By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: RADIO CULTURA – Imagem: Divulgação
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No
entendimento dos desembargadores, da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de
Justiça do Paraná, após amplo estudo do processo e debate do material
colhido durante o longo tempo de investigação, foi de que não houve
crime. Com isso, os réus: padre Sercio Ribeiro Catafesta, sacerdote da
diocese de Guarapuava, ecônomo da instituição religiosa à época da
reforma, Adenilson de Lima, Vilson Cychocki e Valdecir Cychocki, esses
responsáveis pela obra, foram inocentados da acusação de furto
qualificado.
No
entendimento dos magistrados, os valores pagos justificam os serviços
prestados durante a obra e não houve nenhum tipo de favorecimento
financeiro por parte dos acusados. A decisão da segunda instância
reverte o entendimento do juízo de primeiro grau que havia condenado as
quatro pessoas.
DEFESA
Em entrevista à Central Cultura de Comunicação e ao Centro Diocesano de Comunicação (CDC),
respectivamente, na manhã de sábado, dia 11 maio de 2019, o advogado
Loêdi Lisovski, que cuidou do caso desde o início falou do processo e
expôs o ponto de vista da defesa em relação ao assunto que dividiu
opiniões na cidade e que, conforme sublinhou, machucou muitas pessoas
inocentes, pondo em cheque, em alguns momentos, a credibilidade de uma
instituição milenar, séria e que existe para servir aos necessitados,
como a Igreja Católica.
“O
que a maioria dos desembargadores entendeu é que esse fato [reforma]
não era criminoso, esse fato nada mais era do que uma transação
comercial absurdamente normal”; frisou o advogado.
Demonstrando
descontentamento quanto à maneira como foram conduzidas as
investigações e o processo em si, Loêdi foi enfático em dizer que
nenhuma acusação se sustentou em provas. “Quando um acusador precisa de
muita prova para provar alguma coisa ele não tem prova nenhuma. Pediram a
quebra de sigilo bancário e fiscal dos acusados. Quando se fala em
crime patrimonial é preciso haver a diminuição do patrimônio de um dos
lados e um aumento [do patrimônio] de outro. E quando se obteve o
resultado ele veio zero, era indicativo de alguma coisa e não foi levado
em consideração. Insistiram e pediram novamente a quebra de sigilo
fiscal. Se obteve. E ela veio zero, de todos os acusados. Isso significa
dizer o quê? Que não houve diminuição do patrimônio de um em detrimento
[do aumento] do patrimônio de outro”, explicou o advogado de defesa.
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Loêdi
prosseguiu e disse que insatisfeita com os resultados até então, a
acusação pediu a quebra do sigilo telefônico do sacerdote, mas também
não obteve os resultados que buscava, por eles simplesmente não
existirem. Conforme o advogado; é inaceitável a maneira como a vida
privada do sacerdote e dos demais funcionários foi invadida, segundo
ele, sem a mínima necessidade. “Pediram a quebra do sigilo telefônico,
invadiram a vida privada do padre [Sercio Ribeiro Catafesta]. Novamente
negativo. Somente conversas do cotidiano. Não satisfeitos, se pediu
busca e apreensão na Mitra. O que se obteve? Material religioso e na
parte econômica nada mais do que movimentações do dia a dia. Nada disso
precisava ser feito. Documentos? Era só pedir que a instituição
forneceria e de bom grado, pois não havia nada a esconder como muito bem
ficou provado agora neste julgamento”, rememora.
De
acordo com a defesa, em 2014, quando a operação denominada pelo Grupo
de Atuação e Combate ao Crime Organizado (GAECO) de Sacrilégio, foi
desencadeada, o Ministério Público (MP) fazia várias acusações,
inclusive na imprensa, que sequer foram consideradas pela Justiça quando
a denúncia foi aceita.
Dentro
do farto material recolhido no processo de investigação, nada foi
encontrado para comprovar a acusação do MP de que foi cometido crime de
furto de dinheiro da Mitra na obra de reforma da Casa de Líderes e de
tantas outras reformas executadas pela diocese naquele período.
REFORMAS
A
Casa de Líderes Nossa Senhora de Guadalupe é um espaço localizado no
Bairro Santana, em Guarapuava, para realização de encontros religiosos
locais, regionais e estaduais. O espaço que foi construído há mais de
quarenta anos, nunca tinha passado por uma reforma até então e muita
coisa precisou ser feita, segundo comprovam os projetos de execução,
tais como: troca de pisos, encanamento, substituição de caixa d’água,
instalação de aquecimento central, reforma de banheiros, pinturas,
instalação elétrica e hidráulica, adaptação de acesso para deficientes
físicos, saída de emergência, troca de telhado e forro, instalação de
condutores para internet, além de implantação de hidrantes, dentre
outras benfeitorias.
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Além das obras de reformas na Casa de Líderes, que
motivou as denúncias que se comprovaram infundadas, no mesmo período,
diversas obras de reforma e adaptação foram realizadas em diferentes
prédios pertencentes à Mitra, tais como: Edifício Nossa Senhora de
Belém, Seminário Diocesano Nossa Senhora de Belém, Bispado, escritórios
da sede da Mitra Diocesana, Chácara da Associação do Clero e Casa da
Pastoral Indígena (e Indigenista). Todos esses trabalhos foram
desempenhados pela mesma equipe denunciada.
Na
decisão de segunda instância da Justiça, ficou comprovado que os
valores pagos para compra de materiais e execução dos serviços condizem
com os serviços realizados e, conforme um dos juízes, “o valor foi muito
baixo pela quantia de obras executadas [só na Casa de Líderes]”.
CRÍTICAS À INVESTIGAÇÃO
Uma
crítica da defesa é que o agente acusador nunca esteve na Casa de
Líderes para verificar se de fato os serviços foram realizados. “Como se
acusa uma pessoa de não ter realizado uma obra sem ter pisado na obra
para ver se de fato [o serviço] foi feito ou não?”, questiona Loêdi.
Os
serviços foram realizados entre 2013 e 2014. Parte do trabalho foi
feita durante o período da noite, isso porque, na fase final das obras, o
espaço estava sendo usado durante o dia com reuniões e encontros
religiosos, uma vez que a posição geográfica da cidade (Região Central
do Paraná) é estratégica para os demais municípios do Estado em se
tratando de distância. Desta forma, muitos são os eventos e encontros
realizados na cidade.
O
advogado de defesa tornou a criticar duramente a forma como foram
conduzidas as investigações do caso. “Esse movimento grotesco,
imprudente utilizado pelo agente acusador poderia ter sido evitado e
isso causou constrangimento principalmente para pessoas que precisam de
credibilidade social”, discorre.
Para
ele houve uma tentativa de agigantar a denúncia e de induzir a opinião
pública sobre os acontecimentos, tentando comprovar uma tese que não se
sustentava.
“Quando
eu inicio uma investigação e eu já tenho como meta obter um resultado,
nada me limita, custe o que custar, doa a quem doer. Já existe uma
pré-disposição para acusar, e me parece que nesse caso isso é muito
gritante. Nesse processo não houve Justiça, houve uma injustiça
reparada, porque foi muito injusto o que foi produzido desde o início da
investigação”, conclui.
PALAVRA DO BISPO
Dom
Antônio Wagner da Silva, bispo da diocese de Guarapuava, se pronunciou
sobre o assunto durante seu programa semanal de rádio “A Voz do Pastor”,
em 11 de maio de 2019. Conforme Dom Wagner, o longo tempo em que correu
o processo, foi de muita dor e desgaste para todos, principalmente para
o clero de Guarapuava.
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“Eu
bem como diversos sacerdotes e os advogados, estivemos em Curitiba na
quinta-feira, dia 09 de maio, para o julgamento final daquele processo
que envolvia o padre Sercio (Ribeiro Catafesta) e alguns trabalhadores
que trabalhavam conosco na reforma da Casa de Líderes (Nossa Senhora de
Guadalupe) e de tantos outros trabalhos de manutenção, nas nossas casas,
tais como: Seminário Diocesano Nossa Senhora de Belém, Edifício Nossa
Senhora de Belém, Bispado, Mitra Diocesana, Chácara da Associação do
Clero, Casa da Pastoral Indígena (e Indigenista). Enfim, trabalharam e
muito, para o bem-estar, seja dos sacerdotes, seja de Igreja como um
todo. O que eu quero dizer, primeiramente, é o seguinte: o resultado foi
este. Apesar de todas as acusações, apesar de todo o barulho, não houve
crime. O resultado dado pelos senhores desembargadores é o de que, não
houve crime. [...]”, enfatizou Dom Wagner.
O bispo prosseguiu com o detalhamento do assunto:
“Desta
forma, resumidamente, foram absolvidos o padre Sercio e os três
trabalhadores, de todas as acusações. Segunda coisa que eu gostaria de
falar aqui nesta hora é que: depois de viver esses anos todos, uma
angústia muito grande, até me desculpem colocar, sendo objeto de ódio,
de xingamentos, de mau juízo, a gente levanta as mãos para o céu e
agradece a Deus que nos deu a tranquilidade, a serenidade, a paciência e
a coragem para poder apoiar quem merecia ser apoiado e dar a força para
aqueles que trabalharam conosco”, pontou.
Dom
Wagner agradeceu às pessoas que, segundo ele, deram sustentação à causa
e fizeram com que a verdade se sobressaísse em meio ao caos que havia
se instaurado.
“Agradecendo
a Deus, eu quero também lembrar algumas pessoas que foram muito
importantes nesta caminhada. Doutor Loêdi (Lisovski), advogado, doutor
Artur (Bittencourt Júnior), também advogado que trabalha com a Mitra,
doutor Marcelo (Marcelo Lebre), doutor Ângelo (Ângelo Antunes Voitechen)
esses [dois últimos] de Curitiba, que com suas palavras, com suas
defesas, nos deram a tranquilidade para levar adiante essa caminhada
dura e que machucava a gente. Teve uma imensidão de pessoas que
acreditaram no padre Sercio, nos trabalhadores, acreditaram em mim e nas
outras pessoas que inicialmente foram acusadas. Foi uma multidão
enorme. Eu diria que a grande maioria... Eu posso dizer para vocês,
nesse agradecimento, que vocês foram importantes para cada um de nós.
Olha, teve muitos momentos assim, que a gente tinha vontade até de
fugir, de sumir, porque era tanto o ódio, era tanto o xingamento e
outras coisas que a gente escutava... Chegava até a sair na televisão,
em outras rádios, outros meios de comunicação. Mas, por causa de vocês,
nos mantivemos firmes, acreditando que a Justiça, a verdade, um dia,
haveria de triunfar”, desabafou.
O
bispo de Guarapuava lembrou a força da comunicação durante o processo e
pontou que recebeu muito apoio de gente de outros lugares. “Através das
redes sociais, muitas pessoas, do outro lado do mundo, fizeram chegar
até cada um de nós, uma palavra de consolo, de apoio, de alento no meio
dessas dificuldades todas. O resultado aliviou nossos corações, tanto
meu, como de outros padres que participaram daquelas horas bastante
tensas durante o julgamento. Agradeço também aos padres que acreditaram e
que deram seu apoio, reforçaram tudo o que estava sendo feito. Tudo
isso foi muito duro, mas foi tempo que também é da graça de Deus. A
gente tem a certeza, de que nem tudo acabou. Mas há o perdão. A gente
perdoa as pessoas que deturparam os fatos. Muita gente vai tentar olhar
para nós com olhar reprovador e que não vai acreditar no que a Justiça
fez. Há sempre alguém que vai dizer isso”, discorreu Dom Wagner.
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Para
finalizar seu comentário no programa de rádio, Dom Wagner contou a
parábola: “Penas ao vento”, como forma de ilustrar os momentos tensos,
doloridos e de muita incerteza porque muitas pessoas passaram, inclusive
as famílias dos acusados injustamente.
Leia parábola na íntegra:
PENAS AO VENTO
Conta-se
que, num tempo e lugar distantes, um jovem levantou falso testemunho,
inventando uma história repleta de meias verdades sobre uma pessoa
inocente. A fofoca se espalhou rapidamente e começou a prejudicar a
vítima.
Ocorre que ao ver os danos causados, o jovem se arrependeu e procurou um velho sábio para conversar e pedir orientação.
O sábio o atendeu calmamente, ouvindo cada uma de suas palavras. Ao final perguntou:
“Você está realmente arrependido deste ato?”.
O jovem rapidamente respondeu que sim e que inclusive já havia pedido perdão à pessoa que injustamente havia acusado.
Então o velho sábio respondeu:
“Já
que é assim, peço que você faça o seguinte: Pegue um travesseiro de
penas, suba no cume de uma montanha e solte as penas ao vento”.
O jovem ficou admirado e questionou:
“Só isso?”.
O sábio disse que sim, mas pediu para que o jovem voltasse a vê-lo novamente.
No dia seguinte o jovem voltou muito satisfeito. Então o sacerdote falou:
“Agora
você está preparado para cumprir a outra parte: volte à planície e
recolha todas as penas novamente no travesseiro e venha me mostrar”.
O jovem olhou sem entender e redarguiu com veemência:
“Mas isso é impossível!”.
Então o velho sábio lhe explicou:
“Justamente.
Da mesma forma, é impossível reparar a fofoca, a mentira, falso
testemunho. Apenas porque a misericórdia de Deus é infinita, você poderá
receber o perdão. Mas o mal que você provocou ficará pairando sempre,
como penas ao vento. Pense bem antes de falar novamente algo contra
alguém!”.
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