By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Uol – Imagem: Divulgação
O ex-lateral Marinho Chagas, que defendeu o Brasil na Copa de 1974, morreu na madrugada deste domingo. Ele estava internado no Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, na Paraíba. Ele passou mal no sábado e, no hospital, foi diagnosticado com hemorragia digestiva. De acordo com informações da assessoria de imprensa do hospital, ele morreu por volta das 3h da manhã, aos 62 anos.
Marinho, que também fez história no Botafogo, foi internado na tarde deste sábado primeiramente em um pronto-socorro. O ex-jogador chegou ao local vomitando sangue após passar mal durante um evento de troca de figurinhas da Copa do Mundo, em uma banca de jornal da capital paraibana. Marinho dava autógrafos e conversava com os presentes quando teve o problema.
Recentemente, ele havia sido internado com problemas de alcoolismo e chegou a passar dez dias no hospital para se recuperar, como conta o site Que Fim Levou, de Milton Neves.
O velório de Marinho Chagas acontece neste domingo, no estádio Frasqueirão, em Natal.
RELEMBRE A TRAJETÓRIA DE UM DOS GRANDES JOGADORES DA SELEÇÃO DE 74 Marinho Chagas teve uma das ascensões mais fenomenais do futebol brasileiro. Nascido em Natal em 1952 como Francisco Chagas Marinho, aos 17 anos já se destacava em um pequeno time local, o Riachuelo, e atraía a atenção de um dos grandes clubes do futebol potiguar, o ABC. Em 1971, já arrasava na lateral-esquerda do Náutico, a potência do futebol pernambucano na virada da década de 1960 para os anos 70.
Sem nenhuma consciência tática defensiva, Marinho Chagas acabaria sendo um revolucionário da posição do lateral. Seus rompantes ofensivos viraram sua marca. E sua personalidade forte e ousada, aliada aos cabelos loiros compridos que o renderam o apelido de 'bruxa loira', seu legado. Em 1972, encarou em um campo de futebol pela primeira vez seu grande ídolo, Pelé. Um chapéu aplicado sobre o 10 do Santos virou notícia no Brasil inteiro e sua contratação por um clube do eixo Rio-SP, questão de tempo.
Bastou o cantor Aguinaldo Timóteo, botafoguense fanático e que fazia muito sucesso na época, ligar para o presidente do clube carioca implorando para contratar "um monstro" que ele já conhecia por suas viagens ao Nordeste. No Botafogo, explodiu e virou ídolo imediato.
Em menos de dois anos, estava garantido como titular da seleção brasileira que iria para a Alemanha buscar o tetracampeonato. Seu desempenho foi um resumo da sua carreira: em campo, foi eleito o melhor lateral esquerdo da Copa de 1974; fora dele, entrou para a história do futebol brasileiro pelo episódio da briga com o goleiro da equipe, Leão.
Chamado pelo lendário comentarista João Saldanha de "Avenida Marinho Chagas" por atacar demais e descuidar da marcação, o lateral foi apontado por Leão por ser culpado pelo gol da Polônia marcado por Lato que tirou do Brasil o terceiro lugar da Copa da Alemanha. Os dois, segundo conta a história e nenhum dos dois desmente, trocaram porrada no vestiário.
As passagens de Marinho Chagas fora das quatro linhas, aliás, formam um histórico dos mais ricos e folclóricos do futebol brasileiro. Ainda nos tempos de Náutico, o jogador brilhou em um amistoso na Jamaica. Cantor no intervalo da partida disputada em Kingston, um tal Bob Marley, que ainda era um desconhecido no resto do mundo, ficou fascinado com a forma de jogar e com o visual desgrenhado de Marinho. No vestiário, o brasileiro levou três discos do mito do reggae, em troca de uma camiseta da equipe pernambucana.
Suas lendas, porém, acabaram fazendo de Marinho Chagas um jogador questionado quando não estava jogando. Tratado como um profissional pouco disciplinado, ele mesmo admitia em entrevistas que gastou demais o caminhão de dinheiro que ganhou no seu auge como jogador. E que os abusos com a bebida prejudicaram muito a sua saúde e suas relações familiares.
Durante os anos 70, entretanto, Marinho Chagas não parava de brilhar. Transferido do Botafogo para o Fluminense, enlouqueceu o então presidente do tricolor carioca, Francisco Horta, ao cobrar pênaltis de maneira peculiar durante a disputa do Torneio Teresa Herrera, em 1977: ele corria para a bola, dava uma paradinha, fazia um giro de 360 graus com o corpo e, quando o goleiro já estava no chão, rolava para a rede.
Nesta mesma excursão, Marinho Chagas teve seus maiores dias como superstar. Em uma festa em um palácio em Nice, na costa mediterrânea da França, o lateral contava – era confirmado pelos presentes – que dançou sensualmente com Grace Kelly, a estrela hollywoodiana dos filmes de Alfred Hithcock e que já era a princesa de Mônaco desde 1956.
A passagem pelo Fluminense foi trampolim para outra aventura internacional de Marinho. Contratado pelo Cosmos de Nova York, o potiguar atuou ao lado do maior craque alemão, Franz Beckenbauer. Transferido para uma equipe menor do futebol dos Estados Unidos (Strikers), voltaria em 1981 para o Brasil, onde defenderia e conquistaria o título paulista pelo São Paulo, encerrando um jejum de conquistas, já que saiu do Rio de Janeiro ser ter vencido nenhum título.
Marinho Chagas passaria ainda por Bangu, Fortaleza e América-RN antes de voltar mais uma experiência nos EUA e o encerramento da carreira na Alemanha, pelo Augsburg, em 1988.
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