By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
- Eu estava na lista, mas não quis ir. Me deu um pressentimento e não quis ir. As pessoas me ligando... Que era para ficar na história (acompanhando o time na final), mas eu não fui. E aconteceu tudo isso. É difícil. Quando recebi a notícia não acreditei, pensei que estava sonhando - disse Ivan em entrevista coletiva.
Entre as outras sete pessoas que deixaram de seguir viagem com a Chapecoense estão o prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, o presidente do Conselho Deliberativo do clube, Plínio David de Nes Filho, o presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), Gelson Merísio, o filho do técnico Caio Júnior, um radialista da Rádio Super Condá e mais dois profissionais da TV Globo, sendo um deles do GloboEsporte.com. Confira as histórias abaixo:
Matheus Saroli, um dos filhos do técnico Caio Júnior:
Matheus estaria no avião que caiu em Medellín, mas esqueceu seu passaporte e não conseguiu embarcar na primeira perna da viagem, de São Paulo para Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.
- Amigos, eu, meu irmão e minha mãe estamos bem. Precisamos de força e peço que nos deem um pouco de privacidade, especialmente à minha mãe. Agradeço a todos que estão ligando e mandando mensagens. Eu estava em São Paulo e não embarquei pois tinha esquecido meu passaporte. Somos fortes, vamos passar por isso. Obrigado a todos - escreveu em seu Facebook.
Luciano Buligon, prefeito de Chapecó (SC):
Também estava na lista como convidado e não embarcou. Estava em São Paulo para o início da viagem, mas teve um compromisso com os outros prefeitos eleitos na capital paulista e abriu mão da viagem. A prefeitura de Chapecó decretou luto oficial de 30 dias.
- Por essas coisas da vida, que só Deus explica, eu acabei ficando. Estava previsto eu estar junto, inclusive eu estou na lista desta aeronave, mas eu tive um compromisso com os prefeitos eleitos aqui em São Paulo e acabei ficando - afirmou Buligon em entrevista ao G1.
Plínio David de Nes Filho, presidente do Conselho Deliberativo da Chapecoense:
O presidente do conselho do clube foi outro que não embarcou mesmo estando na lista de passageiros. Também teve um compromisso em São Paulo, onde a equipe enfrentou o Palmeiras no último domingo pelo Campeonato Brasileiro.- Ontem (segunda) de manhã, eu me despedindo deles, eles diziam que iam em busca do sonho para tornar esse sonho uma realidade e nós, muito emocionados compartilhamos muito com eles desse sonho, e o sonho acabou nesta madrugada - disse, abalado, De Nes Filho ao G1.
Gelson Merisio (PSD), presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc):
Gelson foi o quarto passageiro que estava na lista e não embarcou por decisão própria. Em nota, ele informou que "apesar de programada a minha presença no voo acompanhando o time, optei por não fazê-lo por conta das atividades programadas no Legislativo esta semana".
O presidente ainda disse estar "bastante impactado e comovido" e desejou "toda a força para a família dos jogadores, da comissão técnica e dos jornalistas que acompanhavam a delegação".
Thiago Benevenutte, repórter do GloboEsporte.com no Rio:
Foi escalado para fazer a cobertura da final. Em um primeiro momento, não havia mais espaço no voo fretado (a vaga do GloboEsporte.com foi ocupada pelo setorista da Chapecoense, Laion Espíndula). O site então comprou passagens em voos de carreira. Quando surgiu um espaço no fretado, a passagem já tinha sido emitida. Acabou tendo problemas na documentação e não conseguiu entrar na Colômbia. Postou um relato no Facebook após o acidente.
Difícil demais falar ou escrever sobre este 28 de novembro - ou 29, mas a segunda-feira para mim ainda não acabou, e certamente o que vivi nas últimas horas vai me marcar para sempre. Por destino, sorte ou o que quer que seja, não viajei no mesmo avião que a delegação da Chapecoense por questão de detalhes.
Moro no Rio de Janeiro, mas passei o fim de semana de folga em São Paulo. De lá, seguiria para a Colômbia para trabalhar na final da Copa Sul-Americana. Tentaram me colocar no voo da equipe catarinense, mas já estava cheio. A vaga chegou a surgir depois, meus dados foram solicitados, mas minha passagem, em outro horário, já tinha sido comprada. O azar que virou sorte. Eu seguiria direto para a Colômbia e não faria o trajeto via Bolívia que vários colegas de imprensa fizeram.
Seria minha primeira cobertura internacional pelo GloboEsporte.com. Mas a empolgação, inevitável, virou frustração assim que pisei no aeroporto de Bogotá. Quando me dirigia ao embarque para Medellín, recusaram meu documento de identidade e barraram minha entrada no país. Era o começo de intermináveis horas de raiva, tristeza e dor de cabeça na capital colombiana. Eu teria que voltar ao Brasil.
Com amigos, durante e depois do perrengue, eu lamentava a decepção profissional e a situação constrangedora. Reclamava sobre as 12 horas de voo (seis em cada perna) e as nove horas de espera no aeroporto - a maioria delas na sala de imigração, sem qualquer informação. Mas, se eu achava que a grande lição do dia era preservar melhor meus documentos, o que aprendi é que devemos pensar mil vezes antes de reclamarmos das "derrotas" do cotidiano. Tudo é muito pequeno.
Acordei com muitas mensagens e ligações de pessoas preocupadas com a notícia. Fiquei em estado de choque quando liguei a televisão - afinal, se desde o princípio tudo tivesse dado "certo" eu estaria naquele local, e não num quarto de hotel. O 28 de novembro que já estava definido como o pior dia da minha vida transformou-se numa história, mesmo que ainda muito triste, de alívio para mim. A ficha ainda não caiu, mas foi minha vez de experimentar uma espécie de novo nascimento.
Doeu demais ler a lista de vítimas do acidente. Um time inteiro que estava em busca de sua maior glória. Diversos colegas de profissão. Destes, quatro que conheci no domingo na entrada da torcida visitante na Arena Palmeiras. Laion Espíndula, repórter do GloboEsporte.com que seria parceiro de cobertura em Medellín, e mais três profissionais da RBS. Conversamos por poucos minutos. Hoje, num sopro, não estão mais entre nós. Assim como Guilherme Marques, companheiro em algumas coberturas que fiz, e outros colegas da TV Globo e de outros veículos. É tudo muito inacreditável.
Deixo minha solidariedade aos familiares e amigos das vítimas desta tragédia. Tudo que passei, ou o que cada um de nós temos como "grandes problemas", se resumem a nada perto da dor que estão sentindo.
Jefferson Rodrigues, produtor da TV Globo:
Jefferson também estava escalado para a cobertura da final. Mas sua filha mais velha, Olivia, fez aniversário nesta terça, dia 29. A festa será na manhã do próximo sábado. Como não havia voo para voltar ao Rio a tempo da comemoração, Jefferson ficou fora da viagem. Ele também postou um relato no Facebook.
Com tantas mensagens recebidas de preocupação, resolvi escrever sobre um dos dias mais difíceis da minha vida.
Eu estaria no voo da Chapecoense que caiu hoje na Colômbia. Por não haver voo de volta na sexta-feira para o Rio, o que me faria perder a festa da minha filha no sábado de manhã, acabei não indo.
Perder amigos não é fácil. Em tragédias, e de forma inesperada e abrupta, deixa a despedida ainda mais difícil.
Quando essa tragédia leva muitos amigos fica mais complicado ainda! Já chorei muito pela partida dos amigos Guilherme Van der Laars, Guilherme Marques, Ari Júnior, Djalma Araujo, Paulo Julio Clement entre outros.
E quando você poderia ser um deles, te deixa com uma sensação péssima. O alívio de ganhar uma nova chance na vida se contrasta com o choro e a tristeza daqueles que partiram. Você não consegue entender o porquê das coisas.
Eu sabia que 29 de novembro seria um dia que mudaria minha vida para sempre, afinal é o dia do aniversário da minha primeira princesa, Olivia! E tinha certeza que minha ligação com ela seria algo muito especial, pois foi intenso desde o seu primeiro minuto!
Mas depois de hoje, esse dia vira meu segundo nascimento. O aniversário da minha filha, me tirou do voo da Chapecoense. Salvou minha vida.
Eu nunca esquecerei esse dia. Um dia em que os sentimentos estão à flor da pele, um dia que começou com uma ligação às 4h da manhã e está sendo de lágrimas desde então, e não tem hora para acabar.
Obrigado meus amigos, pelas mensagens de conforto pelas perdas irreparáveis que tive hoje. E também pelas mensagens de felicidade por eu estar aqui! Vocês estão me ajudando demais a enfrentar esse dia difícil!
Um beijo pra cada um de vocês!
Ivan Agnoletto, da rádio Super Condá:
Ivan foi uma das quatro pessoas que teve seu nome incluído na lista de passageiros, mas não estava no voo. O narrador da rádio Super Condá foi escalado para cobrir a primeira partida da decisão da Copa Sul-Americana, mas cedeu seu lugar em nome do sonho do amigo Gelson Galiotto, também narrador.
- Eu estava escalado para o jogo, mas meu colega tinha esse desejo de fazer uma final internacional. Quando falei para o Gelson Galiotto que ele ia, nem acreditou: "Sério? Eu vou mesmo?" Era o sonho dele - afirmou ao G1.
Ivan soube da queda do avião por volta da 1h30 da madrugada. Inicialmente, muitas pessoas pensaram que ele também estava no voo. Afinal, o nome constava na lista de passageiros.
- Falei para tirar meu nome e colocar o dele (Gelson), mas deixaram meu nome na lista. O Edson Picolé ia comigo e, no fim, foi com o Gelson. O pessoal começou a ligar para meu celular, minha mulher atendeu. Então começaram a desejar pêsames e oferecer apoio a minha esposa, como se eu estivesse morto. Fui aos canais e soube que o avião havia caído - disse o jornalista.
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