By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: PARANA PORTAL – Imagem: José Fernando Ogura/AEN
As embaixadas do Brasil na China e na Rússia reportaram, em
telegramas ao Itamaraty, problemas em alimentos brasileiros exportados.
Segundo diplomatas, autoridades nos dois países cobram soluções e há até
queixa por “falta de controle” em relação aos produtos brasileiros.Moscou, por exemplo, alertou para o índice de agrotóxico acima do
limite permitido. Só em 2020, a reclamação envolveu mais de 300 mil
toneladas de soja.
A missão em Pequim, por outro lado, relatou ao menos seis registros
de presença do novo coronavírus em embalagens de carne e de pescado.
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Nos telegramas, as duas embaixadas disseram que os órgãos de
fiscalização da Rússia e da China pediram providência ao Mapa
(Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
A Folha teve acesso a 350 páginas das correspondências enviadas ao
Ministério das Relações Exteriores. Os documentos foram obtidos por meio
da LAI (Lei de Acesso à Informação).
Segundo dados do Comex Stat, um sistema do governo para consultas e
extração de dados do comércio exterior brasileiro, a soja correspondeu a
25% da exportação brasileira para a Rússia em 2020.
Em um dos telegramas de janeiro, a embaixada do Brasil em Moscou cita
que o Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da
Rússia está preocupado com casos repetidos de detecção de glifosato
acima do tolerado.
O documento pontuou que o país está endurecendo o controle sobre a
presença da substância em produtos de grãos tanto no mercado interno
quanto nas operações de exportação e importação.
A justificativa usada pelo país seria por causa do alto grau de
toxicidade do glifosato para humanos e animais, confirmado por estudos
da OMS (Organização Mundial de Saúde).
No Brasil, esse tipo de agrotóxico é permitido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
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O telegrama assinado pelo embaixador na Rússia, Tovar da Silva Nunes,
citou que a agência reguladora russa tem informado repetidamente ao
Mapa sobre o fornecimento ao país de soja com níveis acima do permitido
desde 2019.
“O lado russo chamou a atenção dos colegas brasileiros para a
necessidade de tomar medidas corretivas o quanto antes”, escreveu o
diplomata.
Nunes acrescentou ainda que o desrespeito aos limites do agrotóxico
corresponde a uma violação aos requisitos do regulamento técnico da
União Aduaneira sobre a segurança dos grãos.
Segundo consta do telegrama, os resultados de verificação de
segurança de grãos importados pela Rússia constataram, em parte da soja
exportada no ano passado, teor de glifosato até 14,2 vezes superior ao
máximo de 0,15 mg/kg previsto nas exigências do regulamento técnico da
união aduaneira.
“O que aponta para a falta de controle estatal adequado por parte das
autoridades competentes do Brasil. Nesse sentido, Rosselkhoznadzor [a
vigilência russa] disse em comunicado que se reserva o direito de impor
uma proibição temporária à importação dos produtos em questão do
Brasil”, escreveu Nunes.
A Folha já publicou reportagem sobre o risco de o governo da Rússia
adotar restrições temporárias à importação de soja caso não fosse
reduzida a quantidade de pesticidas nos grãos importados do Brasil.
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Já os telegramas da embaixada em Pequim citaram a detecção do
coronavírus em produtos exportados ao país asiático no ano passado.
Em uma das correspondências, de novembro, o embaixador Paulo
Estivallet de Mesquita relatou que a aduana da China suspendeu um
estabelecimento brasileiro exportador de pescado.
A medida foi tomada em razão da não apresentação de medidas
corretivas após os produtos apresentarem resultado positivo para o vírus
causador da Covid-19.
“Na comunicação, a aduana chinesa afirma esperar que o Mapa atribua
importância à identificação do novo coronavírus em produtos exportados
pelo Brasil para a China e às não conformidades encontradas na auditoria
por videoconferência”, escreveu Mesquita.
De acordo com ele, o órgão “solicita, ademais, que as autoridades
brasileiras adotem medidas para investigar a causa da contaminação,
requeiram a adoção de medidas corretivas pelo estabelecimento e
notifiquem as referidas correções ao lado chinês, a fim de garantir a
segurança dos pescados exportados para este mercado”.
Também em novembro, Mesquita informou que a imprensa chinesa
intensificava as notícias que associavam o surgimento de novos casos de
Covid-19 em portos e aeroportos do país a contato com produtos
importados.
Ao falar especificamente do Brasil, citou ao menos cinco vezes em que
a mídia tratou da detecção do coronavírus em produtos importados da
cadeia de frio. Os casos ocorreram nas províncias de Hubei, Shanxi e
Shandong.
“A mídia chinesa continua a insistir na narrativa de que alimentos
importados da cadeia de frio apresentam alto risco de transmissão da
Covid-19, chegando mesmo a insinuar que o primeiro caso da epidemia, em
Wuhan, teria origem em produtos vindos de outros países”, escreveu o
embaixador.
O Mapa afirmou, por meio de nota, que rotineiramente são tratados temas similares na relação comercial entre países.
“Os dois pontos citados já foram analisados e continuamente são
monitorados entre o Brasil e os governos da China e Rússia. O fluxo
comercial desses países com o Brasil permanece fluído, sem interrupção”,
afirmou.
A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) disse, em nota, que
desenvolveu protocolo com o Hospital Israelita Albert Einstein, que
rege os cuidados adotados pelas empresas do setor, assim como a
legislação brasileira.
“Ambos protegem a saúde dos colaboradores e preservam a inocuidade
dos alimentos produzidos para o mercado interno e internacional.”
A entidade disse ainda que organizações técnico-científicas
relacionadas à saúde humana e à produção de alimentos realizaram
pesquisas que constataram que o risco de transmissão de Covid-19 por
embalagens é praticamente nulo.
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