By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: REDE SUL DE NOTICIAS – Imagem: Divulgação
Baseando sua atitude Naquele que é motivo de seu sacerdócio, padre Ari começa seu texto com o versículo 18, 15-17 do evangelho de Mateus. A passagem nos mostra Jesus dizendo o seguinte: “Se o seu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em particular, só entre vocês dois. Se ele der ouvidos, você terá ganho seu irmão. Se ele não lhe der ouvidos, tome com você mais uma ou duas pessoas, para que toda questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Caso ele não de ouvidos, comunique à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele der ouvidos, seja tratado como se fosse um pagão ou um cobrador de impostos”. Foi partindo dessas palavras que ele declara as razões que sustentam a "difícil decisão".
"Pessoas próximas, e que considero, aconselharam-me a não fazê-lo. Peço desculpas, mas obedecerei o Mestre que também pagou por não se calar, e assumirei, se necessário for, as consequências do que escrevo a seguir, mesmo porque o que relato aqui já é do conhecimento público (e da “hierarquia” da Igreja) e constam de meus depoimentos em processos do GAECO, OAB e FÓRUM. Sei que posso eventualmente responder à justiça dos homens, mas não quero ficar devendo à justiça Divina", destaca ele.
Ao longo da postagem, padre Ari resume os fatos, desde que tomou conhecimento do que estava acontecendo, em 10 de março de 2014, quando estava indo ao retiro anual do clero. "Um dos funcionários da Diocese me pediu por SMS orações pelos funcionários porque o clima estava muito pesado. Retornando do retiro, tivemos uma conversa, onde tomei conhecimento da delicada situação que exigia providências", conta Ari no post.
Depois de conversar com mais funcionários e se inteirar mais profundamente da questão, a surpresa. "... nos surpreendemos com os fortes indícios de práticas abusivas e diversas irregularidades. Situações incompatíveis com as orientações direcionadas às paróquias pela administração central. (tratava-se de indícios fortes de irregularidades administrativas e financeiras através de notas e recibos “frios”, valores pagos pela Diocese, não compatíveis com os praticados no mercado, contrato de trabalho não adequado às normas vigentes, abuso de poder e outros)", desabafa Ari.
Depois de uma reunião com os mesmos funcionários e mais 11 padres "perplexos", foi decidido unanimemente que as denúncias seriam levado até o bispo, Dom Antônio Wagner da Silva. "Na ocasião, ele [o bispo] se disse surpreso e que não tomaria nenhuma decisão sob pressão. Ocorre que segundo o relato dos funcionários que nos pediram ajuda, os mesmos já haviam lhe enviado em dezembro do ano anterior uma carta de nove páginas contando o que estava acontecendo, e até aquele momento não obtiveram resposta, apenas o clima no ambiente de trabalho se degradava (um desses funcionários era o contador que tinha mais de 26 anos de trabalho na diocese, uma era advogada e outro o analista financeiro, detentores de grande conhecimento técnico)." Padre Ari continua: "Após a conversa dos 11 padres com o bispo, esperávamos que houvesse alguma reação/atitude na semana seguinte, mas isso não aconteceu."
O que se lê a seguir, são diversas tentativas, segundo Ari, de um posicionamento da direção da Diocese diante da gravidade e do agravamento da situação. Em uma delas, padre Ari escreve o seguinte:
"Numa conversa de 57 minutos, relatei o agravamento da situação, alertando-o [o bispo] sobre a eventual inércia da Igreja na tomada de decisões e mais alguns fatos novos, inclusive me dispondo a apresentar-lhe provas, clamando por providências urgentes. Novamente nada. Apenas o incômodo silêncio." Silêncio este inclusive noticiado pela RSN, como você vê no link no começo da matéria.
Funcionários que souberam e denunciaram o esquema foram demitidos. Uma advogada está respondendo processo de cassação de seu registro na OAB, movido pela Diocese. Uma investigação aberta pelo Ministério Público. Declarações por parte da 'igreja' de que 'tudo era calunioso'. Tudo isso e outros pontos importantes são descritos no desabafo do padre Ari Marcos Bona.
"Aqueles que tentaram alertar a Igreja, que solicitaram providências, que tentaram ajudar, foram demitidos e processados (antes do término das apurações) e a pessoa sobre a qual pairavam dúvidas, teve sua defesa reforçada e apesar de ser réu, foi mantida incólume em suas funções. Ao menos nestes dois momentos a “igreja” perdeu a oportunidade de fazer o que qualquer outra instituição ou empresa faria e faz como de praxe, declarando: “pedimos desculpas e afirmamos que as providências foram tomadas e vamos colaborar com a justiça...”
"É profundamente lamentável que tudo isso tenha chegado a esse ponto. Tudo poderia e deveria ser resolvido internamente, com uma simples reunião do clero, que era o que sempre pedimos, sem êxito", continua Ari. "Eu sou o padre mais envolvido e mais afetado por tudo isso (acabei me tornando o ponto de convergência das queixas de funcionários e cobranças de alguns padres que me motivavam e “tomar a frente”). Minha consciência não me permitiu ficar indiferente desde o primeiro momento, por isso tomei atitudes que julguei necessárias. Isso me indispôs explicitamente com o bispo e muitos padres. Questionei vários, talvez também me excedi em alguns momentos. Parte dos 23 padres que assinaram a carta livres e conscientemente, depois se declararam em sentido contrário, afirmando terem-no feito sem saber. Questionei muitos, fui intolerante e radical com outros, e isso foi tornando-me um excluído. Consequentemente fui me isolando, me afastei de reuniões e encontros, pois o que realmente precisava ser tratado era “empurrado pra debaixo do tapete”. Não consigo aceitar que a Igreja não queira enfrentar internamente seus problemas e que deixe sem esclarecimentos tanta gente séria que a ama e serve."
"NUNCA ME DEIXEI INTIMIDAR"
A insatisfação, a tristeza e até mesmo a revolta, ficam completamente visíveis nos parágrafos que seguem na postagem corajosa de padre Ari:
"Tenho dificuldade em compreender porque tantos como eu que viram e sabem de muita coisa, confundem voto de obediência com subserviência que beira à omissão, deixando de exercer a capacidade crítica/questionadora que a formação filosófica e teológica nos facultou. Esquecem que padres e bispo são humanos e sujeitos a erros e engodos por confiar e acreditar em pessoas que também são humanas e limitadas, que igualmente estão sujeitas a caprichos e preferências humanas. É isso que rompe a alma, fragiliza meu ser, que gera dor e sofrimento. Está faltando à nossa Igreja autocrítica e humildade. A Igreja se autodefine como santa e pecadora porque é uma instituição Divina composta por seres humanos, e eu não concordo que ela seja inquestionável, que não se possa perguntar ou pedir esclarecimentos. Alguns padres partilham deste meu sentimento, mas não foi o suficiente para provocar as mudanças necessárias. Tal situação possivelmente se instalou por falta de humildade e diálogo, pela imparcialidade e talvez responsabilidade do pastor junto ao rebanho, pois cabia unicamente a ele convocar uma reunião no início de tudo, mas agora temos que ver a Igreja se desgastar diante da escolha feita. O próprio Jesus diz que o bom pastor deixa 99 ovelhas para salvar a que se perdeu, buscando trazê-la novamente ao convívio do rebanho. Nesta situação específica, temos a impressão de que apenas uma ovelha foi (e está sendo) carregada ao colo e o pastor vira as costas ao restante do rebanho, o que se percebe claramente quando este ignorou várias oportunidades de esclarecer e resolver os fatos internamente."
(...) "Todas as possibilidades que estavam ao meu alcance foram esgotadas e permanecer desta forma, “está me matando aos poucos”. Não consegui, até o presente momento, e creio que não conseguirei fazer a diferença ou provocar alguma transformação pra melhor, estando dentro da instituição. Já perdi minha paz, serenidade e motivação há um bom tempo; me indispus com o bispo e boa parte do clero por posicionamentos que tomei e coisas que falei, estou isolado e não me situo mais neste meio. Tenho consciência de que não sou dono da verdade, mas entendo que a comunidade que busca o sacerdote e precisa dele, merece tê-lo por inteiro e não com um coração cheio de decepções, amarguras, frustrações, inquietações, inseguranças e medos. Não estou mais conseguindo ser o que gostaria de ser."
Nas palavras seguintes, padre Ari se despede da comunidade agradecendo tudo o que viveu durante os 25 anos de ministério, recém-celebrados inclusive. Ainda segundo o padre, "o Bispo já foi comunicado desta minha decisão há 40 dias (16/11/16), de modo que tivesse o tempo hábil para providenciar o substituto e assegurar a continuidade das atividades na Paróquia, sem prejudicar os fiéis. Algumas pessoas ficarão tristes por vir à igreja Sant’Ana e não me ver mais presidindo celebrações. Mas eu já estou triste há muito tempo e até o momento consegui suportar, mas chegou meu limite. Conto com a compreensão de todos e peço desculpas por sentimentos ruins que eventualmente minha decisão despertará." Padre Ari diz que vai continuar servindo a comunidade de outras maneiras.
Realmente, quem costumava assistir às suas pregações e homilias nas missas cheias da Paróquia Sant'Ana vai sentir falta da naturalidade e do jeitão 'gente como a gente' do Padre Ari. Seu post, que você lê na íntegra AQUI, já teve mais de 1.200 reações, quase 500 compartilhamentos e mais de 350 comentários, inclusive manifestações de fiéis cobrando um posicionamento da administração da Igreja para que não se omita diante dos fatos.
Saudades, padre Ari. Pode ter certeza que sua falta será mais que sentida.
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