sexta-feira, 8 de março de 2019

Aos 104 anos, Dona Elvira relembra como foi ser a 1ª mulher a usar calça comprida em Curitiba


By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1/PR Imagem: RPC

Com 104 anos, Dona Elvira Kenski relembrou como foi ser a primeira mulher a usar calças compridas em Curitiba – na década de 40. A paranaense lutou pelos diretos das mulheres em um tempo que era preciso ainda mais coragem para enfrentar o machismo e os privilégios masculinos.
Na época, comprou duas calças em São Paulo. Era a última moda em Paris. Ao voltar para a capital paranaense, ela contou que foi com uma amiga passear no Centro. "Não tava fazendo nada de mal. Eu tava fazendo umas coisas bem modernas, né?". 
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Histórias das décadas de 30 e de 40
Ao encontrar com a equipe de reportagem da RPC, Dona Elvira falou sobre as histórias que viveu nas décadas de 30 e de 40. Nos anos 30, entrou na faculdade de odontologia. Dona Elvira disse que, durante um ano, ninguém conversou com ela. 
"Eu fui me inscrever na faculdade. Ficamos num grupo, uma fileira. E era só eu. O rapaz da frente começou a conversar comigo. Eu a única em 30 e poucos lá. O de cima, o de baixo falava comigo, o de cima chegou e falou assim: 'não fale com ela! Porque ela é polaca, você está vendo que ela é mulher, além disso ela é polaca, além disso o pai dela é operário", disse. 
Dona Elvira lembrou ainda no dia em que foi dar um cheque, depois de ter se casado, e descobriu que precisava da assinatura do marido, para que fosse aceito: "Eu fiquei tão brava".
Ela também contou sobre uma situação em que ergueu a voz, depois de ouvir um homem lhe falar um comentário inapropriado no Centro de Curitiba.
"Um rapaz mexeu comigo e me disse umas coisas bem feias. E eu parei. Eu entrei no meio deles. Eu disse: 'Quem foi que disse umas coisas pra mim? Ah, foi você? Você tem mãe, você tem irmãs? Coitadas! Os senhores têm todos os direitos, todas as coisas, e nós nada! E eu tenho um curso igualzinho aos dos senhores na universidade. Os senhores podem fazer a sua vida... E nós não temos direitos, os direitos que os senhores têm. Então, a nossa luta não é contra os senhores, é contra os seus direitos que nós também queremos iguais aos seus". 
Caminho a percorrer
Daquela época até os dias de hoje, algumas coisas já mudaram, mas números mostram que há uma caminho a percorrer na luta pela igualdade. 
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De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, o salário médio pago às mulheres foi apenas 77,5% do que foi pago aos homens.
Além disso, muitos homens tratam as mulheres como propriedade, e os casos de violência seguem altos. Em 2017, foram abertos sete mil inquéritos nas Delegacias da Mulher no Paraná. Em 2018, foram dez mil casos. 
Hoje, as mulheres votam. Porém, ainda é preciso ter mais representatividade. As mulheres são apenas cinco 5 entre os 54 deputados estaduais. Das 30 vagas paranaenses no congresso, cinco são ocupadas por mulheres.  

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