By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: DIARIO CATARINENSE – Imagem: Diorgenes Pandini
Não perdi uma perna, eu ganhei uma vida. Na verdade, foi um presente — resume Rodrigo Klein, 43 anos, sobre o acidente que mudou sua trajetória 10 anos atrás. Ele pilotava uma moto quando, em uma ultrapassagem, se distraiu, perdeu o controle e se acidentou. Não perdeu a consciência e, mesmo com sua perna estraçalhada, conseguiu segurar a veia safena, que foi o que salvou a sua vida.
O sonho de um atleta hoje é parte do novo Rodrigo. Conhecido por onde passa, o manezinho nascido na Carmela Dutra e renascido na SC-407, responde com um sorriso e o bom humor aos cumprimentos das pessoas que o veem diariamente nesse mesmo trajeto. Seu sorriso reafirma a frase escrita repetidamente em sua mochila preta e branca: “espalhe humor”.
— Achava que ia morrer. Teve uma hora que cheguei a desistir, levantei a mão pedindo ajuda e todo mundo se afastou. Apareceu uma senhora e com muita calma segurou na minha mão — relembra.
— Eu vou morrer, dona!
— Vai nada, rapaz! Com esse olhão “azuli” aí, vai nada — consolou.
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— Se tu diz! — respondeu, sem nem perceber o diálogo extremamente mané que aconteceu à beira da morte.
— Até hoje não sei quem era, mas as palavras dela, ditas na hora certa, me deram forças para acreditar que poderia sobreviver — conta.
O recomeço como ciclista
Uma semana de internação, dois litros e meios de sangue transplantados e muita oração depois, Rodrigo Klein renasceu. Foi um ano de adaptação sem a perna esquerda. Teve de reaprender a andar, tudo como uma criança, usando muletas.
— Era eu e a Kelly Key (muleta). Sabe o porquê desse nome? Ora, nêgo, não é a Kelly Key que tá sempre bem acompanhada? — brinca.
Aliás, o bom humor é constante em sua personalidade. Frases prontas como “agora levanto só com o pé direito” ou “depois do acidente fiquei corajoso, nunca mais corri de ninguém”, se tornaram uma arma para quebrar o gelo em qualquer conversa. O sorriso sincero e frouxo sobrepõe sua condição física. Hoje, aos 43 anos, é um ciclista amador. “É só uma perna, mas vale por duas”.
A mesma estrada que quase foi o cenário do fim de sua vida é o local onde ele mais pedala: a SC-407. Entre morros, curvas, retas e obras (do contorno viário), ele vai todos os dias de sua casa, onde cuida de sete cachorros, na Colônia Santana, em São José, até a da mãe, em Forquilhinhas. Mas gosta também de pedalar até a Pinheira, até a Ilha, por “tudo quanto é canto”. São pelo menos 50 quilômetros diários.
— Uma vez peguei a bicicleta de um amigo emprestada. Coloquei o pedal entre a sandália e meu pé. Ali foi o primeiro passo.
Resolveu comprar uma bicicleta e adaptou uma sandália com fita. Foi roubado duas vezes, até que decidiu tirar o pedal do lado esquerdo.
— Agora ninguém mais pega e a gente é igual. Do lado esquerdo somos lisos.
Quando pegou gosto pelo esporte, guardou o dinheiro que ganhava como cobrador de ônibus e comprou uma mountain bike, realizando um sonho.
Antes do acidente, porém, ele era montador de móveis, emprego que teve de largar. Porém, recusou a aposentadoria por invalidez:
— Eu não sou inválido. Só esse nome já mata a pessoa. Prefiro buscar por tempo de serviço — orgulha-se.
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Rodrigo terminou o ensino médio, parou na sexta-feira, quando começou a trabalhar. Hoje está desempregado, procurando emprego, mas o que queria mesmo era viver do esporte, de pedalar.
— Já fui até o morro da Pedra Branca sozinho. Eu e Deus. Cheguei lá e tinham dois caras escalando. Disseram que eu era louco de ir até lá sozinho, mas loucos eram eles, escalando a pedra pela frente só com uma corda.
Infelizmente as inscrições e competições ainda não fazem parte de sua vida por conta do valor cobrado, mas ele quer chegar lá.
— Nunca participei, mas tenho vontade, sim.
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