By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: NA TELINHA – Imagem: Divulgação
Marcos Mion escreveu um texto em seu Facebook revelando detalhes da convivência com seu filho Romeo (9), que é autista.
Na publicação, o apresentador do "Legendários", da Record,
disse: "Me sinto abençoado e extremamente feliz por ter sido escolhido
por Deus para ser pai de uma criança autista, ou como eu prefiro dizer, o
guardião de um anjo. O meu Romeo".
Em outro trecho, Mion revelou o pedido inusitado do filho: "Uma escova de dentes azul".
O post publicado na rede social já está com mais de 28 mil curtidas e 4 mil compartilhamentos.
Confira na íntegra:
LIÇÕES QUE APRENDI COM MEU FILHO AUTISTA
Este texto é uma reflexão natalina. Um aprendizado.
Quanto mais leio para meus filhos sobre o “menino” Jesus e toda sua
sabedoria, mais a identifico dentro da minha própria casa.
Não apenas os discípulos, mas todos que o conheciam, chamavam o menino Jesus de mestre.
Mestre não é um titulo que alguém pode atribuir a si mesmo. O mestre
nasce da capacidade do interlocutor de reconhecer a sabedoria quando
entra em contato com ela.
O mestre, para existir, por mais sábio que seja, depende da humildade
daqueles ao seu redor de se reconhecerem numa posição de inferioridade,
de aprendiz.
(E é assim que me sinto. Humilde e extremamente feliz de dividir meu
dia a dia com uma criança que ilumina e engrandece todos ao seu redor)
Todos ja me viram falar publicamente que me sinto abençoado e
extremamente feliz por ter sido escolhido por Deus para ser pai de uma
criança autista, ou como eu prefiro dizer, o guardião de um anjo. O meu
Romeo.
Sempre que faço algum post, aparecem centenas de pais comentando e
dividindo o mesmo sentimento de gratidão. Como se fosse um clube que,
quem não faz parte, secretamente agradece e não consegue nem começar a
entender pq aquelas pessoas são tão gratas por fazerem parte dele.
Afinal, como que, na pratica, meu filho me faz tanto bem? Como uma
criança que, aparentemente, tem dificuldades consegue me ensinar?
Como falei acima, parte da minha capacidade de identificar a sabedoria e transforma-la num aprendizado.
Vou contar o que aconteceu este Natal e qual foi a lição que ele nos deu.
Como de costume, pelo fim de Novembro, minha esposa, Suzana, e eu juntamos os tres para fazer a carta do Papai Noel.
– “Eu quero infinitos Legos!”, disse o Stefano.
– “Calma que ja tenho minha lista separada em imagens no ipad”, disse
Doninha, lembrando da quantidade razoavelmente grande de presentes que
ja tinha separado entre borrachas da Hello Kitty e um tenis da Nike,
alem de varias coisas de menina de marcas que ela gosta.
Resumindo? Duas listas extensas e extremamente comuns para crianças
que convivem num mundo tecnológico, repleto de marcas, com demandas que
eu considero ridículas de consumismo. Propagandas em todo lugar, aquela
maldita sensação, que eu odeio, causada na escola que é necessário ter
pra existir. Sensação que lutamos muito contra em casa enchendo as
crianças de auto confiança, dando “centro” pra elas saberem que o que
interessa na vida não são as coisas que o dinheiro compra, mas que, por
motivos óbvios, sempre cerca qualquer criança hoje em dia. Ainda mais na
época do Natal!!
Até que chegamos no Romeo e indagamos o que ele gostaria de ganhar do Papai Noel.
“Uma escova de dentes azul”.
E agora chegamos no ponto crucial desse texto.
Se você da risada com essa resposta e pensa que o menino autista
realmente esta fechado no seu mundo e não conecta com a realidade, que é
filho de um artista de tv, que poderia pedir qualquer coisa no mundo
que ganharia e, burro, pediu só uma escova de dentes azul, esse texto
não vai fazer sentido algum pra você. Pode parar por aqui. Você não
consegue identificar um ensinamento quando se depara com um.
Suzana e eu, instantaneamente ficamos emocionados com aquela
resposta. Ao meio de tanto consumismo, numa época que virou símbolo de
consumismo, nosso mestre, sem saber, sem ter a consciência externa do
que estava fazendo, afinal sua sabedoria é nata, é orgânica e
instintiva, colocou nossos pés no chão, nos remontando com os
verdadeiros valores do Natal.
O que realmente vale nessa vida? Essas coisas materiais vão com o
tempo, quebram, ficam velhas e obsoletas tornado-se um lembrete vivo e
constante de dinheiro que jogamos pela janela adquirindo valores que não
interessam.
Não serei hipócrita e dizer que não é saudável comprar brinquedos e
presentes. Não é isso. Sou totalmente a favor de usar o ato da compra
material como recompensa e até como educação, inclusive de valores
morais, mas fato é que existe um grande exagero nas proporções que o
consumismo tomou hoje em dia, como mencionei explicando os pedidos dos
meus outros filhos.
Ainda perguntamos pra ele se não queria mais nada, um bichinho de
pelúcia que ele adora, um ipad novo que, para quem não sabe, é uma das
ferramentas mais poderosas de comunicação dos autistas com o mundo
exterior, mas ele foi categórico: “uma escova de dentes azul. É isso que
eu quero ganhar do Papai Noel”.
Até que finalmente chegou o dia do Natal. Fizemos a comemoração da
véspera, deixamos os cookies feitos em família na varanda para o bom
velhinho e todos foram dormir muito ansiosos com a visita do Papai Noel
na madrugada.
Não preciso dizer que 5:00 am ja ouvi Tefo rasgando papel de presente! rs.
Levantamos para acompanhar e viver com eles todo esse momento magico
que tem data de validade, pois a crença real no Papai Noel não é eterna
e, hoje em dia, acaba cada vez mais cedo. E enquanto Tefo e Doninha
pareciam dois demônios da tasmânia envoltos em presentes e embrulhos,
abrindo mais um e mais um e mais um, Romeo assistia de longe com um
certo grau de tensão no ar.
“O Papai Noel trouxe minha escova de dentes azul?” ele perguntava
sentindo o que eu identifiquei como medo de frustração! Uma real
incerteza se ganharia aquele único e tão valioso presente. Lembrem que
isso foi na manhã do dia 25, quase 2 meses depois do dia que escreveram
as cartas e essa ainda era sua única vontade, seu único desejo de Natal.
Conduzi Romeo até arvore e o deixei identificar o presente com seu nome!
Fico emocionado ao lembrar, mas ele abriu o embrulho com uma
expectativa tão grande, uma ingenuidade e um doutorado em desapego que,
quando o ultimo pedaço de papel revelou sua escova de dentes azul, ele
foi tomado de emoção!! Abaixou a cabeça num alivio e se atrapalhou de
tão forte que essa emoção veio.
Sim, ele chorou.
Chorou de alegria, inundado pela mais pura e bela emoção! Eu e Suzana choramos juntos.
Tão pouco…um presente tão simples…e ai me deu o estalo. Mestre!
Entendi que era algo muito maior do que uma simples escova de dentes.
Ali, naquela emoção, naquela pureza, naquela humildade e, acima de
tudo, naquele desapego, tive a maior lição de Natal da minha vida.
Obrigado Mestre, por mais uma. Te amo.
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