By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem:
- A câmara de decisão concordou com as recomendações da câmara de
investigação e considerou o senhor Del Nero culpado de violar os artigos
21 (suborno e corrupção), 20 (oferecer ou aceitar presentes ou outros
benefícios), 19 (conflitos de interesse), 15 (lealdade) e 13 (regras
gerais de conduta) do Código de Ética da Fifa - diz a nota oficial
divulgada pela entidade.
O banimento é exatamente a mesma punição recebida pelo antecessor de
Del Nero, José Maria Marín. Além de estar impedido de desenvolver
qualquer função ligada ao futebol, Marco Polo terá que pagar uma multa
de 1 milhão de francos suíços (R$ 3,5 milhões).
A defesa de Del Nero informou que vai recorrer da decisão anunciada
hoje pela Fifa. O primeiro recurso será apresentado ao Comitê de
Apelação da Fifa. Caso este recurso seja negado, o passo seguinte será
recorrer ao Tribunal Arbitral do Esporte, em Lausanne, na Suíça - que é a
última instância em casos de justiça desportiva.
Em nota oficial, o escritório de advogados que defende Del Nero apontou
"surpresa e indignação" pela decisão do Comitê de Ética, alegando que
não houve "produção de prova referente ao suposto envolvimento em
esquemas de corrupção" por parte de Marco Polo e citando "incontáveis
violações processuais cometidas pelo Comitê de ética".
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- Por isso, o Sr. Marco Polo Del Nero recorrerá da decisão e tem a
convicção de que a punição de primeira instância será reformada mediante
análise por tribunal independente e não sujetio a interferências
externas - diz o comunicado.
O banimento de Del Nero ocorre pouco mais de uma semana depois de Rogério Caboclo ter sido eleito o próximo presidente da CBF
- tendo sido candidato único e contando com o apoio de Marco Polo. Até
Caboclo assumir, em abril de 2019, a entidade continuará sendo regida
pelo Coronel Nunes.
- A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informa que tomou
conhecimento, hoje (27), da decisão do Comitê de Ética da Fifa em
relação ao presidente Marco Polo Del Nero. A entidade esclarece que, em
cumprimento à citada decisão e em linha com seu Estatuto, o
vice-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima segue à frente da
Presidência - disse a CBF em nota divulgada em seu site.
Da presidência da CBF ao banimento
Eleito presidente da CBF em 2014, sucedendo José Maria Marín, Marco
Polo del Nero tornou-se alvo de investigações do FBI em 2015, suspeito
de envolvimento em esquemas de corrupção - e desde então não deixou mais
o Brasil, onde não é acusado de nenhum crime. Naquele ano, foi
indiciado pelo departamento de Justiça dos EUA por sete crimes (três de
fraude, três de lavagem de dinheiro e um por integrar uma organização
criminosa). Logo depois, o Comitê de Ética da Fifa abriu uma
investigação interna, que demorou a avançar.
Entretanto, a partir do julgamento de Marín em um tribunal de Nova York, em dezembro do ano passado, o caso andou.
Del Nero foi citado em diversos depoimentos, planilhas, gravações e
outros documentos - que foram tornados públicas pela investigação
norte-americana. Os promotores do "Caso Fifa" afirmaram que Del Nero recebeu US$ 6,5 milhões em subornos
para beneficiar empresas de marketing esportivo em contratos
relacionados a Copa América, Taça Libertadores e Copa do Brasil. E a
Fifa reabriu a investigação sobre o ex-presidente da CBF.
No fim do ano passado, a entidade máxima do futebol mundial decidiu suspender Del Nero por 90 dias,
fazendo com que o vice-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima, Coronel
Nunes, assumisse a presidência da CBF interinamente. Esta suspensão foi
estendida, como esperado, por 45 dias - em um prazo que expirou
justamente nesta sexta.
Os documentos que embasaram o banimento
O que levou a Fifa a inicialmente suspender Del Nero e agora bani-lo de forma definitiva foi uma série de documentos produzidos
pela investigação americana - além de depoimentos de J. Hawilla,
Alejandro Burzaco e Eladio Rodrigues. O primeiro é dono da Traffic,
empresa de marketing esportivo que subornava dirigentes para obter
contratos . Os outros dois eram diretores da Torneos, agência argentina
que operava da mesma forma.
Burzaco era o CEO da Torneos. Ele contou que, em 2012, quando Ricardo
Teixeira deixou a presidência da CBF, José Maria Marin e Marco Polo Del
Nero "herdaram" um pagamento de propina anual de US$ 600 mil. Em troca
desse valor, deveriam facilitar a vida da Torneos e sempre renovar os
contratos relacionados à Copa Libertadores.
Em 2013 esse valor subiu para US$ 900 mil anuais, segundo o depoimento
de Eladio Rodriguez, funcionário da Torneos responsável por fazer os
pagamentos e registrá-los em planilhas.
Burzaco depôs que, em novembro de 2014, Del Nero pediu um aumento no
valor anual da propina: de US$ 900 mil para US$ 1,2 milhão. Na época,
ele ainda era vice-presidente da CBF. Já havia sido eleito presidente,
mas só assumiria o cargo em abril de 2015, em substituição a Marin. Por
isso, teria pedido a Burzaco que só pagasse o valor de US$ 1,2 milhão
depois de junho. Assim, não precisaria dividir o dinheiro com seu
antecessor.
Em 2013, a Torneos se juntou com a Traffic e a Full Play para formar a
Datisa, empresa que compraria todos os direitos da Copa América (2015,
2019 e 2023), sempre operando da mesma forma: pagando propina aos
dirigentes da Conmebol. Segundo Burzaco, os dirigentes da CBF receberiam
US$ 3 milhões pela assinatura do contrato com a Datisa e mais US$ 3
milhões a cada edição do torneio que fosse disputada.
O documento acima é uma planilha apreendida com Eladio Rodriguez,
funcionário da Torneos, e mostra o registro do pagamento de US$ 3,9
milhões a "Brasilero" em 2013 – US$ 900 mil pela Libertadores e US$ 3
milhões pela Copa América. Segundo o depoimento de Rodriguez, Marin e
Del Nero dividiram esse valor. Uma outra planilha da Torneos, referente
ao ano 2014, mostra mais um pagamento de US$ 900 mil relacionada à Copa
Libertadores.
Outros dois documentos apreendidos chamaram a atenção do Comitê de Ética
da Fifa. Um deles é um e-mail que Eladio Rodriguez enviou a si próprio
no dia 6 de junho de 2013 com uma lista de tarefas a cumprir. Uma delas
diz: "Telefonar a Marco Polo sobre transferência". Sua planilha de
pagamentos registra uma saída de US$ 900 mil no dia 7 de junho de 2013.
O outro é uma lista de pagamentos pendentes com a inscrição: "Pagar a
Brasilero MP" e o valor de US$ 2 milhões. Essa pendência seria parte de
uma cota de US$ 3 milhões referente à Copa América de 2015. De acordo
com o delator Alejandro Burzaco, US$ 1 milhão já teria sido pago
antecipadamente a Ricardo Teixeira, antes de ele deixar a presidência da
CBF. E os US$ 2 milhões restantes deveriam ser divididos entre Marin e
Del Nero.
Essa pendência de US$ 2 milhões também estava registrada em documentos
apreendidos na agência de marketing esportivo Klefer, do empresário
Kleber Leite, com sede no Rio de Janeiro. Leite foi gravado – sem saber –
em conversas por telefone com J. Hawilla, dono da Traffic. Numa dessas
ligações, gravada em 24 de março de 2014, Leite cita anotações que
estariam guardadas no cofre de sua empresa.
Essas anotações foram apreendidas em 27 maio de 2015, quando
autoridades brasileiras cumpriram um pedido de cooperação com os EUA.
Uma delas detalhava o pagamento já realizado de US$ 3 milhões para MPM
(supostamente a sigla de "Marco Polo" e "Marin") e mais US$ 1 milhão
para "Miami", que seria um apelido para Ricardo Teixeira. A pendência de
US$ 2 milhões está registrada, assim como os pagamentos futuros de US$ 6
milhões (US$ 3 milhões a cada edição da Copa América por ser disputada,
ou seja, 2019 e 2023).
Hawilla foi preso pelo FBI em 2013 – e desde então virou um colaborador
da Justiça dos EUA. Segundo ele próprio depôs, entre suas missões
estavam "gravar o maior número possível de pessoas" e extrair delas "o
maior número de informações sobre o caso". Em 2014, Hawilla grampeou
José Maria Marin, por exemplo, e também o empresário Kleber Leite, com
quem dividia os direitos comerciais na Copa do Brasil.
Nas conversas com Leite, Hawilla tentou várias vezes fazê-lo falar
sobre os subornos pagos a Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero e José
Marin. No diálogo, os dois divergem sobre os valores. Hawilla insiste
tanto que Leite finalmente explica que paga R$ 1 milhão por ano a
Ricardo Teixeira e mais R$ 1 milhão por ano para serem divididos entre
Marin e Del Nero.
Uma dessas conversas se deu no dia 28 de março de 2014, uma
sexta-feira, e terminou com uma promessa de Kleber Leite: na
segunda-feira seguinte ele entraria em contato para sanar qualquer
dúvida e confirmar os valores. De fato, no dia 31 de março de 2014, uma
sexta-feira, Kleber Leite enviou o seguinte SMS para o celular de J.
Hawilla:
– Jotinha, tentei falar com você. O telefone só chama. Estou com o
Serginho. Sobre o tema que falamos ao telefone: O passado era 1.5.
Agora, juntando passado e futuro, somados, 2.0. Inclusive, pagos. Beijo,
Kleber.
"Serginho" citado na mensagem é Sergio Costa, funcionário da Klefer.
Por "passado", entenda-se Ricardo Teixeira, que inicialmente embolsaria
sozinho R$ 1,5 milhão anuais da empresa. A expressão "futuro" refere-se a
José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, que em 2012 haviam herdado os
cargos até então ocupados por Teixeira. A Klefer nega ter participado do
pagamento de propina a dirigentes.
– O que está transcrito, supostamente a mim imputado, nenhum nome ou
fato são mencionados. O que está escrito nada tem a ver com o que o
delator [J. Hawilla] tenta induzir. Da mesma forma, o áudio apresentado
nada mais é do que uma deslavada montagem. Desafio J. Hawilla a passar
por um teste de sanidade mental – declarou Kléber Leite.
Ricardo Teixeira, presidente da CBF entre 1989 e 2012, também negou
todas as acusações. José Maria Marin, sucessor de Teixeira e antecessor
de Del Nero, também afirma ser inocente. Ele é um dos três réus que
estão sob julgamento no Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova York. Os
outros são Juan Angel Napout, ex-presidente da Conmebol, e Manuel Burga,
ex-presidente da Federação Peruana de Futebol.
J. Hawilla, Alejandro Burzaco e Eladio Rodríguez são delatores do "Caso
Fifa". Eles fizeram acordos com a justiça dos EUA e, em troca de penas
menores, toparam colaborar com as investigações. Pelos acordos que
assinaram, estão obrigados a falar a verdade em seus depoimentos: se
mentirem, perdem os eventuais benefícios e podem ser processados por
outro crime, além dos que confessaram – o de mentir no Tribunal.
Na época, Marco Polo del Nero se defendeu através de nota oficial,
alegando que não estava sendo julgado pela Justiça Americana e que era
natural que seu nome estivesse citado como representante da CBF, uma vez
que foi sucessor de Marín. Afirmando que assumiu a presidência apenas
em 2015, Del Nero disse "não ter a ver" com contratos celebrados antes
disso e apontou que não a Justiça dos EUA não exibiu "dado concreto e
documental do recebimento de vantagens ilícitas" por sua parte.
- Em suma, como nada de irregular pratiquei e, por isso mesmo, não
posso aceitar o enxovalhamento de minha honorabilidade, manifesto aqui o
meu enfático repúdio à essas leviandades acusatórias e renovo o
desafio: antes de acusarem a quem nada deve, apresentem provas e
documentos que indiquem as contas bancárias, as remessas, o meu
envolvimento – direto ou indireto – com empresas investigadas, o
recebimento ou o “caminho do dinheiro” já que modernamente nenhum
centavo é movimentado sem que fiquem visíveis rastros... ou, então, que
não se insinuem maldades contra quem nada de ilícito praticou - disse
Del Nero, no comunicado.
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