terça-feira, 26 de março de 2019

Crianças estão sendo vítimas do suposto “Desafio da Momo”?


By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: E-FARSAS Imagem: Divulgação


Ainda que já tenhamos abordado esse assunto numa matéria anterior, e mostrado detalhadamente que na prática o “Desafio da Momo” nunca existiu, esse assunto continua rendendo manchetes de cunho totalmente alarmista e sensacionalista pelo Brasil (leia mais: “Momo invadiu o YouTube Kids e está ensinando crianças a se matarem?“). Tal situação continua propagando um ambiente perigoso de histeria coletiva promovido por parte da mídia, pais e, inclusive, educadores.
Também mostramos naquela mesma matéria, que nunca houve evidências concretas de que realmente existiram vídeos infantis publicados e acessados através do aplicativo “YouTube Kids”, que contivessem inserções maliciosas da “Momo” orientando crianças a se suicidarem no período entre o início de fevereiro e início de março deste ano.
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Tudo indicava, que os vídeos disseminados por pais e por grande parte de mídia eram falsas inserções criadas posteriormente a viralização do tema, utilizando trechos de vídeos infantis, e disseminadas através do Facebook, Twitter ou grupos do WhatsApp, de modo a aparentar que tivessem sido extraídas de vídeos publicados no “YouTube Kids” e no próprio YouTube convencional.
Em mais uma tentativa de mostrar a realidade por trás do que é divulgado, vamos abordar quatro casos envolvendo crianças, que segundo a especulação irresponsável promovida por uma parte da imprensa brasileira, supostamente teriam sido vítimas do “Desafio da Momo”. Esse é um assunto extremamente delicado e tentaremos abordá-lo da maneira mais responsável, respeitosa e ao mesmo tempo completa possível. Enfim, será que alguma criança foi ferida ou acabou morrendo devido ao tal “Desafio da Momo”? Descubra agora, aqui, no E-farsas.
#1 – O Caso Ocorrido na Cidade de Goioerê, no Estado do Paraná
Goioerê é um pequeno município do Paraná, localizado a 530 km a noroeste de Curitiba, cuja estimativa populacional em relação ao ano de 2018 era de pouco menos de 29 mil habitantes.
Essa pequena cidade paranaense acabou sendo destaque na mídia, por volta do dia 18 de março (três dias após a viralização promovida pelo site e página do Facebook da Revista Crescer), devido a um suposto caso de tentativa de suicídio infantil. Um menino de 4 anos supostamente teria cortado os pulsos, de maneira superficial, com uma faca e, posteriormente, teria tentado estrangular o pai.
Fizemos uma Postagem Sobre Esse Caso!
O Gilmar Lopes, proprietário do site E-Farsas, escreveu um artigo sobre esse assunto (leia mais: “Um menino de 4 anos cortou os pulsos em Goioerê por causa da Momo?“), no qual não foram encontradas quaisquer informações sobre esse caso em jornais locais. Tais informações partiram de sites como o VVale e o Goio News, e foram replicadas pelo site de notícias Massa News.
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Havia, evidentemente, notórios problemas em potencial (“red flags“) em toda essa história. Foi mencionado, por exemplo, que “os pais tinham visto um alerta relatando que vídeos de conteúdo infantil estavam sendo interrompidos com a boneca Momo, com cenas ensinando a prática do suicídio para crianças“.
Em primeiro lugar, a “boneca Momo” em si, não existe, o que existiu no ano passado foi uma escultura japonesa, que alguém, em algum momento, atribuiu de maneira inapropriada todo um contexto de terror virtual, que ela não tinha. Em segundo lugar, tal alerta foi baseado apenas em relatos divulgados na mídia, jamais em evidências concretas.
Em seguida foi alegado, que apesar do menino de 4 anos não falar, os pais acreditavam que isso teria o incentivado a cortar os pulsos. E qual a explicação para a tentativa de estrangular o pai? Não houve.
A Divulgação por parte do “Massa News” e da “Catve”
Essa situação de credibilidade da informação piorou substancialmente, quando o site de notícias “Massa News” entrou em contato conosco explicando, que teria falado com exclusividade com a mãe do garoto, e que ela teria confirmado a ocorrência do incidente. Só havia um problema: o link repassado era de um site parceiro do próprio “Massa News”, chamado “Catve“, que alegava ter falado com a mãe do menino.
Intitulado “Menino que tentou suicídio ficava horas vendo vídeos na internet, diz mãe” (repararam no “, diz mãe”? Isso faz vocês lembrarem de alguma coisa?), o texto dizia que o incidente teria ocorrido no dia 9 de março (embora tenha sido divulgado somente após a viralização promovida pela revista Crescer). A mãe teria dito que estava fazendo crochê, enquanto o filho assistia vídeos pela internet, quando o menino a procurou com os braços ensanguentados.
Questionado sobre o que havia acontecido, ele teria dito: “Eu cortei com a faca“. Esse é um ponto interessante, porque anteriormente o menino não falava, mas no texto da Catve ele repentinamente passou a falar.
Também foi mencionado que os ferimentos eram apenas superficiais. A mãe teria limpado os braços da criança, feito curativos e horas depois, o menino de 4 anos que não falava, teria discutido com o pai, e teria tentado asfixiá-lo. Estranhamente, a mãe não teria procurado um médico, mas tão somente um pastor. Qual pastor? Também não sabemos.
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O Conselho Tutelar foi acionado?
Depois do ocorrido, o menino teria passado a frequentar normalmente a escola. A Catve disse que chegou a procurar o Conselho Tutelar de Goioerê, mas que o caso não havia chegado ao conhecimento das autoridades.
Enfim, isso abre margem para três interpretações distintas:
  • O Conselho Tutelar entendeu que o caso é falso;
  • O Conselho Tutelar e demais autoridades competentes assumiram a responsabilidade de não investigar um caso verdadeiro, e permitiram que um menino de 4 anos, que teria cortado superficialmente os pulsos com uma faca e agredido o próprio pai, retornasse normalmente ao convívio com outras crianças;
  • O Conselho Tutelar investigou posteriormente o caso e a imprensa deixou de acompanhar a situação.
Sinceramente, é difícil dizer qual das três interpretações é a pior.
A Realidade por Trás da Especulação
Até o momento, a única coisa que existe sobre esse caso é uma tentativa extremamente forçada de tentar validar a viralização promovida pela revista Crescer. Nada além disso. Temos um caso onde não há a confirmação ou investigação por parte de qualquer autoridade pública; não sabemos o que de fato aconteceu; o que realmente o menino, que não falava, mas repentinamente passou a falar, viu, ou qualquer outro elemento comprobatório que possa estabelecer uma sólida relação entre a “Momo” e essa suposta tentativa de suicídio.
Tudo o que temos é o suposto relato de uma mãe (uma vez que não sabemos quem ela é), e uma alegação final dela onde foi mencionado, que o filho pedia para dormir com os pais devido ao medo que os “bichos” aparecessem. Quais “bichos”? Novamente, ninguém sabe. Portanto, não há um único indicativo que a recente viralização da “Momo” no Brasil tenha contribuído para tal incidente, caso realmente tenha acontecido conforme divulgado pela imprensa.
#2 – O Caso Ocorrido em Mundo Novo, no Estado do Mato Grosso do Sul
Mundo Novo é um pequeno município do Mato Grosso do Sul, localizado a 473 km ao sul de Campo Grande, cuja estimativa populacional em relação ao ano de 2018 era de pouco mais de 18 mil habitantes.
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Essa pequena cidade sul-matogrossense acabou indo parar no turbilhão da mídia devido a um trágico episódio: uma menina de apenas 11 anos, filha de um policial militar, se matou com a arma do próprio pai, no dia 17 de março (dois dias após a viralização promovida pelo site e página do Facebook da Revista Crescer). No dia seguinte, o portal de notícias “Bhaz” publicou um texto, comentando sobre esse caso e o anterior (o de Goioerê), e fez a seguinte e indevida especulação, ipsis litteris: “Apesar da distância geográfica, os casos podem ter em comum uma personagem já conhecida entre usuários das redes sociais, inclusive no Brasil: a Momo“.
O site de notícias “Notisul”, por exemplo, copiou integralmente o texto do portal “Bhaz”, o que ajudou a disseminar tal especulação. Algo semelhante ocorreu com o site de notícias “Tribuna da Região”, da cidade de Goioerê, que fez o seguinte comentário: “Apesar de não haver qualquer indício de relação direta, a ocorrência em MS coincide com rumores que circularam na internet sobre a veiculação de vídeos com desafios suicidas usando a figura da ‘boneca Momo’
A Divulgação Mais Responsável do Caso
Quem divulgou esse caso de maneira mais responsável foram os sites “G1” e do jornal “Correio do Estado”.
Com o título “Polícia investiga morte de menina de 11 anos com arma do pai em município de MS“, o G1, em 18 de março, noticiou o falecimento da menina dizendo que a perícia esteve no local, e o corpo foi encaminhado ao Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL) em Dourados, na região sul do estado.
A investigação se estendeu até esta madrugada e ainda consta como morte a esclarecer. A arma de fogo é uma Taurus .40, que não é de fácil manuseio. A pessoa precisa ter uma certa habilidade para carregá-la e, em tese, possui um ferrolho bem pesado e que teria sido manipulado mais de uma vez. Precisamos, antes de tudo, aguardar o laudo da perícia“, disse a delegada Allana Zarelli, responsável pelo caso.
Em uma conversa informal no imóvel, a mãe da vítima falou que ela tinha muito orgulho pelo fato do pai ser policial militar, porém nunca teve contato com a arma.
Nós recolhemos o aparelho celular da adolescente, além do computador e outro objetos. Hoje serão ouvidos um casal de amigos que estavam na casa, na sala e tomando chimarrão em companhia dos fatos, além de pedirmos para o juiz a quebra de sigilo do celular, bem como encaminhar arma para perícia e solicitar exame do resíduo de pólvora“, explicou Allana.
Ainda conforme a polícia, na época, a mãe estava muito abalada e o pai precisou ser internado, já que era diabético e teve um ataque cardíaco
A mãe nos falou poucas palavras, ressaltando que o pai chorou muito e não aguentou ficar no local, sendo necessária a internação. Ela também disse que houve uma pequena discussão com a menina, já que ela reclamou do barulho e preferiu assistir um vídeo pelo celular, quando a mãe pediu pra ela voltar pra sala e ficar com a família e convidados. No entanto, a mãe fala que não percebeu nada de diferente na menina“, completou a delegada.
CONFIRA AQUI A MATÉRIA COMPLETA.


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