By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: PORTAL BEM PARANA – Imagem: Divulgação
O procurador da república Deltan Dallagnol fez críticas ao sistema de justiça brasileiro, após a decisão do STF que anulou as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
determinadas pela Justiça Federal do Paraná, na Operação Lava Jato.
Dallagnol coordenou a força-tarefa da Operação Lava Jato, que
investigava crimes de corrupção na Petrobras e em outras estatais. Ele
chamou o sistema de “disfuncional”, “irracional” e disse que é um “jogo
de perde-perde para a sociedade”.“A decisão do STF de hoje expõe uma face de um sistema de justiça
criminal disfuncional: se o caso do ex-presidente Lula tivesse tramitado
em Brasília, teria sido anulado também.
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Ou seja, o desenho do sistema
brasileiro o torna um jogo de perde-perde para a sociedade”, disse
Dallagnol, em seu perfil no Twitter.
“No caso Lula, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) entendeu que a
Justiça Federal em Curitiba deveria julgar o caso. Ou seja, se o caso
tivesse tramitado em Brasília, o STJ teria anulado o caso em habeas
corpus, em decisão contra a qual não caberia recurso”, continuou o
procurador. “Se isso ocorresse, em seguida, o caso tramitaria em
Curitiba e seria novamente questionado nas instâncias superiores.
Sabemos o que sucederia: chegando ao STF, este remeteria o caso de novo
para Brasília, anulando mais uma vez a condenação”.
Dallagnol chamou o sistema de irracional. “Não havia como desenvolver
um processo que não fosse anulado, o que favorece a prescrição e a
impunidade. O sistema de justiça é extremamente irracional, para a
frustração de quem busca justiça no país da corrupção”, afirmou. “Um
complicador: em casos complexos, como os de corrupção e lavagem de
dinheiro, os fatos são praticados usualmente em diferentes lugares. Isso
permite construir argumentos que justificam a competência de diferentes
locais ou mesmo diferentes ramos de justiça”.
O procurador criticou o número de instâncias jurídicas possíveis. “A
razoabilidade de argumentos contrários sobre a “competência” (local do
caso), somado ao fato de que temos três (e não duas) instâncias
revisoras, sem possibilidade de recorrer contra a decisão favorável à
defesa em HC, aumenta exponencialmente anulações com base na
competência”, disse. “Nosso raciocínio envolveu a anulação por conta da
discordância de dois tribunais. Um terceiro, o Tribunal de Apelação,
poderia inserir um terceiro ciclo de anulação do processo nessa
história.
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Para Dallagnol, as anulações aumentam exponencialmente as chances de
prescrição, ou, na prática, de impunidade. “A irracionalidade desse
sistema, que privilegia a insegurança jurídica, é ampliada pelo fato de
que o que assegura a justiça do julgamento não é na verdade o lugar
territorial em que ele acontece, mas o embasamento da decisão nos fatos,
nas provas e na lei”, disse. “Assim, o apego a argumentos técnicos
sobre competência territorial, que sempre podem ser formulados em
diferentes direções, gira a roda de um sistema irracional que favorece a
impunidade e desfavorece a justiça”.
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