By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta terça-feira (2), por 3 votos a 2, arquivar a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e outros políticos do partido. Em junho de 2019, a Segunda Turma chegou a aceitar a denúncia, mas os advogados dos acusados recorreram da decisão. Agora, os ministros aceitaram os argumentos das defesas.
Em nota, os advogados de Arthur Lira, Pierpaolo Bottini e Marcio Palma, disseram que a decisão mostra ser preciso "cuidado" com delações premiadas.
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Também em nota, o advogado Marcelo Leal de Lima Oliveira, que representa Eduardo da Fonte,
afirmou que "as decisões colocam um fim na tentativa de indevida
criminalização da atividade política e fortalecem a própria democracia".
A defesa de Aguinaldo Ribeiro
afirmou que o parlamentar "considera que a decisão da maioria dos
ministros é um exemplo de que não se deve condenar por antecipação,
principalmente quando a acusação parte de um condenado que pretende
reduzir sua própria pena".
A defesa de Ciro Nogueira
afirmou que o senador "sempre acreditou na lucidez do Supremo e reitera
que nunca houve elemento que sustentasse qualquer acusação contra ele,
somente a palavra de um criminoso confesso em busca de uma redução de
pena".
Na ocasião em que a denúncia foi aceita, a Turma era integrada pelos
ministros Edson Fachin, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski
e Celso de Mello, que se aposentou no ano passado.
Em maio de 2020, o colegiado começou o julgamento dos recursos com o
voto do ministro Edson Fachin, que rejeitou os pedidos. A análise,
contudo, foi interrompida por um pedido de vista do ministro Gilmar
Mendes.
Na sessão desta terça, o julgamento foi retomado. Votaram:
- Contra a denúncia: Gilmar Mendes, Lewandowski e Nunes Marques;
- A favor da denúncia: Fachin e Cármen Lúcia.
Sessão desta terça
Durante a sessão, Gilmar Mendes começou o voto afirmando que a acusação
da PGR, de que políticos do Progressistas atuaram como organização
criminosa, foi montada com elementos de outros inquéritos já arquivados
ou rejeitos pelo próprio STF.
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Gilmar Mendes também criticou o trabalho dos procuradores e disse que a
denúncia foi "artificial" e não reuniu indícios de que, de fato, houve a
atuação de uma organização criminosa. Para o ministro, a denúncia foi
baseada somente em delação premiada, o que a lei proíbe, e houve
tentativa de criminalizar a política.
"No caso em questão, salta aos olhos a engenhosa artificialidade da
acusação, já que não há nenhuma razão que sustente a persistência da
organização até a data do protocolo da denúncia. Ou seja, a PGR não
explica nem justifica de que modo o protocolo da denúncia ou seu
oferecimento teria ocasionado no desmantelamento da organização
criminosa ou feita a cessação da permanência do crime”, disse.
Edson Fachin, então, apresentou um complemento do próprio voto. Afirmou
que entendimentos da própria Segunda Turma do STF reconheceram indícios
de crimes investigados na Lava Jato e rechaçou a tese de criminalização
da política.
Segundo o ministro, não é regular a indicação a um cargo ou a
sustentação política quando isso ocorre de forma desviada, transformando
a função pública em "mercadoria". Fachin disse que não houve vício
processual no julgamento que justificasse acolher os recursos das
defesas.
"Tais fatos processuais não retiram a credibilidade da imputação penal,
pois coexistem aspectos relevantes para dar sustento à deflagração da
ação penal. São três: há elementos diversos a corroborar a integração
dos denunciados à organização criminosa. O delito em apreço sequer
demanda a efetiva prática de delitos. Há ações concretas praticadas no
interesse da organização e que são objetos de feitos criminais, em um
dos quais com sentença condenatória já prolatada", disse.
O ministro Nunes Marques concordou com Gilmar Mendes e votou pela
rejeição da denúncia. Segundo Nunes Marques, a PGR utilizou elementos já
rejeitados em outros inquéritos e se baseou em elementos de delações.
Entendeu, ainda, que não houve individualização da acusação.
"Praticamente todos os inquéritos foram arquivados. O acórdão não
considerou que investigações foram arquivadas, rejeitadas. Por esse
motivo, rejeito a preliminar, para que tais elementos sejam incluídos ou
aclarados, com a rejeição da denúncia", disse.
A ministra Cármen Lúcia votou a favor de manter o recebimento da
denúncia. Segunda a ministra, a defesa buscou rediscutir questões já
rejeitadas. Cármen Lúcia disse também que não houve irregularidade ou
vício na decisão que recebeu a acusação e descartou a criminalização da
política no caso. A ministra ressaltou que a corrupção tira a
credibilidade das instituições.
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O ministro Ricardo Lewandowski foi o último a votar. Entendeu que a
denúncia deveria ser rejeitada porque não há elementos que permitam
receber a acusação, que teria se baseado em afirmação de delatores.
Lewandowski afirmou que o STF tem compromisso com o combate à corrupção.
Recurso de Arthur Lira
No recurso, a defesa de Lira argumentou que a Segunda Turma, quando
aceitou a denúncia, não levou em conta a discussão sobre a falta de
acesso dos advogados a registros de acesso ao escritório do doleiro
Alberto Youssef e a declarações de colaboradores que constam na denúncia
da PGR.
Os advogados alegaram também que as informações foram citadas pela
acusação, mas os documentos não foram juntados ao processo, o que
violaria o direito ao contraditório e à ampla defesa.
Posteriormente, após a entrada em vigor do pacote anticrime, os
advogados voltaram a acionar a Corte e argumentaram que a mudança
trazida pela nova legislação à Lei de Organizações Criminosas impede o
recebimento de denúncia com base exclusivamente em declarações de
colaboradores.
Recursos de outros investigados
A defesa de Eduardo da Fonte
afirmou ao STF que o tribunal deveria rejeitar a denúncia por ausência
de justa causa, já que Ministério Público não teria conseguido
comprovar, na acusação, que o parlamentar continuou a praticar o crime.
Os advogados de Ciro Nogueira
alegaram que a decisão que recebeu a denúncia não levou em conta o
material apresentado pela defesa para rebater a acusação e que a
denúncia da PGR teve como base informações de delações premiadas.
Os advogados de Aguinaldo Ribeiro afirmam
que a denúncia não apresentou elementos mínimos que comprovassem a
participação do parlamentar em crimes. Além disso, afirmou que não houve
menção à participação de Ribeiro em organização criminosa após 2013,
quando entrou em vigor a lei que tipifica o crime.
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