By: INTERVALO DA NOTICIAS
Texto: UOL – Imagem: Divulgação
Em reunião na noite desta segunda-feira (12), três
dias depois do julgamento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que livrou o
presidente Michel Temer (PMDB) da cassação, a cúpula do PSDB decidiu permanecer
na base aliada do governo federal. O encontro aconteceu na sede nacional do
partido, em Brasília.
Desde o início da crise política que atingiu o governo
Temer, quando foram divulgadas as primeiras informações sobre as delações
premiadas dos executivos do grupo J&F, no dia 17 do mês passado, os tucanos
estabeleceram a data do julgamento como limite para a definição sobre o apoio a
Temer, que se tornou alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) e é
suspeito de cometer os crimes de corrupção passiva, organização criminosa e
obstrução de Justiça.
"O PSDB não fará nenhum movimento agora no
sentido de sair do governo. A decisão foi de que os ministros não sairão do
governo", declarou o senador José Serra (SP), que afirmou que a reunião
foi realizada em total "clima de harmonia". "Se for o caso, em
outro momento se analisa".
Serra, que foi ministro das Relações Exteriores do
governo Temer, avaliou que o momento agora é de trabalhar pelo país. "É um
governo que tocou adiante compromissos que assumiu conosco. E isso é visto como
algo positivo", completou o senador, revelando que o tema das eleições
indiretas não foi discutido na plenária.
"Nós temos um compromisso com o Brasil. Não vai
ser simplesmente chutando o balde agora que vamos ajudar o país a reencontrar o
seu rumo", afirmou o ex-prefeito de Sorocaba (SP) e ex-deputado federal
Antonio Carlos Pannuzio. "Não podemos virar as costas para o Brasil".
Presidente interino da sigla, Tasso Jereissati (CE)
acatou a decisão da maioria, mas admitiu que sua opção era outra. "Minha
posição [sobre entregar os cargos] foi vencida. Não houve consenso da
maioria", admitiu o senador, que também viu falta de coerência entre os
tucanos. "Com certeza existe uma incoerência nisso, mas foi a incoerência
que a história nos colocou".
O desembarque, porém, ainda poderá ser cogitado. Os
tucanos admitem a possibilidade de se reunir novamente e repensar a decisão de
permanecer na base aliada assim que a PGR (Procuradoria-Geral da República)
apresentar uma denúncia formal contra o presidente no STF (Supremo Tribunal
Federal). Políticos acreditam que o procurador-geral Rodrigo Janot pedirá a
abertura de processo contra Temer na próxima semana.
"Chegando a denúncia contra Temer, será um fato
novo, que merecerá outra reunião", afirmou Pannuzio.
Presidente interino do PSDB, o senador Tasso
Jereissati (CE) disse que não existe qualquer decisão de fechar questão com
relação à apreciação de eventual denúncia contra Temer na Câmara."Como a
bancada tem posições diferentes, vai ser uma voto de consciência e não de
partido".
Elite do
partido reunida
Comandada por Tasso Jereissati, a reunião durou mais
quatro horas, com discursos de vários políticos presentes, entre governadores,
ministros, senadores e deputados.
Entre os discursos mais enfáticos pela permanência do
PSDB no governo estiveram as dos paulistas Geraldo Alckmin, governador do
Estado, e João Doria, prefeito da capital. Cogitados a representar o partido na
eleição presidencial de 2018, ambos defenderam que o partido deve se manter na
base com o objetivo principal de aprovar as reformas que estão em tramitação no
Congresso.
"Há consciência no PSDB de que é preciso agir
positivamente. Nesse momento, o pensamento majoritário, respeitando as posições
contrárias, foi de manter o apoio ao governo, às políticas de reforma, e aos
quatro ministros que lá estão", declarou o prefeito de São Paulo. Doria
afirmou, no entanto, que essa posição será reavaliada sempre que necessário.
Sobre
a eventual denúncia contra Temer, ele disse que o partido vai "avaliar
diariamente". "Ficou muito claro que não há nenhuma posição
definitiva, nem um cheque endossado até o final do governo", disse.
"Oportunamente, isso deve ser discutido", completou.Com a terceira
maior bancada do Congresso, com 10 senadores e 47 deputados federais, a legenda
é a principal aliada do PMDB no governo federal. O partido tem quatro
ministros: Bruno Araújo (Cidades), Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo),
Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) e Luislinda Valois (Secretaria de
Direitos Humanos. Todos eles compareceram ao encontro.
Entre
lideranças nacionais presentes na reunião, estavam também governadores como Beto
Richa (Paraná), Marconi Perillo (Goiás) e Simão Jatene (Pará), senadores como
Paulo Bauer (SC), Ricardo Ferraço (ES) e Antônio Anastasia (MG) e vários
deputados federais, como Ricardo Trípoli (SP), líder da bancada na Câmara,
Silvio Torres (SP), secretário-geral do partido, Rogério Marinho (RN), Betinho
Gomes (PE) e Miguel Haddad (SP).O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o
senador afastado Aécio Neves (MG) não participam do encontro. O mineiro foi
afastado de suas funções no Senado e se licenciou da Presidência nacional do
partido no dia 18 do mês passado.
No
último dia 2, ele foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por
corrupção passiva e obstrução de Justiça. Desde então, o tucano não fez nenhuma
aparição pública. No STF, há um pedido de prisão pendente contra ele. O relator
do processo é o ministro Marco Aurélio Mello, que assumiu após o desmembramento
do processo contra Temer e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) --este
na mão do ministro Edson Fachin, relator da operação Lava Jato na Corte.
Senador defende desembarque
Relator
da reforma trabalhista proposta pelo governo Temer em duas das três comissões
no Senado em que o projeto precisa tramitar antes de ir à votação no plenário
--de Assuntos Econômicos e Assuntos Sociais--, o senador Ricardo Ferraço
defendeu antes de entrar na reunião que o PSDB entregasse os cargos no governo
federal por conta das "denúncias devastadoras" contra o peemedebista.
"É
uma crise insustentável, as denúncias são devastadoras, e o governo não encontrará
tempo para se organizar em torno da agenda que nós precisamos. Todo o tempo do
governo será dedicado à sua defesa, e isso compromete esse processo e a
evolução das reformas que o Brasil necessita", declarou Ferraço.
"Nós
precisamos olhar para a vida como ela é e não como nós gostaríamos como ela
fosse. Toda vez que você tem fatos, e quando eles são fortes como são, nós
precisamos rever as nossas crenças. Então não dá para você olhar para o
ambiente e achar que somente a preocupação com o dia seguinte deve se
estabelecer num momento como esse. Os fatos indicam que, na prática, o partido
deve entregar os cargos para que a gente possa continuar lutando pelas
reformas", argumentou o senador.
Apesar
das divergências, os tucanos se dispuseram a acatar a decisão da maioria.
"Foi uma reunião extremamente aberta. Todos puderam falar", descreveu
o deputado Ricardo Trípoli, líder da bancada do PSDB na Câmara. "Todos os
que falaram disseram que vão se submeter à posição do partido."
"Responsabilidade"
Desde
o início da crise, "responsabilidade" tem sido a palavra de ordem
para a maioria dos tucanos, principalmente aos que integram a cúpula do
partido. Logo depois de assumir o lugar de Aécio, Jereissati (CE), divulgou
nota informando que, "mantendo sua responsabilidade com o país, que
enfrenta uma crise econômica sem precedentes, o PSDB pediu aos seus quatro
ministros que permaneçam em seus respectivos cargos".
No
comunicado, a decisão foi condicionada a "enquanto o partido, assim como o
Brasil, aguarda a divulgação do conteúdo das gravações dos executivos da
JBS", o que ocorreu no dia seguinte.
Naquele
dia, Ricardo Trípoli (SP) chegou a informar, após reunião da bancada da Câmara,
que pediria que os ministros tucanos deixem seus cargos no governo federal caso
as denúncias contra o presidente Temer fossem confirmadas.
O deputado federal João Gualberto (PSDB-BA), um dos
oito parlamentares tucanos que protocolaram um pedido de impeachment de Temer
na ocasião, afirmou que o partido "tem que ter coerência" diante da
crise política causada pela delação do dono da JBS, Joesley Batista. "O
PSDB praticamente ficou à frente do impeachment de Dilma [Rousseff,
ex-presidente deposta no ano passado]. Não pode ser diferente agora",
declarou.
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