By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Em Defesa da Comida – Imagem: Gazeta do Povo
As lavouras
paranaenses estão recebendo um volume maior de agrotóxicos. Entre 2008 e 2011,
enquanto a área plantada permaneceu estável, a quantidade do insumo pulverizada
nas plantações do estado aumentou 20,3%. O consumo total chegou a 96,1 milhões
de quilos, média de 9,6 quilos de defensivos por hectares ao ano. O avanço na
aplicação do produto e os prejuízos diretos e indiretos à saúde são os
principais alertas da publicação “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável”,
divulgada ontem pelo Ipardes.
O
mapeamento mostra que o cenário é mais preocupante nas regiões Central e Oeste
do estado. Na área da bacia hidrográfica do Piquiri (Centro-Oeste), por
exemplo, foram usados 19,3 milhões de quilos, mais de 20% dos agrotóxicos
aplicados no estado.
Além de
receberem o maior volume do insumo (chegando a 14,1 quilos por hectare ao ano),
as lavouras dessas regiões são pulverizadas com concentrações consideráveis dos
produtos classificados como “extremamente tóxicos”.
O indicador revela que “onde há maior consumo de agrotóxico, a atividade dominante é a agricultura intensiva, com predomínio das culturas de soja e milho”.
O indicador revela que “onde há maior consumo de agrotóxico, a atividade dominante é a agricultura intensiva, com predomínio das culturas de soja e milho”.
“Há
produtores que não têm uma prática de manejo equilibrada. Na primeira praga, já
é feita uma grande pulverização. É uma questão nada sustentável”, aponta a
coordenadora do estudo, Ana Cláudia Müller.
Risco à saúde
O estudo
estabelece um vínculo direto entre o uso intensivo de agrotóxicos e os agravos
à saúde dos paranaenses. As intoxicações causadas por esse tipo de insumo se
concentraram justamente nas áreas onde a pulverização é maior. Por exemplo,
enquanto a média de intoxicações no Paraná é de sete pessoas por 100 mil
habitantes, na área da bacia do Paraná 2 (no Oeste) o índice chega a 53,5 por
100 mil.
O Ipardes
também relaciona as pulverizações excessivas às ocorrências de neoplasia. Três
mapas mostram que os novos casos de câncer de mama, de próstata e de leucemia
tendem a se concentrar onde as aplicações de agrotóxicos são mais intensas. “Se
você botar um mapa do lado do outro, você vai ver que é a mancha é mais significativa
onde tem mais agrotóxico”, observa Ana Cláudia.
O estudo
destaca ainda que os mais afetados pelos efeitos tóxicos são os trabalhadores
do setor agrícola, mas assinala que os perigos se estendem até o consumidor dos
produtos que receberam o insumo. “Por isso mesmo, o próprio Ministério da Saúde
estima que, para cada evento de intoxicação por agrotóxico notificado, há
outros cinquenta casos não notificados”, informa o relatório.
Autoridades demonstram preocupação
O avanço
dos agrotóxicos sobre as lavouras paranaenses gerou preocupação entre
autoridades que participaram do lançamento do estudo. Para o secretário de
Estado de Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, os indicadores devem servir como
base para políticas públicas. Mas ele vê com urgência a necessidade de uma
mudança de paradigma, principalmente no que diz respeito ao uso indiscriminado
de defensivos.
“Festejamos
que somos campeões na produção de grãos, mas temos pagado um alto preço por
isso. Somos os campeões também de casos de câncer de fígado e de pâncreas. Não
é mera coincidência. Ou abrimos os olhos e mudamos esse roteiro econômico, ou
vamos colher esses dados cada vez piores”, disse o secretário.
Em
contrapartida, Cheida afirmou que a secretaria deve ampliar o estímulo ao uso
de adubos orgânicos e ao consumo e produção de alimentos orgânicos. “Em média,
a cada 15 minutos, surge um novo caso de câncer no Paraná. De nada adianta
termos bons indicadores econômicos, se a gente gasta horrores com saúde”,
acrescentou.
O deputado
estadual Rasca Rodrigues (PV) também lamentou o aumento da aplicação de
agrotóxicos no Paraná e lembrou que a questão já havia sido diagnosticada.
“Muitos dos problemas do momento, como o uso inconsequente dos agrotóxicos, já
haviam sido alertados em um primeiro estudo. Com ele, o poder público poderá se
antecipar aos problemas e desenvolver soluções com mais eficiência”, avaliou.
A
reportagem entrou em contato com a Associação Nacional de Defesa Vegetal
(Andef), mas o porta-voz da entidade participava de uma reunião e não pôde se
pronunciar.
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