By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: HORA DE SANTA CATARINA – Imagem: Cristiano Estrela (Diário Catarinense)
Francisco Alexandre Batalha, 12 anos, anda de skate, joga bola, já fez judô e adora ver vídeos na internet, coisas que muitos garotos da idade dele gostam de fazer. Se não fosse um aparelhinho visível atrás da orelha, ninguém diria que ele tem os dois ouvidos biônicos. É isso mesmo, Alexandre, como é chamado pela família, nasceu com surdez profunda e escuta por meio de uma tecnologia implantada quando ele tinha dois anos.
A mãe, a administradora Deborah Batalha, 37 anos, conta que a surdez de Alexandre foi diagnosticada pouco antes de ele completar dois anos, mas a primeira suspeita veio com 15 dias de vida, após o teste da orelhinha feito na maternidade em Manaus, no estado do Amazonas, onde a família morava.
— Eu não acreditava que meu filho poderia ser deficiente auditivo — diz Deborah.
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Alexandre
chegou a usar uma prótese de amplificação sonora. Mas como a surdez era
profunda, o aparelho não apresentou resultados. O garoto precisava
fazer um implante coclear, mais conhecido como ouvido biônico. O
implante é custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas ele conseguiu
após um longo período na fila de espera. No Hospital Universitário de
Florianópolis, único que faz o implante pelo SUS em Santa Catarina, a
lista de espera tem em torno de 70 pessoas, sendo que o tempo médio de
espera é de três anos.O que os pais não esperavam era que um congresso realizado pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em parceria com uma empresa internacional faria uma cirurgia gratuita a um dos pacientes da fila do SUS. Alexandre fez o implante no ouvido direito em 5 de setembro de 2008. Um mês depois, ele começou a ouvir.
– Foi um momento emocionante. Ele teve uma reação tranquila, ficava olhando para os lados, dava um sorrisinho de leve. Na rua, ficava olhando quando os carros faziam barulho. Foi muito lindo – relembra a mãe.
Com cinco anos, ouvindo de apenas um lado, Alexandre já sabia ler e escrever. Aprendeu em casa, devido à dedicação dos pais. Em 2013, Deborah e o marido, Francisco Batalha, 49, entraram na Justiça para que o filho conseguisse fazer o implante no ouvido esquerdo por meio do SUS. Eles conseguiram. Hoje, o garoto escuta normalmente.
– Com o implante posso escutar filmes, sons da natureza, sons que eu gosto. Se não fosse o implante, não escutaria nenhum som e teria muitas dificuldades nas aulas e no futuro, no trabalho – diz Alexandre, que sonha em ser médico para ajudar outras pessoas com deficiência auditiva.
Prêmio de aniversário
Este ano, completam 10 anos que Alexandre começou a ouvir. O presente veio em forma de um prêmio internacional da empresa de implantes. O garoto ficou entre os sete de um total de 240 crianças inscritas em todo o mundo em um concurso de inventores. A família vai para a Áustria neste sábado onde Alexandre vai receber o certificado de inventor, além de conhecer um laboratório de implantes cocleares. Quem descobriu a competição foi o pai, Francisco Batalha, na internet:
– Mostramos a ideia para o Alexandre, pedimos para ele criar alguma coisa. Podia criar algo novo que melhorasse a vida dos deficientes auditivos ou aperfeiçoar algo já existente.
O pequeno inventor se voltou para as próprias dificuldades para criar algo que melhorasse a vida dele e de outras pessoas que têm ouvido biônico.
– A minha ideia foi desenvolver um aplicativo para controlar o implante pelo smartphone. O que mais me incomoda é o barulho de fora, porque quando estou assistindo a um vídeo tem o som de carros que atrapalham, eu queria que nesse aplicativo tivesse uma função que tirasse os sons de fora – conta Alexandre.
A mãe explica que o implante é uma tecnologia, não é uma audição natural, por isso, em um ambiente ruidoso o implante não consegue tirar esse ruído para que ele possa entender o que falam.
– Ele pensou em questões para controlar o implante e tirar os ruídos, para equalizar o som.
Para a família, que se dedica totalmente ao garoto, vê-lo receber um prêmio internacional é motivo de orgulho e certeza que seguiram o caminho certo.
– Eu tenho um orgulho imenso dele. Mesmo com surdez profunda e usuário de uma tecnologia, ele superou tudo e é um filho maravilhoso. Isso estimula outras famílias a incentivarem seus filhos – orgulha-se Deborah.
— Eu nunca vi meu neto como surdo, ele não é diferente, ele veio para fazer a diferença. Que através do exemplo dele, outras crianças consigam ouvir. E agora ele vai representar o Estado num prêmio mundial, que isso sirva de exemplo para muitos pais — diz a avó coruja, Darlene Antunes, 55.
Hospital Universitário é referência na realização de implantes
Desde 2011 o Hospital Universitário de Florianópolis (HU) é credenciado pelo Ministério da Saúde (MS) para a realização de implantes cocleares. A fonoaudióloga do hospital Francine Freiberger informa que em sete anos já foram realizadas 154 cirurgias e 140 pacientes têm o ouvido biônico (algumas fizeram o implante nos dois ouvidos).
Segundo ela, o HU é o único hospital do Estado a realizar a cirurgia pelo SUS. Por isso, a procura é grande. Atualmente, existem cerca de 70 pessoas na fila, sendo que o tempo médio de espera é de três anos.
A boa notícia é que a partir deste mês o hospital passa a realizar quatro cirurgias mensais – antes eram apenas duas – além dos pacientes poderem realizar o implante nos dois ouvidos ao mesmo tempo.
– Com este aumento no número de cirurgias, esperamos que o tempo de espera na fila seja reduzido pela metade – projeta.
Isso foi possível após o recredenciamento da unidade pelo MS e o aumento no repasse de verba pelo governo do Estado. Outra mudança é com relação a manutenção e reposição de peças do aparelho, que até então eram de responsabilidade do paciente.
– Mas, na maioria das vezes, as famílias não têm condições de arcar com estes custos, pois são muito caros. Com isso, há muitos implantados que ficam sem ouvir porque não têm dinheiro para consertar o equipamento. Agora, o hospital vai poder fazer a manutenção para os pacientes.
Qualquer pessoa acima dos seis meses de vida pode fazer o implante coclear. A cirurgia é indicada para quem tem surdez severa ou profunda. Para conseguir a cirurgia pelo SUS, o paciente precisa ser surdo dos dois ouvidos e já ter testado, sem sucesso, uma prótese.
Em Santa Catarina, há apenas cinco centros ambulatoriais responsáveis pelo diagnóstico e reabilitação dos pacientes implantados: o Instituto Otovida, em Florianópolis, a Universidade do Vale do Itajaí, em Itajaí, a Associação Assistencial dos Deficientes Auditivos Visuais (AADAV), em Jaraguá do Sul, Hospital Centrinho, em Joinville, e a clínica Otiouve, em Chapecó.
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