By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: RADIO NAJUA – Imagem: Divulgação
Uma dessas mulheres é Fabiula Candeo, de 27 anos, a primeira a assumir o cargo de motorista de transporte escolar concursada em uma Prefeitura no Estado do Paraná. Ela era instrutora de trânsito em Irati até que surgiu um concurso público, em Rebouças, para o cargo de motorista de transporte escolar. Entre os quase 200 candidatos, ela ficou em 4º lugar.
Fabiula revela que, mesmo tendo sido uma das candidatas mais bem colocadas no concurso, cogitou desistir do cargo, diante da resistência e estranhamento que as pessoas manifestavam quanto ao fato de ela dirigir um ônibus do transporte escolar.
“Já tive oportunidades de sair do setor de transportes e eu acabei dizendo ‘não’, pelo fato de eu, aí, sim, perceber o quanto gosto. Quando subo no ônibus e estou no volante é a hora que mais me realizo”, diz.
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Durante três anos e meio, diariamente, ela transportou cerca de 100 alunos na linha de Faxinal dos Francos, no interior de Rebouças. Nesse trajeto diário de quase 100 quilômetros, Fabiula guia um Mercedes-Benz Rural Escolar 1519, ano 2017, um dos maiores da frota, em estradas de chão. “Agora, estou trabalhando na linha do Riozinho de Baixo, que pega tanto asfalto quanto estrada de chão”, conta.
Nos primeiros meses como motorista do transporte escolar, Fabiula ainda vivia em Irati. Chegava ao pátio da Prefeitura de Rebouças às 6h da manhã e parava às 18h. Nessa época, voltava para casa só às 23h, pois ainda atuava como instrutora de autoescola à noite. Por conta da rotina desgastante entre as duas cidades e os dois empregos, ela decidiu se mudar definitivamente para Rebouças.
Fabiula conta como superou o preconceito inicial com que se deparou ao assumir o cargo de motorista do transporte escolar. “Encarei como um desafio para meu crescimento pessoal. Como eu já trabalhava numa autoescola, onde já era um pouco diferente ter uma mulher dando aula – hoje, na nossa cidade, já tem bastante mulheres instrutoras de trânsito. Quando fiz o concurso, eram quase 200 candidatos, apenas cinco mulheres, e fiquei em 4º lugar. Quando resolvi assumir o concurso, para muitos, era loucura de minha parte. Para mim, era uma novidade e nem eu tinha ideia da proporção que ia tomar. No Paraná, sou a primeira mulher concursada no transporte escolar em prefeitura.
Temos muitas mulheres dirigindo ônibus e vans, mas, concursada, sou só eu, por enquanto”, frisa.
Fabiula acredita que esse número venha a crescer muito em breve, tão logo outras mulheres, ao conhecer sua história, percebam que podem, sim, ocupar esses espaços, até agora, predominantemente masculinos.
Ela revela que sempre teve interesse pela direção. Ainda criança, gostava mesmo era de brincar com carrinhos e com os de rolimã. “Quando fiz 18 anos, no dia que fiz aniversário, já fui fazer a carteira de motorista. Já fui trabalhar num CFC [Centro de Formação de Condutores, ou autoescola] aqui na nossa cidade de Irati. Já fiz, com 19 anos, quando peguei a carteira definitiva, a carteira de caminhão. Fazendo 21, fiz a carteira E, que é a carteira de carreta”, conta. Conforme o Anuário Estatístico do Detran/PR de 2017, apenas 897 mulheres possuem a carteira E no Paraná, enquanto 102.859 homens estão habilitados nessa categoria.
“As pessoas brincam comigo, pelo fato de estar sempre com as unhas bonitinhas, perguntando se nunca vão estar sujas de graxa. Não, porque eu não sou mecânica e, sim, motorista”, responde Fabiula, quando perguntada se já teve que lidar com problemas mecânicos. A motorista explica que, por ser veículo da frota da Prefeitura, já existem os borracheiros e mecânicos licitados para fazer a manutenção do ônibus e, portanto, essa não é uma preocupação.
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“É claro que sempre temos que estar cuidando, observando, tive
que aprender algumas coisas e, mesmo assim, nunca sabemos tudo. Estou
sempre aprendendo e conto com o apoio de todos os motoristas que
trabalham junto comigo, tanto na Educação quanto na Prefeitura. Sempre
estão me apoiando e me ensinando”, comenta, sobre o convívio com os
colegas.
A rotina de Fabiula consiste em chegar ao pátio por volta das 6h da manhã e verificar o ônibus antes de iniciar a viagem para transportar os alunos para as aulas da manhã. Depois, ela retorna e fica à disposição da Secretaria de Educação. Ao meio-dia, é hora de levar para casa os alunos da manhã e trazer para a escola os alunos da tarde. No final da tarde, é hora do regresso dos alunos para casa. O expediente termina por volta de 18h.
No trato com as crianças, ela revela que, apesar do estranhamento inicial que algumas demonstram ao ver uma mulher dirigir o ônibus, em pouco tempo surge um apego quase maternal. “A gente também acaba se apegando a eles. Na escola, é aquela diferença: ‘Com qual ônibus você vai?’. ‘O ônibus da motorista’. Não tem outra, por ora, então é diferente. É um orgulho delas, você sente que elas já falam diferente com você, elas contam para as outras pessoas ‘ah, é a Fabiula que me leva. É a motorista’”, conta. Fabiula transporta alunos com idades entre quatro e 18, 19 anos, do CMEI ao Ensino Médio.
“No início, onde eu passava na cidade, eu via e lia nos lábios das pessoas elas falando ‘é uma mulher!’. Elas paravam e ficavam olhando. Minha vontade, até eu me acostumar com a ideia de que, para eles, era diferente, era a de sumir, que eles não me vissem. Eu ficava constrangida, ao invés de ter orgulho de eu ser a mulher que estava dirigindo. Com o passar do tempo, isso mudou. As mulheres conversam comigo e se orgulham de eu as estar representando”, diz.
“Cada mulher tem um diferencial. Em cada setor, é importante ter uma figura feminina, pois ela sempre tem algo diferente a apresentar, algo com que auxiliar naquele trabalho. Assim como no transporte, que era visto como algo masculino, a mulher dá um cuidado diferente. Sempre que uma mulher tiver vontade de adentrar um mercado que era considerado mais masculino, a mulher precisa ter coragem, não deve pensar ‘ah, eu não posso’. Pode, sim”, conclui Fabiula ao ser solicitada para deixar uma mensagem para as mulheres em referência do Dia Internacional da Mulher.
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História da mulher na direção
Foi em 1895, na Alemanha, que o engenheiro de automóveis Karl Benz criou o primeiro ônibus movido por motor a gasolina. Sua mulher, Bertha Benz, é considerada a “mãe” do automóvel. Ela foi a primeira piloto de testes da história e, sem o conhecimento do marido engenheiro, realizou a primeira viagem de longa distância em um veículo motorizado da história, em 1888. Ela percorreu 104 km entre duas cidades alemãs, com os dois filhos a bordo do triciclo Patent-Motorwagen Nº 3.
Mas foi só em junho do ano passado que o direito de dirigir passou a ser universal para as mulheres, quando a Arábia Saudita derrubou a proibição que elas dirigissem. Até então, a mulher devia estar acompanhada de um motorista profissional ou um familiar homem. Mulheres sauditas que ousavam dirigir, como protesto, eram presas. A decisão do rei Salman bin Abdulaziz pôs fim, em 24 de junho de 2018, a esse resquício de ultraconservadorismo. Agora, mulheres do mundo todo podem dirigir.
No Brasil, no mesmo ano em que conquistaram o direito de votar, em 1932, no governo de Getúlio Vargas, as mulheres passaram a poder conduzir veículos. As pioneiras a obter licença para dirigir foram Maria José Pereira Barbosa Lima e Rosa Helena Schorling, também a primeira paraquedista do país. No ano seguinte, Rosa Helena tirou sua carteira para motos.
Em 1959, Léa Aguiar, que era esposa do dono de uma viação capixaba, foi parada pela polícia por estar dirigindo um ônibus em Vitória (ES), a mesma cidade de Rosa Helena. Segundo a pioneira do transporte público, em entrevista ao jornal O Globo, os policiais ficaram surpresos ao descobrir que ela era habilitada. Já divorciada, em 1981, ela se tornou a primeira motorista de ônibus em Niterói (RJ).
OUÇA AQUI A ENTREVISTA.
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