By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: G1 – Imagem: Divulgação
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou por
unanimidade nesta quarta-feira (31) a Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) que estabelece eleições diretas se a Presidência da República
ficar vaga nos três primeiros anos do mandato. A eleição direta
ocorreria caso os cargos de presidente e vice-presidente fiquem vagos
até um ano antes do fim do mandato.
A oposição quer usar a PEC para que seja convocada uma eleição direta
caso o presidente Michel Temer venha a deixar o comando do Palácio do
Planalto ainda em 2017. Já os aliados do peemedebistas querem as
eventuais mudanças na carta constitucional tenham validade somente para
os mandatos futuros.
A CCJ é responsável por analisar se os projetos apresentados no Senado
ferem algum princípio da Constituição. Com o aval obtido dos integrantes
do colegiado, a PEC agora será enviada ao plenário do Senado.
Atualmente, a legislação prevê a realização de eleições diretas somente
se o presidente e o vice-presidente da República se afastarem do
comando do Palácio do Planalto nos dois primeiros anos do mandato.
Na hipótese de a Presidência ficar vaga no último biênio, a
Constituição estabelece que deve ser feita uma eleição indireta por meio
do Congresso Nacional em até 30 dias da data da vacância.
A PEC aprovada nesta quarta pela CCJ – apresentada no ano passado pelo
senador Reguffe (sem partido-DF) – altera o artigo constitucional que
trata da vacância da Presidência.
A proposta do parlamentar do Distrito Federal determina que, na
ausência definitiva do presidente e do vice, o Congresso elegerá
indiretamente o chefe do Executivo federal somente se a vacância ocorrer
no último dos quatro anos de mandato.
Divergência
A aprovação da PEC das Eleições Diretas na CCJ do Senado se deu a após
um acordo entre a base aliada do presidente Michel Temer e a oposição.
O relator do texto na comissão, senador Lindbergh Farias (PT-RJ),
chegou a apresentar um substitutivo (relatório paralelo ao do autor do
projeto) com mudanças que, teoricamente, permitiriam eleição direta já
em 2017, caso Temer deixe o Palácio do Planalto até o fim de dezembro.
No entanto, diante da ameaça de o colegiado aprovar um terceiro parecer
– elaborado pelo senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) –, o petista recuou e
recomendou a votação do texto original da PEC.
Entre outras alterações, o relatório redigido por Lindbergh, que nem
chegou a ir à votação, alterava um artigo do texto de Reguffe que
tratava sobre a entrada em vigor da mudança constitucional.
Há uma divergência entre governistas e oposicionistas sobre se a
eventual alteração na Constituição para especificar uma nova regra para
vacância da Presidência se enquadraria nas normas previstas para
alterações no processo eleitoral.
Se for considerada uma mudança no processo eleitoral, qualquer
modificação neste sentido, segundo a carta constitucional, precisa
entrar em vigor, pelo menos, um ano antes da data da eleição. Neste
cenário, mesmo se fosse aprovada neste ano, a PEC de Reguffe não teria
validade para uma eventual renúncia, cassação ou impeachment de Temer.
Por outro lado, os integrantes da oposição avaliam que a PEC de Reguffe
não propõe mudanças no processo eleitoral, e sim sobre vacância da
Presidência. Com base nesta interpretação, os oposicionistas acreditam
que a emenda constituonal das eleições diretas já valeria para uma
eventual saída do atual presidente da República em 2017.
A versão original da PEC do parlamentar do Distrito Federal diz que a
alteração na Constituição passa a valer "na data de sua publicação".
Já o substitutivo de Lindbergh destacava que a mudança constitucional
entraria em vigor na data de sua publicação, "não se aplicando o
disposto no art. 16 da Constituição Federal", que faz referência às
alterações no processo eleitoral.
E trazia ainda um parágrafo único com a seguinte redação: "A Emenda
Constitucional aplica-se, desde logo, às situações de vacância cujos
processos eleitorais não tenham sido concluídos".
Ao final da votação na CCJ, integrantes da base de Temer e
parlamentares da oposição deixaram a sessão com interpretações distintas
sobre a entrada em vigor da PEC, caso venha a ser promulgada pelo
Congresso Nacional.
Na visão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), a PEC das Eleições Diretas não valerá para o governo atual.
"Se for a PEC das diretas para o futuro, como legalmente deve ser, eu
defendo, porque uma mudança para agora é inconstitucional. Qualquer
forma de mudança na legislação eleitoral tem que ser feita um ano antes
de qualquer movimentação eleitoral. A oposição reconheceu hoje na CCJ
que essa PEC só terá validade para um próximo presidente eleito, para
uma próxima chapa eleita. Acho que é um bom mecanismo se for preciso no
futuro", enfatizou Jucá.
Os oposicionistas, entretanto, argumentam que há jurisprudência no
Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo eles, garantiria que o
artigo 16 da Constituição (sobre mudanças no processo eleitoral) não se
enquadraria na PEC de Reguffe.
Na avaliação de Lindbergh Farias, processo eleitoral é a convenção, a
escolha dos candidatos, o processo de votação, e depois a apuração do
pleito. O senador petista citou a Lei da Ficha Limpa como exemplo de que
é possível fazer a PEC das Eleições Diretas valer já neste ano em uma
eventual vacância do Palácio do Planalto.
O parlamentar destacou nesta quarta-feira à TV Globo que a Lei da Ficha
Limpa – que impede que condenados em 2ª instância disputem cargos
eletivos – foi aprovada apenas seis meses antes da eleição de 2010 e já
teve efeito nas eleições daquele ano.
"Supremo vai decidir. Eu acho, a gente tá convencido, de que é a nosso
favor", ressaltou o parlamentar oposicionista, referindo-se à
possibilidade de os ministros da Suprema Corte virem a analisar uma
eventual ação que conteste a constitucionalidade da emenda proposta por
Reguffe.
Próximos passos
Por se tratar de uma alteração na Constituição, a proposta terá de ser
aprovada em dois turnos pelo Senado com os votos de, pelo menos, 49
senadores (equivalentes a 3/5 dos 81 parlamentares da Casa. Se for
aprovada, seguirá para análise da Câmara, também em dois turnos.
A inclusão da PEC das Eleições Diretas na pauta de votações do plenário
principal do Senado depende de decisão do presidente da Casa, Eunício
Oliveira (PMDB-CE). Tradicionalmente, as propostas entram na fila de
votações do Senado após acordo entre os líderes das bancadas.
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