By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Edilson Kernicki (Rádio Najuá) – Imagem: Élio Kohut
(Intervalo da Noticias/Rádio Najuá)
A mãe social é uma figura atípica nas relações de emprego no Brasil: é uma mulher que presta serviços a uma instituição de assistência social, que admite e coloca a mãe social em uma casa, tipo lar, onde ela vai morar e cuidar de determinado número de menores abandonados, mediante uma remuneração e a garantia dos demais direitos trabalhistas.
Contudo, é um serviço que demanda grande desprendimento e muita dedicação: a mãe social passa a viver em função de seus filhos, como qualquer outra mãe. Dá alimento, dá banho, veste, incentiva o estudo, mas também dá e recebe muito afeto. Como a dona Noeli Antunes dos Santos, de 61 anos, personagem de nossa história e homenagem.
Ela contou à reportagem da Najuá que executa essa função há mais de dez anos: “Gosto muito de crianças. Eu as incentivo a ir para a escola, incentivo a educação, em primeiro lugar”, afirma dona Noeli. Segundo ela, a primeira educação deve vir de casa, antes mesmo da educação formal na escola.
Uma mulher simples, porém generosa e afetuosa, promove anualmente uma festa de dia das crianças, que sempre atrai muitas delas. A comemoração se iniciou de modo tímido, apenas com distribuição de balas, mas ela manteve a festinha oferecendo outras guloseimas. “E eu faço voluntariamente porque eu amo, porque tudo o que a gente faz é tão bonito, o pouquinho que temos a repartir para as pessoas. Porque a gente também é pobre, mas o pouquinho que a gente tem, a gente divide, um pouquinho daqui, um pouquinho dali, se todo mundo fizesse assim, eu acho que ia longe nosso Brasil, dando mais amor às crianças e combatendo a violência. Porque eu dou muita educação para eles, converso muito”, diz Noeli, que tem sempre a frente da casa repleta de crianças que gostam de procurá-la para conversar.
Outro trabalho voluntário que Noeli está desenvolvendo agora é o de tricotar blusas de lã para que essas crianças carentes enfrentem o frio. O carinho dedicado na confecção das peças e o calor humano que ela troca com as crianças de que tanto gosta a ajudam a aquecer muitos corações.
Dona Noeli disse que perdeu as contas de quantas crianças já cuidou na vida, mas estima que seja em torno de 60. Ela lembra que da última vez que o repórter Élio Kohut a visitou, ela estava com 16 crianças sob sua responsabilidade.
O tempo passa, mas o afeto permanece. “Tem criança que passa por mim e me dá ‘bença’ (sic) homem já formado. Esses dias um rapaz encontrou comigo e disse ‘oh, tia, a senhora está boa?’; eu falei ‘eu estou, quem é você?’. E ele respondeu ‘a senhora não se lembra que eu ia buscar sopa na sua casa?’. Para mim foi uma alegria saber de tantas coisas boas que eu já fiz e que poderia ainda fazer mais, se tivesse uma ajuda”, relata.
Dificuldades
Dona Noeli comenta que precisou parar com o sopão que oferecia aos finais de semana, por problemas de saúde e financeiros. “O pouquinho que eu tenho, eu reparto”, enfatiza.
“Eu sou casada, tenho meu velho, que tem 73 anos, e ele gosta muito das crianças. Eu sou mãe de nove filhos meus mesmo. A quantidade de crianças que eu cuidei, acho que tem umas 60. Tenho até tataranetos dos filhos adotivos, que eu cuidei, que eu ajudei”, cita orgulhosa.
Mãe, vozinha do coração, tia
Não importa como as crianças se referem a ela, é sempre de modo bastante afetuoso, o que Noeli considera como uma grande recompensa. Ela falou sobre como é o reencontro com as crianças que já cuidou e agora cresceram: “Em todas as partes que eu encontro com eles, eu sinto aquela emoção que eles vêm, me dão ‘bença’, me abraçam, me beijam. Hoje mesmo eu já ganhei bastantes homenagens de dia das mães na rádio. Os de mais longe me mandam mensagens. Eu choro muito nesse dia, mas não de tristeza, e sim de alegria, porque é muito bonita essa coisa que a gente faz. O amor ao próximo é a coisa mais linda. Não tem dinheiro que pague a gente o amor e o carinho. Porque tudo o que precisamos nesse mundo é o amor, o carinho e a atenção”, comenta.
Quando algum dos filhos lamenta não ter condições de ter trazido nenhum presente, ela sempre busca confortá-los, dizendo que a presença em casa já é o maior presente. E a casa sempre lota em ocasiões especiais, como Dia das Mães e Natal: “Chega o final do ano e eu não tenho lugar para colocá-los para dormir. Tem que dormir um no chão, outro pelos cantos e assim eu loto tudo com as minhas crianças. Eu falo ‘crianças’, mas já são todos adultos, são pais”, explica.
Orgulho
A mãe social diz que tem orgulho em ver que alcançou o objetivo de instruir seus filhos pelo caminho correto. “Tenho 61 anos e tomo conta da minha casa e dos meus filhinhos sozinha. Saio visitar eles, às vezes tem algum que mora aqui perto e eu vou visitar. Para mim, graças a Deus, eu senti só alegria, porque a gente nota que o que a gente partilha com o outro, a gente recebe. Deus não esquece da gente, não”, observa dona Noeli.
Para ela, se todos agissem da mesma forma, partilhando generosidade, o mundo talvez não tivesse tanta violência: “Eu não sei se todo mundo é igual, mas eu amo, eu faço por amor. Eu não faço nada pelo dinheiro, eu faço pelo amor. Se uma pessoa, uma criança chegar aqui em casa e pedir, eu posso ter o último pedaço de pão, mas eu dou para eles. Depois eu vou fazer mais”, ressalta.
Com o passar da idade, problemas de saúde e falta de condições, ela mantém o trabalho, mas já de forma reduzida. Hoje cuida de duas crianças em tempo integral. Outras aparecem de vez em quando e almoçam com ela. “Às vezes dou banho nelas, troco uma roupinha neles, incentivo a ir à escola. Quando eu vejo que não está indo para a escola, eu participo das reuniões para eu ver como que está indo, porque eu conheço todo mundo aqui do bairro”, afirma. Para Noeli, incentivar o estudo é uma forma de tentar afastar as crianças das mazelas das ruas. “Sinto orgulho de meus filhos. Desses meus filhinhos do coração, graças a Deus já são casados, tem seu servicinho honestamente, trabalham. Eu me sinto feliz”, conta.
Dona Noeli diz que mesmo sem ter a própria mãe já faz tempo e de achar que “o dia das mães é todo dia”, considera a data especial. Ela conta que esteve numa escola essa semana e muitas das crianças vieram dar os parabéns pela data. “É um dia em que me sinto muito feliz por receber tantas homenagens dos meus filhos e netos do coração, porque os filhos deles me chamam de vó também. Para mim, não tem coisa mais linda que o dia das mães, apesar de eu não ter a minha. Mas eu sinto aquele amor, aquele carinho deles. Já recebi hoje bastantes mensagens, já recebi flores e vários cartões. Qualquer papelzinho que me dão, para mim é um grande presente, porque não tem coisa mais valiosa do que a criança trazer um cartãozinho para a gente com aquelas palavras: vovó, eu te amo. É uma felicidade que não tem dinheiro que pague”, finaliza.
Confira a entrevista:
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