By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: UOL – Imagem: Divulgação
A
Câmara dos Deputados está discutindo a Proposta de Emenda Constitucional (PEC)
181/2015 que pode estender o tempo de licença-maternidade para mães de bebês
prematuros. De acordo com a proposta, o tempo de internação do bebê até a alta
hospitalar deve ser acrescido à licença de 120 dias da mãe. A PEC limita, no
entanto, o tempo total do benefício a 240 dias.
Atualmente,
as mães de bebês que nascem prematuros têm licença-maternidade de 120 dias, ou
de quatro meses, contados a partir do momento do nascimento. Como muitos
prematuros ficam meses internados em unidades de Terapia Intensiva (UTIs), as
mães acabam passando pouco ou nenhum tempo com as crianças em casa, depois de
sair do hospital.
"Do
jeito que a legislação está hoje, a mãe tem os 120 dias de praxe. Então, se o
bebê nasce com 400, 500 gramas, idade gestacional de 22 ou 23 semanas, que é a
metade da gestação, a licença já começa a ser contada. Mas alguns bebês passam
cinco, seis meses internados. Então, quando termina a licença, as mães que
optam por cuidar do filho acabam saindo do mercado de trabalho.
"É
isso que acontece na maioria dos casos com estadias prolongadas na UTI, segundo
Denise Suguitani, nutricionista e fundadora da Associação Brasileira da Pais,
Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros, conhecida como
Prematuridade.
A
organização é responsável por acolher e orientar famílias com bebês prematuros,
além de desenvolver projetos de prevenção ao parto prematuro e capacitação de
profissionais que atuam em UTIs de recém-nascidos. A ONG espera que a PEC seja
aprovada, como política de fortalecimento do vínculo físico e emocional da mãe
com o filho e prevenção de futuros problemas de saúde para a criança.
"Enquanto
o bebê está no hospital, as mães não se sentem empoderadas daquele filho, que
[durante a internação] pertence à equipe de enfermagem. A mãe não tem o cuidado
24 horas, e quando o bebê vai para casa é o momento para amamentar, fazer
vínculo e cuidar realmente do filho. O bebê inspira cuidados, e a recomendação
médica é que fique muito protegido de visitas, de sair a público, porque está
sujeito a infecções, com imunidade vulnerável", explicou.
Para
a nutricionista, a limitação da licença em 240 dias pode impedir que os bebês
que nascem "superprematuros" ou que têm muitas intercorrências
durante a estadia na UTI sejam beneficiados pela nova lei. Os familiares
esperam que a PEC seja aprovada o quanto antes.
"A
PEC é um grande passo para que famílias de bebês prematuros, e dos que ainda
estão por vir, sejam beneficiadas com a extensão da licença. Para nós, o ideal
seria que a licença se estendesse de acordo com o tempo em que o bebê ficou na
UTI. Essa lei estabelece o limite de 240 dias, mas já consideramos isso um
grande avanço. Muitos casos de bebês prematuros realmente ficam dentro desse
período", disse Denise.
Problema de saúde pública
Segundo
o Ministério da Saúde, a cada ano nascem cerca de 340 mil crianças prematuras,
ou seja, com menos de 37 semanas de gestação. O número representa 12,4% do
total de nascidos vivos no país.
Segundo
a fundadora da associação, qualquer gestante está sujeita a um parto prematuro,
que pode ter causas relacionadas a complicações do útero ou intercorrências na
saúde da mãe, como pressão alta, diabetes, entre outros fatores de risco.
Muitos casos, contudo, não tem uma causa explicável.
Os
bebês prematuros geralmente nascem com baixo peso, dificuldades respiratórias,
com a pele fina e musculatura frágil, entre outras características. A sobrevida
do bebê depende do tipo de problema enfrentado, que pode ainda resultar em
sequelas.
A
especialista alerta que o nascimento de bebês prematuros é um dos maiores
problemas de saúde pública do Brasil e do mundo. Em escala global, a cada 30
segundos um bebê morre em decorrência da prematuridade, segundo estudo apoiado
pela Organização Mundial de Saúde (OMS)."Estamos vendo nascer uma geração
de crianças que vão ter deficiências e danos incapacitantes, dado o grau de
prematuridade em que elas estão nascendo e sobrevivendo. No Brasil, o parto
prematuro e as consequências dele representam uma das principais causas de
mortalidade infantil antes de 5 anos de idade. De acordo com o último
levantamento global, o Brasil ocupa o 10º lugar no ranking de prematuridade e
tem muito pouco sendo feito para mudar esse cenário. Então, seria um grande
passo a gente conseguir passar essa extensão da licença."
Aborto
A
proposta de extensão da licença-maternidade já passou pelo Senado e, desde o
início deste ano, tem sido debatida em comissão especial na Câmara. Apesar de a
PEC ter sido aprovada com facilidade pelos senadores e já ter recebido muito
apoio entre os deputados, na Câmara pode ter dificuldades para seguir adiante.
No
projeto substitutivo, o relator Jorge Tadeu Mudalen (DEM -SP) deu parecer
favorável à extensão da licença-maternidade, mas acrescentou mudança polêmica a
um artigo constitucional. Pelo texto dele, os direitos constitucionais da
dignidade da pessoa humana, da inviolabilidade da vida e igualdade de todos
perante a lei devem ser considerados "desde a concepção".
O
deputado argumenta no parecer que, assegurar "a convivência do
recém-nascido com a família após o período de restabelecimento
médico-hospitalar, indica uma orientação calcada em nossa tradição cultural e
jurídica intimamente ligada à proteção da vida ainda no ventre materno".
A
expressão reforça a proibição ao aborto no país, assunto que tem sido debatido
em outras frentes do poder legislativo, e pelo Judiciário, no sentido da
descriminalização.
No
projeto, ele apresenta argumentos de juristas que seguem a "linha de
proteção à vida" e cita direitos do nascituro previstos no Código Civil e
o aborto como crimes contra a pessoa, descritos no Código Penal.
"Diante
do exposto, cabe-nos observar que se protegemos, de forma justíssima, aquele
que já vivia e prematuramente deixou a proteção materna, concedendo uma
ampliação da licença-maternidade à sua genitora, não podemos deixar de
explicitar, ainda mais, a sua proteção no âmbito uterino, desde o seu início,
isto é, desde a concepção", diz o deputado em seu voto.
Para
os defensores da extensão da licença-maternidade, o envolvimento da questão do
aborto na PEC pode atrasar ou até inviabilizar a aprovação da proposta.
"Consideramos que o tema, sendo colocado junto, neste momento, pode
atrasar a tramitação do nosso projeto", disse Denise Suguitani.
A
próxima reunião da comissão especial para análise e votação do parecer está
marcada para o dia 13 de setembro. Se o parecer for aprovado pela comissão,
será apreciado pelo plenário da Câmara, onde deve receber pelo menos 308 votos
favoráveis entre os 513 deputados para ser aprovada.
Para reforçar a tramitação do projeto, a ONG está
organizando junto com um grupo de deputados a formação da Frente Parlamentar em
Defesa da Causa da Prematuridade, que deve ser instalada ainda neste semestre
na Câmara.
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