By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: Cidade News Itaú – Imagem: Divulgação
Usuária
de maconha e crack há mais de quatro anos, a menina foge de casa e age
com violência sempre que está livre. Acorrentada, Vanessa é mantida sob a
vigilância da mãe, avô e irmãos. A história dramática é mais um exemplo
do potencial de devastação das drogas e revela o lado da sociedade onde
as políticas públicas de combate ao uso de entorpecentes não chegam.
“Minha
filha começou a se drogar quando tinha 12 anos. No início era só
maconha e não tinha tanto problema, mas, de uns tempos para cá, percebi
que ela começou a usar outras drogas e ficou mais agitada e agressiva.
Não era assim no início, mas ela passou a me xingar, brigar e quebrar as
coisas. Eu não sabia mais o que fazer. O jeito foi acorrentar”, conta a
dona de casa que prefere não expor a identidade.
A mãe
perdeu as contas da quantidade de vezes que a filha fugiu de casa para
se drogar. A família mora num dos bairros de maior vulnerabilidade
social da zona Oeste da capital. Encontrar quem ofereça uma pedra de
crack não é difícil. Trancar portas e janelas para evitar a fuga já não
adiantava.
Ela
destelhava o teto e saía por cima. Pulava para casa vizinha e ia embora.
Só voltava se a gente fosse atrás”, lembra a dona de casa e mãe de mais
dois filhos – um jovem de 15 anos e uma menina de 12. “Quando tentava
conversar, ela me esculhambava. Fazia coisa que eu nunca imaginava que
seria possível”, completa.
A
adolescente fala pouco. Quando a reportagem chegou à residência, na
última quarta-feira, a menina fumava um cigarro de palha enquanto
assistia um programa policial na TV. Esboçou um sorriso que, por um
instante, trouxe leveza ao rosto marcado pelas consequências físicas de
tantos anos consumindo drogas. Pés descalços, vestia uma blusa vermelha e
short jeans curto. Nas unhas dos pés, esmalte vermelho. Um piercing no
nariz, anéis, pulseira e brincos enfeitam a menina.
Não há
marcas ou feridas no calcanhar onde a grossa corrente está pendurada.
Dois cadeados seguram a prisioneira à cadeira. Ela se movimenta pouco.
Caminhar arrastando o assento é difícil. Levanta para verificar a panela
que está no fogão e volta a se sentar. Onde vai, carrega o peso. Os
momentos de liberdade são restritos a ida ao banheiro. À noite, a
corrente e cadeados acompanham a menina no leito onde dorme.
As
respostas são curtas e vazias. Às vezes, sem nexo. “Não sei o porquê
estou aqui. Queria que alguém respondesse”, diz quando questionada sobre
sua situação. “Se eu saísse, ia na casa de uma amiga pegar uma calça
que está lá”, é a resposta sobre o que gostaria de fazer. “Levar
injeção, é? Queria sim”, dispara ao comentar a possibilidade de se
submeter a tratamento médico. Outras perguntas foram feitas, mas o
silêncio e um olhar vazio encerraram a conversa.
O
irmão de 15 anos conta o drama de ter uma irmã viciada. “Quando ela
saía, eu que ia atrás. Sempre era uma briga. Ela me batia, rasgava minha
roupa. Não gosto de ver ela presa, mas é melhor do que se estivesse na
rua”, pondera.
Uma
equipe do Programa Saúde da Família (PSF), durante visita ao avô da
garota, foi quem questionou a mãe sobre a condição da filha. Os
profissionais contam que procuraram vagas na rede de assistência
municipal, mas não encontraram. O Conselho Tutelar da área não foi
avisado. “Não procurei ninguém. Não sei a quem recorrer, mas quero que
ajudem minha filha”, explicou a mãe.
O juiz
da 1ª Vara da Infância e Juventude de Natal, José Dantas, explica que,
em casos como o de Vanessa e outros que envolvem direitos de crianças e
adolescentes, a primeira providência é procurar o Conselho Tutelar. “É o
órgão de porta de entrada. Os conselheiros vão orientar como proceder”,
diz. O magistrado explica ainda que, mesmo com motivos justificáveis, a
mãe comete crimes ao acorrentar a garota. “Pelo menos os maus tratos
já estão caracterizados. Mas, na minha visão, essa mãe precisa mais de
apoio que punição”.
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