By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: GAZETA DO POVO – Imagem: Jonathan Campos (Gazeta do Povo)
A suinocultura da região Sul do Brasil, conhecida mundialmente por ser o berço da atividade no País, está perto de entrar em colapso total, segundo a opinião de diversos produtores do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os produtores já cogitam deixar a atividade por conta do alto custo de produção, impulsionado pela inflação do milho e a baixa remuneração pelo quilo do suíno.
A suinocultura da região Sul do Brasil, conhecida mundialmente por ser o berço da atividade no País, está perto de entrar em colapso total, segundo a opinião de diversos produtores do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os produtores já cogitam deixar a atividade por conta do alto custo de produção, impulsionado pela inflação do milho e a baixa remuneração pelo quilo do suíno.
Produtores dos três estados são categóricos ao afirmar que, se o
cenário não mudar imediatamente, os suinocultores estarão fadados à
falência em um prazo de no máximo 40 dias. Na visão deles, a situação é
ainda mais alarmante para os produtores independentes, que já não
conseguem arcar com as despesas e também não encontram mais linha de
crédito.
No Vale do Braço do Norte, uma das regiões onde se concentra a maioria dos produtores independentes de Santa Catarina, o alto custo de produção praticamente inviabiliza a atividade suinícola. Conforme o presidente da Regional, Adir Engel, a saca do milho custa ao suinocultor R$ 52,50 - valor semelhante a outras regiões do Sul do Brasil.
Ele também destaca a tendência de baixa no preço pago pelo quilo do suíno, que durante a semana era de R$ 3,20, mas com projeção de queda até o fim da semana. Em contrapartida, o preço para produzir passa da casa dos R$ 4,00 , o que representa um prejuízo entre R$ 90 e R$ 100,00 por animal de 100 Kg. “Infelizmente são fatores que fazem os produtores falar em abandonar a atividade. Alguns terminadores já disseram aos criadores de leitão que não pegarão mais animais, pois encerrarão a atividade. É preocupante a situação”, alerta.
Engel também enfatiza que a maioria dos suinocultores não tem mais dinheiro para pagar as contas, uma vez que as negociações de milho e soja são transações mediante pagamento à vista. “O produtor não sabe o que fazer. O que ele ganha não paga as contas. Não sabemos o que vai acontecer nos próximos dias porque o produtor está em desespero. Os bancos também já começam a restringir crédito para o setor”.
Com o cenário de dificuldade nos primeiros meses do ano, muitos produtores da região deixaram de fazer o ciclo completo para fazer apenas a terminação. “Isso reduziu bastante o número de matrizes de ciclo completo. O suinocultor só não abandona completamente a atividade porque a bovinocultura leiteira é muito forte na região. Vaca produz pelo o que ela come. Como o produtor sabe que a fértil irrigação nas pastagens é importante, ele não abandona a atividade”.
Já houve crises graves, mas nunca por causa do alto custo de produção, conforme analisa Engel, principalmente pelo alto volume de exportação do milho brasileiro e a baixa área de plantio no território nacional. “O estopim da crise é o alto custo de produção. É claro que o Governo Federal depende das exportações por conta da balança comercial. Só que em contrapartida, está se matando o produtor brasileiro”. Engel afirma que é muito mais fácil para o produtor de milho levar o cereal para o porto para ser exportado ao encarar a precariedade da malha viária brasileira.
Os suinocultores aguardam que o consumo interno de carne suína melhore após o período de quaresma. Contudo, como o grande entrave para a atividade na região Sul é a aquisição de milho e seu frete caro, Engel ressalta que o País precisa adotar medidas urgentes para baratear o cereal. “Talvez seja necessário também frear um pouco a exportação. Não podemos deixar o nosso produtor morrer”.
De acordo com o produtor de Guarapuava, no Paraná, Wienfried Mathia, a crise no Estado não se difere da catarinense. Ele avalia que a falta de diálogo entre os elos da cadeia produtiva agrava a situação. Nesse contexto, Mathia avalia que as agroindústrias deveriam colocar um preço mínimo pela carcaça do animal, com a tarifação tipo exportação. “Isso permitiria ao produtor cobrir o custo. Para isso deve haver um entendimento entre as agroindústrias e frigoríficos independentes”.
Mathia diz que muitos produtores não têm mais condições de comprar rações para manter o plantel, de modo que acabam expulsos da atividade. “O suinocultor não tem como suportar. Se ele for independente e não fez caixa nos últimos dois anos quando o preço estava bom, está numa situação muito mais grave”.
De acordo com o vice-presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS), Mauro Antonio Gobbi, ainda há oferta de milho no Estado e com preço melhor na comparação com o Paraná e Santa Catarina. Mas, de forma geral, ele avalia que as dificuldades enfrentadas pelos gaúchos são as mesmas, sendo que muitos suinocultores já pensam em desistir da atividade, mas não conseguem se desfazer do plantel. “Nós estamos em uma situação sem saída a não ser esperar essa crise passar”.
Contudo, apesar do momento conturbado, Gobbi acredita que a suinocultura irá se recuperar a partir do segundo semestre, assim como ocorreu em 2015, quando o setor começou o ano com dificuldades. “O setor deve se reequilibrar, mas vai ficar gente pelo caminho, que não vai conseguir arcar com os prejuízos até a estabilidade voltar”.
Mais caos
Conforme o produtor de Santa Catarina, Marcos Spricigo, a crise que afetou o setor entre os anos de 2011 e 2012 voltou à tona, mas com agravantes: o caos generalizado na economia brasileira associado ao sensível momento político.
Segundo ele, o consumidor tem medo de gastar por não ter segurança sobre o futuro do País, o que impacta também no consumo da carne suína e seus derivados. “Todo mundo está envergonhado e preocupado com todo esse caos político de Brasília. Outras atividades também estão sofrendo, como o pessoal da área de transporte”.
No Meio-Oeste do Estado o custo da saca de milho também passa os R$ 50,00. A remuneração ao suinocultor pelo quilo do animal está entre R$ 2,80 e R$ 3,10. “Esse fator torna a atividade insustentável, independente da eficiência ou não do produtor. Precisamos novamente da união da classe como fizemos em 2012, quando todas as associações do Brasil se juntaram em Brasília para lutar pela causa”, analisa. Ele garante que se o cenário atual permanecer por 30 dias, “nós não vamos mais ouvir falar em produtores de suínos”.
Spricigo explica que está ocorrendo o descarte das matrizes e que não são repovoadas. “Estão sendo cancelados todos os pedidos de matrizes até que a situação tenha uma melhor perspectiva”. Santa Catarina é reconhecida como o Estado que tem o melhor plantel de suínos quando o assunto é status sanitário. Contudo, pode ser a primeira a quebrar por falta de políticas públicas que viabilizem o setor.
Futuro
O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, avalia que o momento é desesperador, agravado principalmente pela briga política em Brasília. “Os políticos estão preocupados em não perder seus assentos. Para equilibrar a balança comercial e minimizar o déficit, o governo exporta tudo. A crise se agrava ainda mais para quem produz proteína animal”.
Losivanio também é categórico ao afirmar que se nenhuma atitude emergencial for adotada pelo governo, em breve, o Brasil terá de importar carne. “Todos pagarão de novo o alto custo desta proteína, pois a inflação será novamente a vilã neste País da impunidade e da incompetência de muitos políticos”.
No Vale do Braço do Norte, uma das regiões onde se concentra a maioria dos produtores independentes de Santa Catarina, o alto custo de produção praticamente inviabiliza a atividade suinícola. Conforme o presidente da Regional, Adir Engel, a saca do milho custa ao suinocultor R$ 52,50 - valor semelhante a outras regiões do Sul do Brasil.
Ele também destaca a tendência de baixa no preço pago pelo quilo do suíno, que durante a semana era de R$ 3,20, mas com projeção de queda até o fim da semana. Em contrapartida, o preço para produzir passa da casa dos R$ 4,00 , o que representa um prejuízo entre R$ 90 e R$ 100,00 por animal de 100 Kg. “Infelizmente são fatores que fazem os produtores falar em abandonar a atividade. Alguns terminadores já disseram aos criadores de leitão que não pegarão mais animais, pois encerrarão a atividade. É preocupante a situação”, alerta.
Engel também enfatiza que a maioria dos suinocultores não tem mais dinheiro para pagar as contas, uma vez que as negociações de milho e soja são transações mediante pagamento à vista. “O produtor não sabe o que fazer. O que ele ganha não paga as contas. Não sabemos o que vai acontecer nos próximos dias porque o produtor está em desespero. Os bancos também já começam a restringir crédito para o setor”.
Com o cenário de dificuldade nos primeiros meses do ano, muitos produtores da região deixaram de fazer o ciclo completo para fazer apenas a terminação. “Isso reduziu bastante o número de matrizes de ciclo completo. O suinocultor só não abandona completamente a atividade porque a bovinocultura leiteira é muito forte na região. Vaca produz pelo o que ela come. Como o produtor sabe que a fértil irrigação nas pastagens é importante, ele não abandona a atividade”.
Já houve crises graves, mas nunca por causa do alto custo de produção, conforme analisa Engel, principalmente pelo alto volume de exportação do milho brasileiro e a baixa área de plantio no território nacional. “O estopim da crise é o alto custo de produção. É claro que o Governo Federal depende das exportações por conta da balança comercial. Só que em contrapartida, está se matando o produtor brasileiro”. Engel afirma que é muito mais fácil para o produtor de milho levar o cereal para o porto para ser exportado ao encarar a precariedade da malha viária brasileira.
Os suinocultores aguardam que o consumo interno de carne suína melhore após o período de quaresma. Contudo, como o grande entrave para a atividade na região Sul é a aquisição de milho e seu frete caro, Engel ressalta que o País precisa adotar medidas urgentes para baratear o cereal. “Talvez seja necessário também frear um pouco a exportação. Não podemos deixar o nosso produtor morrer”.
De acordo com o produtor de Guarapuava, no Paraná, Wienfried Mathia, a crise no Estado não se difere da catarinense. Ele avalia que a falta de diálogo entre os elos da cadeia produtiva agrava a situação. Nesse contexto, Mathia avalia que as agroindústrias deveriam colocar um preço mínimo pela carcaça do animal, com a tarifação tipo exportação. “Isso permitiria ao produtor cobrir o custo. Para isso deve haver um entendimento entre as agroindústrias e frigoríficos independentes”.
Mathia diz que muitos produtores não têm mais condições de comprar rações para manter o plantel, de modo que acabam expulsos da atividade. “O suinocultor não tem como suportar. Se ele for independente e não fez caixa nos últimos dois anos quando o preço estava bom, está numa situação muito mais grave”.
De acordo com o vice-presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS), Mauro Antonio Gobbi, ainda há oferta de milho no Estado e com preço melhor na comparação com o Paraná e Santa Catarina. Mas, de forma geral, ele avalia que as dificuldades enfrentadas pelos gaúchos são as mesmas, sendo que muitos suinocultores já pensam em desistir da atividade, mas não conseguem se desfazer do plantel. “Nós estamos em uma situação sem saída a não ser esperar essa crise passar”.
Contudo, apesar do momento conturbado, Gobbi acredita que a suinocultura irá se recuperar a partir do segundo semestre, assim como ocorreu em 2015, quando o setor começou o ano com dificuldades. “O setor deve se reequilibrar, mas vai ficar gente pelo caminho, que não vai conseguir arcar com os prejuízos até a estabilidade voltar”.
Mais caos
Conforme o produtor de Santa Catarina, Marcos Spricigo, a crise que afetou o setor entre os anos de 2011 e 2012 voltou à tona, mas com agravantes: o caos generalizado na economia brasileira associado ao sensível momento político.
Segundo ele, o consumidor tem medo de gastar por não ter segurança sobre o futuro do País, o que impacta também no consumo da carne suína e seus derivados. “Todo mundo está envergonhado e preocupado com todo esse caos político de Brasília. Outras atividades também estão sofrendo, como o pessoal da área de transporte”.
No Meio-Oeste do Estado o custo da saca de milho também passa os R$ 50,00. A remuneração ao suinocultor pelo quilo do animal está entre R$ 2,80 e R$ 3,10. “Esse fator torna a atividade insustentável, independente da eficiência ou não do produtor. Precisamos novamente da união da classe como fizemos em 2012, quando todas as associações do Brasil se juntaram em Brasília para lutar pela causa”, analisa. Ele garante que se o cenário atual permanecer por 30 dias, “nós não vamos mais ouvir falar em produtores de suínos”.
Spricigo explica que está ocorrendo o descarte das matrizes e que não são repovoadas. “Estão sendo cancelados todos os pedidos de matrizes até que a situação tenha uma melhor perspectiva”. Santa Catarina é reconhecida como o Estado que tem o melhor plantel de suínos quando o assunto é status sanitário. Contudo, pode ser a primeira a quebrar por falta de políticas públicas que viabilizem o setor.
Futuro
O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, avalia que o momento é desesperador, agravado principalmente pela briga política em Brasília. “Os políticos estão preocupados em não perder seus assentos. Para equilibrar a balança comercial e minimizar o déficit, o governo exporta tudo. A crise se agrava ainda mais para quem produz proteína animal”.
Losivanio também é categórico ao afirmar que se nenhuma atitude emergencial for adotada pelo governo, em breve, o Brasil terá de importar carne. “Todos pagarão de novo o alto custo desta proteína, pois a inflação será novamente a vilã neste País da impunidade e da incompetência de muitos políticos”.
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