By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: PARANA PORTAL – Imagem: Sandro Nascimento
O prefeito de Guaratuba, Roberto Justus (DEM), está envolvido em uma polêmica após ficar inconformado com o número de votos que o pai, deputado estadual reeleito, Nelson Justus (DEM) recebeu na cidade. O chefe da administração municipal ameaçou uma demissão em massa dos comissionados da Prefeitura. O comunicado foi feito em um áudio encaminhado aos funcionários.
“Eu, na qualidade de prefeito e cabo eleitoral do deputado Nelson Justus, preciso repensar todo nosso trabalho e a nossa gestão. Por conta disso, pessoal, eu decidi exonerar todos vocês cargos comissionados do CC1 ao CC4”, disse.
Roberto
ficou indignado com os apenas 3.266 votos que o pai recebeu em
Guaratuba, que conta com 23.920 eleitores. No áudio, ele reclama que o
outro candidato da cidade Maurício Lense (PPS) teve uma votação mais
expressiva, com 6.098 votos.
Apesar da
baixa votação, Nelson Justus foi eleito com 38.349 votos em todo o
Paraná. Maurício Lense não conseguiu a cadeira na Assembleia
Legislativa. “Sabe aquele papo do não fez mais que a obrigação? Pois é. O
Nelson Justus não tem obrigação nenhuma com Guaratuba”, avaliou.
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Após a repercussão, Roberto Justus usou o Facebook na noite de segunda-feira para se explicar. Ele disse que foi “confrontado” com a “própria condição humana”, sentiu a dor de um filho que vê seu pai ser injustiçado e desabafou. Ressaltou as dificuldades de administrar uma cidade sem o apoio dos deputados estaduais. E destacou que a demissão em massa proposta no áudio não vai ocorrer. Diante do ocorrido, Roberto Justus decidiu desativar a conta nas redes sociais.
Leia a publicação do prefeito Roberto Justus na íntegra:
“Hoje fui confrontado com minha própria condição humana, senti a dor de um filho que vê seu pai ser injustiçado e desabafei…
E ao desabafar feri pessoas que não gostaria que fossem feridas, por isso venho aqui me retratar e me desculpar.
É que só estando dentro da vida pública
para entender o quanto é difícil administrar bem uma cidade, o quanto é
longo o caminho a ser percorrido para que obras aconteçam, e para tal, é
imprescindível a presença de um Deputado Estadual atuante, a apoiar nas
buscas por verbas e convênios com o Governo Estadual, a mandar projetos
de lei que atendam a nossa necessidade enquanto Município.
O meu pai, o Deputado Nelson Justus,
tem sido incansável por Guaratuba e cada um de nós é testemunha disso,
ainda que muitos tentem negar.
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No meu olhar de filho, ao ver os
resultados das urnas deste ano, entendi que ele deveria ter conseguido
muito mais votos de nossa cidade. Mas sua votação aqui foi de 3.266
votos. Essa ausência de reconhecimento nas urnas me feriu.
E também me fez pensar que estaria sugerindo uma reprovação à minha atuação na prefeitura.
Por isso gravei um áudio para os meus secretários falando em mudança de rumos e demissões em massa, o que não vai ocorrer.
Quanto ao meu desabafo, eu disse que os
que não votaram no meu pai foram ingratos e alguém me respondeu que
ninguém tem que ser grato a quem cumpre sua obrigação.
Pensando nessas palavras lembrei de uma
palestra do Professor português António Nóvoa, proferido no III
Encontro PIBID UNESPAR, em 2014, a qual assisti apenas por vídeo, mas
que me tocou profundamente, a qual dizia que: São Tomás de Aquino, em
seu Tratado sobre a Gratidão, ensina que a gratidão se faz em três
níveis.
O primeiro nível é o nível da
percepção; quando alguém se dá conta de que algo lhe foi feito, sem se
comover com isso; assim, de modo superficial.
O segundo é o nível do agradecimento que consiste em não só perceber, mas reconhecer, louvar e dar graças.
O terceiro é o nível mais profundo, o
nível da retribuição, do vínculo; neste nível, quem agradece se sente
vinculado àquele que fez, se sente comprometido a retribuir o outro.
E o Professor António explicou que em cada idioma é possível verificar o agradecimento em um dos três níveis:
No inglês e no alemão se agradece no
nível mais superficial. Quando se diz “thank you” ou “zu danken” o que
se faz é expressar o reconhecimento pelo favor concedido, de modo apenas
intelectual, cerebral, sem qualquer emoção.
Na maior parte das outras línguas,
prossegue ele, se agradece no nível intermediário. Por exemplo, ao se
falar “merci” em francês, “gracias” em espanhol ou “grazie” em italiano,
quem agradece está reconhecendo que recebeu uma graça, algo que toca o
seu coração, algo que o comove, é uma gratidão no nível emocional.
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E prossegue: já a formulação na língua
portuguesa: “obrigado” é a única que expressa o nível mais profundo de
gratidão. Quando agradecemos em nossa língua, queremos dizer fico
obrigado perante você, tenho uma obrigação com você, fico vinculado a
você, fico comprometido a retribuir-te com a mesma generosidade, a mesma
presteza, a mesma dedicação.
É claro que numa democracia cada um tem
o direito de depositar seu voto, sua confiança, sua representação em
quem quiser; é certo também que nosso representante ao ser legitimado
por nosso voto, deve trabalhar corretamente para fazer jus à procuração
recebida.
Mas num cenário em que poucos cumprem
bem o seu papel, agradecer de verdade, vincular-se, manter a
representatividade é o mínimo que podemos fazer por quem está nos
representando da melhor maneira possível.
E nesse ponto, fazer oposição cega,
votando em outro candidato, sem a mínima condição de se eleger, apenas
para tirar voto daquele que tem feito muito, é dar proveito a alguém em
particular, em detrimento do coletivo, é tentar tirar de cada um dos
munícipes a oportunidade de viverem em uma cidade melhor, onde o povo
tenha suas necessidades plenamente atendidas. É isso que me angustia.
De toda forma, mais uma vez peço
desculpas a quem feri. Reitero que sou Prefeito de todos os
guaratubanos, eleito pela maioria dos votos e estou aqui para continuar a
cuidar de nossa cidade e de nossa gente. Quero me despedir daqueles com
quem converso diariamente pelas redes sociais, coloco-me a disposição
para ouvi-los sempre que necessitarem; estarei me reunindo com vocês nos
bairros e pronto para recebê-los, à medida do possível, em meu
gabinete, ainda que tenhamos ideias opostas, porque sinceramente tenho
esperança que é possível, um dia, chegarmos a esse ponto de maturidade
política.
Roberto Justus”
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