na população é o uso de defensivos agrícolas. “É preocupante, é uma situação que tem que ser muito bem pensada, pois estamos sendo envenenados todos os dias e não percebemos. O agricultor, que trabalha com agrotóxicos, muitas vezes não tem cautela e prevenção com os EPI’s, é contaminado e não sente no momento, mas a médio e a longo prazo aparece uma doença que depois é irreversível. O que eu tenho a dizer aos agricultores é que cuidem da sua saúde, porque ela vale muito mais que sua produção”, comentou.
Lediane Carraro, presidente do Instituto Equipe de Educadores Populares, afirmou que cada pessoa consome a quantidade equivalente a um copo de café de agrotóxicos por dia. “São dados que analisam não só a questão da utilização, mas excessos. A nossa legislação já permite limites muito superiores aos de outros países, consumimos em excesso. São dados que prejudicam e alertam sobre nossa saúde e as condições que temos de produção. Devemos tomar cuidado e cobrar medidas do poder público para que isto tenha uma redução”, frisou.
A procuradora regional do trabalho, Margaret Matos de Carvalho, comentou que outras audiências serão feitas em todo o Paraná, que é o segundo maior consumidor de agrotóxicos entre os estados brasileiros. Por este motivo, conforme a procuradora, os municípios estão em situação de consumo exagerado destes produtos, o que contamina alimentos e a própria água, prejudicando a saúde da população.
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“O risco não é só de quem está trabalhando na aplicação dos agrotóxicos, mas também de toda a população que consome alimentos contaminados, água contaminada, e estudos demonstram que até a água da chuva está contaminada. Estamos em um ponto que é preciso dizer ‘basta, chega’. Precisamos de um outro modelo, pois este não nos serve mais. Não damos conta de atender tantas pessoas adoecidas, principalmente pelo SUS, que é o único a fazer atendimentos de pessoas com câncer quando o tratamento é de alta complexidade. Não temos mais recursos suficientes para fazer frente com estas despesas decorrentes de produtos cujas empresas que lucram com isto não retornam o dinheiro para a sociedade, garantindo assim que nós não fiquemos com o prejuízo”, comentou.
Sobre a qualidade da água distribuída para a população, a procuradora ressaltou que a responsabilidade pelo controle é da Sanepar, cabendo ao município cobrar da empresa que o produto entregue esteja próprio para o consumo. “Nós estamos pagando por este serviço que é de receber uma água própria para o consumo. Considerando que ela não está assim, a Sanepar deverá adotar medidas e providências para garantir que a água esteja própria para o consumo, e quem deve exigir isto é o município, que firmou contrato com a empresa”, afirmou.
Questionada sobre a cadeia de venda de agrotóxicos e fornecimento de assistência técnica para os agricultores, Margaret destaca que este sistema está “falido, com poucos técnicos trabalhando sem dar conta da demanda”.
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 “O interesse das empresas é mais de vender agrotóxicos do que prestar assistência técnica. Os agricultores estão sem alternativa, pois se eles buscarem assistência técnica fora da oficial, promovida pelo poder público, vai encontrar uma assistência técnica comprometida com a venda do agrotóxico, desconsiderando a possibilidade de produzir diminuindo estes produtos e deixando de usar muitos deles porque são desnecessários. Estamos em um sistema de produção que beneficia o lucro das empresas fabricantes de agrotóxicos”, apontou.
Margaret acredita que uma das soluções viáveis seria a utilização de adubo orgânico nas lavouras. “Temos várias opções de adubos orgânicos minerais que não são tóxicos e nem agressivos à saúde e ao meio ambiente, mas não geram lucro e nem resultado, e acabamos voltando ao modelo que citamos anteriormente”, finalizou.


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