By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: UOL – Imagem: Divulgação
Um
conjunto de estudos elaborados pelas Consultorias Legislativa e de Orçamento da
Câmara dos Deputados mostra que as regras previstas no leilão da Agência
Nacional do Petróleo (ANP), realizado na sexta-feira (27), farão o governo
reduzir o retorno na exploração do petróleo em relação à disputa no campo de
Libra, ocorrida há quatro anos.
Parte
desses recursos ajuda a financiar a educação e a saúde. Paralelamente, uma
Medida Provisória já em vigor e prestes a ser votada pelo plenário da Câmara
reduz impostos para as petrolíferas até 2040 e geraria renúncia fiscal de R$ 40
bilhões anuais, ou R$ 1 trilhão em 25 anos.
No
caso dos leilões do dia 27, o bônus de assinatura de todos os poços juntos foi
menor do que o de Libra, há quatro anos. Ao terminar a disputa, a ANP anunciou
ter leiloado seis áreas e arrecadado R$ 6 bilhões, menos da metade do obtido em
Libra: R$ 15 bilhões. Além disso, o excedente de produção em óleo que deve ser
repartido com a União ---e fomentar políticas de educação e saúde-- foi de 41%
em Libra. Nos novos leilões, a previsão da ANP variava de 10% a 22%, criticava
um dos estudos, produzido pelos consultores legislativos Pedro Garrido e Paulo
César Lima, este último ex-engenheiro de exploração da Petrobras. Nas rodadas
da última sexta-feira, esse excedente variou de 11%, pago pela Shell e a Total
no campo Gato de Mato, em Santos (SP), mas também chegou a 80%, pago pela Petrobras
em consórcio com a Repsol e a Shell, no campo no entorno de Sapinhoá, maior do
que em Libra.
O
deputado André Figueiredo (PDT-CE) foi um dos que foram, sem sucesso, à Justiça
tentar barrar o leilão. Uma decisão da Justiça Federal de Manaus até conseguiu
suspender a disputa por algumas horas. Para Figueiredo, as condições
determinadas pela ANP prejudicam o Fundo Social usado, inclusive, para injetar
dinheiro na educação e na saúde. "A minoração do excedente em óleo tem
impacto direto sobre as políticas públicas da União", afirmou o deputado
na ação popular. Ele afirmou que vai apelar agora ao STF (Supremo Tribunal
Federal).
Afora
os leilões, a Câmara se prepara para votar nos próximos dias a Medida
Provisória 795, que reduziu o imposto de renda e a CSLL (Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido) das petrolíferas. Nas contas de outros dois estudos, a
redução tributária é questionável. O consultor de orçamentos Bruno Rocha
verificou que, em três anos, serão perdidos R$ 30 bilhões em três anos, mais do
que previa o Ministério da Fazenda em época de arrocho fiscal.
Já
outro estudo, de Paulo Lima, calcula que, se forem considerados todos os campos
do pré-sal, a perda seria maior, da ordem de R$ 40 bilhões por ano, ou R$ 1
trilhão em 25 anos. O relator da Medida Provisória na Câmara, Júlio Lopes
(PP-RJ), ampliou o prazo para os benefícios serem usados até o ano de 2040
--originalmente, eram só cinco anos, até 2022.
Qual o tamanho dos novos campos de pré-sal?
Segundo
o estudo dos consultores Garrido e Lima, o governo deveria furar ao menos um
poço de petróleo em cada bloco para saber quanto de óleo existe. Assim, poderia
ter uma informação mais confiável da produtividade e exigir mais percentual de
excedente em óleo para a União, como aconteceu em Libra.
O
potencial de exploração, para eles, está sendo subestimado nos novos leilões.
"Algumas áreas como Aram, Uirapuru, Três Marias, Saturno e Alto de Cabo
Frio-Central chegam a ter áreas maiores que Libra", afirmam os
consultores. Além disso, eles se baseiam em uma cotação de petróleo de US$ 60
(R$ 195, na cotação de sexta-feira) com viés de alta, porque julgam mais
condizente com a realidade. A ANP considera US$ 50 (ou R$ 162).Mas o
diretor-geral da ANP, Décio Fabrício Odonne, outro ex-engenheiro da Petrobras,
rejeita a ideia de redução de ganhos para o país. Ele afirma que as riquezas
nacionais --e os repasses futuros à saúde e à educação-- não estão em risco.
Ele disse ao UOL que 75% da receita total de um campo de petróleo vai parar nas
mãos do Estado para distribuição em excedentes, bônus e tributos. Nas contas de
Paulo Lima, esse percentual é de apenas 56%, inferior aos 63% da Inglaterra,
aos 67% dos EUA, aos 74% da China e aos 76% da Noruega.
Odonne
diz que, com a cotação mais baixa e a falta de certeza sobre a produtividade
dos novos campos, não é possível cobrar bônus e participações em óleo tão altas
como as de Libra. As companhias petrolíferas --como Shell, Exxon, Repson, BP,
Total, Statoil, Petrobras e outras vencedoras dos leilões de sexta-feira--
estariam correndo riscos maiores agora e deveriam pagar menos porque se trata
de uma outra situação. "É a mesma coisa que pegar um Volkswagen e uma
Mercedes-Benz", comparou o diretor da agência. "Os dois são carros.
Um vale um preço e outro vale outro.
"No
mundo todo, a taxa de poços perfurados que dão sucesso é de 20%, mas, no
pré-sal, esse índice é de 50%, mais que o dobro, portanto. Mas Odonne afirma
não ser possível nem sequer saber se existe petróleo nesses locais leiloados.
"Nesses campos a gente não sabe nem se tem petróleo", afirmou o
diretor-geral da ANP.
Odonne
disse que não seria possível perfurar um poço em cada local, como sugerem os
consultores da Câmara porque o custo seria muito alto, de R$ 700 milhões
--outro especialista ouvido pela reportagem disse que a despesa seria de R$ 200
milhões. Para o diretor da ANP, "não vale a pena" a União gastar
milhões para abrir poços e só depois licitar. "É a União que tem que fazer
essa aposta? Ou é o mercado, que já vai pagar 75% para a União?"
MP tenta evitar as disputas judiciais
A MP
795, que está em vigor desde agosto a fim de beneficiar as empresas nos
leilões, permite que as companhias de petróleo calculem quanto gastaram com
pesquisa e desenvolvimento dos poços para tirar petróleo do chão ou do mar.
Esse valor será abatido do Imposto de Renda e da CSLL a pagar. Para o consultor
Paulo Lima, isso significa praticamente zerar o imposto a ser pago.
Para
não perder a validade, porém, a Medida Provisória precisa ser aprovada pela
Câmara e pelo Senado até 15 de dezembro. O relator, deputado Júlio Lopes
(PP-RJ), afirmou que a proposta é positiva porque beneficia as companhias
privadas com um benefício já obtido pela Petrobras e evita disputas judiciais
por causa de questões tributárias. O deputado endossa a versão do Ministério da
Fazenda, que editou a norma com apoio técnico do Ministério de Minas e Energia,
segundo apurou a reportagem. Em seu relatório à Comissão Mista para analisar o
tema, Lopes frisou a importância dos investimentos do setor na economia.
"Os nove leilões de blocos de petróleo previstos para ocorrerem até 2019
têm potencial para movimentar US$ 80 bilhões (cerca de R$ 260 bilhões) em
investimentos em 300 novos poços marítimos, com capacidade de produzir 2
milhões de barris por dia até o ano de 2027, e US$ 100 bilhões (por volta de R$
325 bilhões) em royalties", afirmou.
Outro lado
No
parecer, Lopes foi favorável à aprovação da regra por entender que ela dá
segurança para os empresários investirem no Brasil. Mas o consultor Bruno Rocha
considerou a pressa em apresentar a proposta antes mesmo de o orçamento ser
enviado "no mínimo questionável" e lembrou que era preciso
"encontrar espaço" para o governo renunciar mais receitas na
contabilidade. O deputado disse que isso não seria problema e seria corrigido
com a votação da lei orçamentária.
O UOL
procurou o deputado em seu gabinete e em seu celular desde quinta-feira (26),
mas ele não retornou os contatos. A assessoria do Ministério da Fazenda
repassou o caso à Receita Federal. A Receita afirmou que o pagamento de impostos
não vai mudar. "As medidas tributárias concebidas para a área do imposto
de renda levam em conta as especificidades do setor do petróleo, como o alto
risco na fase de prospecção e a necessidade de grandes investimentos por parte
das empresas, bem assim o longo tempo entre a prospecção da jazida e a sua
efetiva exploração.
"O
Ministério da Fazenda e a Receita não informaram quais empresas petrolíferas
pediram mudança na forma de cobrança de impostos e se as reuniões foram
registradas em agendas públicas e atas. "Ressalte-se que é normal o
diálogo dos órgãos públicos com representantes dos setores envolvidos para
compreender as dificuldades e especificidades do setor econômico com o intuito
de aprimorar a legislação buscando-se maior segurança jurídica e previsibilidade
para as regras a serem cumpridas pelos contribuintes", afirmou a Receita
quando questionada sobre quais companhias e eventuais lobistas participaram das
negociações.
A
Receita afirmou que nos últimos anos fez "vultuosos lançamentos
tributários" contra as companhias petrolíferas. No entanto, disputas
judiciais e no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) necessitariam
ser resolvidas em nome da "segurança jurídica". Sem isso, os leilões
de petróleo ficariam comprometidos, argumentou. "A MP 795 tem o objetivo
de corrigir problemas da legislação tributária sobre petróleo e gás natural que
ocasionaram um desempenho ruim da arrecadação destes tributos", afirmou a
assessoria do Fisco.
Os estudos foram feitos por cinco consultores da
Câmara. Quatro analisaram a MP 795 e produziram três trabalhos técnicos sobre
ela. Adilson Nunes de Lima e Marcelo Sobreiro Maciel "dissecaram"
detalhadamente a proposta. Paulo Lima observou os aspectos tributários sob o
ponto de vista da produção petrolífera. Bruno Rocha avaliou-a segundo a
situação do orçamento e a adequação financeira. Os leilões do pré-sal de
sexta-feira (27) foram analisados em um estudo dos consultores Pedro Garrido e
Paulo Lima.
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